Brasil confirma as primeiras mortes por febre do Oropouche no mundo

Duas mulheres vieram a óbito pela febre do Oropouche no estado da Bahia. Elas não tinham comorbidades, e apresentaram sintomas parecidos com quadros graves de Dengue. Um terceiro óbito está em investigação no Paraná.

ebre do Oropouche
Primeiras mortes registradas no mundo pela febre do Oropouche ocorreram no Brasil, no estado da Bahia. Outro óbito suspeito está sendo estudado.

Dois óbitos foram registrados no estado da Bahia, com a causa confirmada pela febre do Oropouche, segundo a nota da Secretaria de Saúde da Bahia. Duas mulheres, abaixo dos 30 anos, sem comorbidades e não gestantes apresentavam sintomas parecidos com os vistos em casos graves de dengue.

“Os óbitos apresentaram sintomas como: febre, cefaleia, dor retroorbital, mialgia, náuseas, vômitos, diarreia, dores em membros inferiores, astenia. Evoluíram com sinais mais graves como: manchas vermelhas e roxas pelo corpo, sangramento nasal, gengival e vaginal, sonolência e vômito com hipotensão, sangramento grave, apresentando queda abrupta de hemoglobina e plaquetas”, disse a SES-BA em nota, para a reportagem do jornal O Globo

Um terceiro óbito está em análise, no estado do Paraná, mas o local da provável transmissão (se confirmada) poderá ter sido em Santa Catarina, segundo nota da Secretaria de Saúde de Santa Catarina.

A febre do Oropouche

A febre do Oropouche é causada por um vírus (Orthobunyavirus oropoucheense - OROV), transmitido a partir da picada de insetos infectados (arbovírus), como os mosquitos-pólvora ou maruim (Culicoides paraenses), sendo o vetor principal.

No ciclo urbano, existe a possibilidade de transmissão pelos mosquitos Culex quinquefasciatus, mas que ainda precisa de maior compreensão desse papel, segundo o Ministério da Saúde.

Sintomas

Os sintomas da doença são parecidos com outras arboviroses, como Dengue e Chikungunya. Dessa forma, é importante que, tanto os pacientes, quanto os profissionais de saúde estejam atentos e busquem métodos de diagnóstico diferencial, como testagem.

Segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, no geral, os sintomas na fase aguda da doença consistem em:

  • Febre de início súbito;
  • Cefaleia (dor de cabeça);
  • Mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular);
  • Tontura;
  • Dor retro ocular (atrás dos olhos);
  • Calafrios;
  • Fotofobia (grande sensibilidade a luz);
  • Náuseas e vômitos

Em alguns casos, existe o risco de acometimento do sistema nervoso, podendo causar meningites e meningoencefalites.

Transmissão Vertical

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) emitiu um alerta epidemiológico sobre a possibilidade de transmissão vertical da febre do Oropouche. Há pelo menos seis casos em investigação pelo Ministério da Saúde, no país, segundo a reportagem da BBC.

Transmissão vertical é quando um patógeno, por exemplo um vírus, é capaz de se transmitir a partir da mãe para o bebê durante a gestação

Segundo a reportagem, um dos casos teve aborto espontâneo, dois casos evoluíram para morte fetal, e três casos apresentaram anormalidades como microcefalia. Segundo a OPAS, não é a primeira vez que se observa infecções por OROV em gestantes culminando com alterações no curso gestacional.

Em 1982, alguns casos foram acompanhados, com dois casos evoluindo para aborto espontâneo, já sugerindo a possibilidade da transmissão vertical, embora na época não houvesse a disponibilidade de testes moleculares confirmatórios.

Análises estão sendo feitas pelas autoridades de saúde do país para entender se o vírus, de fato, pode realizar esse tipo de transmissão.

Cuidados no momento

Com a ampliação de testagem para a febre do Oropouche no país, em 2023, é de grande importância seguir rastreando possíveis casos dentro e fora da região Amazônica, uma vez que já se tem a confirmação de casos autóctones em outros estados, como Bahia, Espírito Santo e Piauí.

O caso autóctone é quando o indivíduo contrai a doença dentro da área onde ele reside e não a partir de viagens para uma área onde conhecidamente há casos da doença, por exemplo

Ainda, segundo a OPAS, é necessário que as autoridades de saúde e governos locais:

  • investiguem a possibilidade de outros vetores em centros urbanos (ex.: Culex quinquefasciatus);
  • promovam a conscientização para boas práticas que evitem o acúmulo de resíduos orgânicos, coleções de água, que possam propiciar criadouros de mosquitos;

Outras ações também relevantes que constam no documento da OPAS, e que devem ser reforçadas em áreas com registros de casos da doença, principalmente no caso de pessoas vulneráveis, imunocomprometidas ou gestantes, são:

  • Uso de roupas que cubram braços e pernas;
  • Uso de repelentes contendo DEET, IR3535 ou icaridina (e tomar muito cuidado com os rótulos e a população que pode usar esses repelentes);
  • Uso de mosquiteiros para quem dorme durante o dia (grávidas, bebês, pessoas enfermas ou acamadas, idosos, por exemplo);
  • Em situações de surto, evitar atividades ao ar livre durante o amanhecer e o anoitecer, quando há maior atividade dos mosquitos;

Com o agravamento da crise climática, trazendo temperaturas maiores e alterações nos padrões de chuva, por exemplo, podemos ver a expansão de arboviroses para outras regiões, trazendo surtos de maior magnitude. Portanto, é de grande importância buscar estratégias de mitigação para cenários atuais e futuros.