A bacia do São Francisco tem menor recuperação em abril! O que diz a previsão para o início do período seco no Nordeste?

Mesmo com boa recuperação nos reservatórios da bacia do São Francisco, volumes podem não chegar em uma situação confortável no final do período seco. As chuvas do próximo mês serão capazes de manter a segurança hídrica?

Reservatório
Reservatórios do Nordeste receberam uma ótima recarga em decorrências das chuvas neste final do período chuvoso. O que esperar para o mês de maio? Foto: Reprodução.

O período chuvoso da região Nordeste está chegando ao fim com um cenário esperançoso! No estado do Ceará, dos 157 açudes monitorados pela Cogerh, 73 estão sangrando, e outros 9 estão com capacidade acima de 90%. Entre janeiro e abril deste ano, o maior reservatório do estado, o Castanhão, teve recarga equivalente a 919 bilhões de litros de água, considerado o maior aporte em 2024.

Outro estado destaque é o da Paraíba, que 30 reservatórios já atingiram a capacidade máxima e transbordaram. O maior reservatório do estado é o Epitácio Pessoa, localizado no município do Boqueirão, e atualmente está com 61.8% de capacidade. No estado vizinho, Rio Grande do Norte, o acumulado total é de 3,37 bilhões de metros cúbicos, representando 74,47% da capacidade total do estado, estimada em 4,52 bilhões de metros cúbicos.

Estes dados trazem uma sensação de alívio para a população, visto que alguns dos reservatórios do Nordeste estavam há mais de 10 anos sem atingir a sua cota máxima. Ou seja, representa segurança hídrica para a população, principalmente porque estamos nos aproximando do período seco. Mas estes volumes podem não chegar em uma situação tão confortável no final do período seco.

A bacia do São Francisco teve uma menor recuperação em Abril

De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR) da Agência Nacional de Águas (ANA), a região Nordeste acumula um volume equivalente de 58,2%, contra 51,6% registrado em abril do ano passado. A disponibilidade hídrica está diretamente ligada com a capacidade de gerar energia elétrica.

A Energia Armazenada (EAR) representa a energia associada ao volume de água precipitável nos reservatórios, já que a fonte hidráulica corresponde a 50% da matriz da energia elétrica brasileira.

A Bacia do São Francisco é a mais extensa do país, ocupando uma área de 639.219,4 km² e representa 96,9% do subsistema elétrico do Nordeste. Ela está dividida em alto São Francisco, onde está inserido reservatório de Três Marias, porção média da bacia, onde fica localizado Sobradinho, o submédio e o baixo São Francisco, onde ficam os reservatórios de Itaparica e Xingó.

Energia Armazenada
Energia armazenada (%) no subsistema Nordeste e representação dos reservatórios da bacia. Fonte: ONS.

Embora o subsistema Nordeste tenha apresentado uma alta recarga dos reservatórios a partir de janeiro deste ano, neste mês de abril, a Bacia do São Francisco teve uma menor recuperação. Como estamos entrando no período seco, compreendido entre maio e outubro, é natural que os reservatórios tenham diminuição no volume devido a menor ocorrência de chuvas.

Por isso é importante fechar o período chuvoso com um volume hídrico confortável, mas é claro que isto depende do regime de chuvas na região da Bacia do São Francisco, principalmente nas partes mais altas da bacia.

Tchau El Niño!

Mas antes de começar a falar sobre a precipitação, precisamos saber quais mecanismos climáticos estão atuando na região Nordeste. Como já havíamos notificado aqui na Meteored Brasil, o El Niño segue ativo no Oceano Pacífico Tropical, embora bem menos intenso e caminhando para o fim do seu reinado. Já é possível observar águas mais frias que o normal em superfície, principalmente próximo a costa da América do Sul.

TSM
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar. Fonte: NOAA

Para os próximos meses, a tendência é de anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), ou seja, predominância de águas mais quentes no Atlântico tropical. E no Pacífico, podemos esperar o surgimento de águas mais frias na superfície, desde a costa da América do Sul até a porção central.

Mas isso ainda não quer dizer que a La Niña já se formará em maio, pois é necessário a permanência dessas anomalias negativas, abaixo de 0,5°C, numa média móvel de 3 meses. De modo feral, o Atlântico tropical continua sendo o grande modulador do clima no Nordeste.

Chuvas tendem a ficar dentro da média na bacia do Velho Chico

De acordo com as projeções mais recentes do modelo ECMWF, o mês de maio será marcado por anomalias positivas de precipitação no Nordeste, desde o litoral do Maranhão e Pernambuco, com anomalias entre 50 e 100 mm. Na região do alto São Francisco, entre Minas Gerais e Bahia, a tendência é de chuvas dentro da média climatológica.

Climatologicamente, os acumulados de precipitação nessa porção do alto São Francisco ficam em torno de 20 e 30 mm. Ou seja, é um valor baixo se comparado com os meses de dezembro e janeiro, quando são registrados até 200 mm nesta região.

Na porção interiorana do Nordeste, também são esperadas chuvas dentro ou levemente acima da média climatológica. É válido lembrar que quanto maior a extensão da previsão, menor será a assertividade da previsão, ou seja, diminui a confiabilidade do modelo. Por isso, seguiremos atentos às futuras atualizações do modelo nas próximas semanas.