BiMoV: alerta de novo vírus no Brasil que afeta o desenvolvimento das plantas

Pesquisadores da USP detectaram pela primeira vez no Brasil o Bidens mottle virus (BiMoV), infectando Zinnia sp. e Bidens pilosa. A descoberta alerta para a necessidade de monitoramento contínuo e estratégias de manejo agrícola eficazes.

Virus, Agricultura, Brasil
Plantas de Zinnia sp (A, B). infectadas com o vírus Bidens mottle apresentando sintomas de mosaico, deformação foliar e variegamento das flores. Plantas de picão-preto (C e D) infectadas mostrando sintomas. Fonte: Favara, G (2023)

Em uma descoberta inédita, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram pela primeira vez no Brasil o Bidens mottle virus (BiMoV), um potyvírus que infecta plantas ornamentais e daninhas, como Zinnia sp. ( popularmente zínia, viúva-regateira ou benedita) e Bidens pilosa (Picão, Picão-preto, Carrapicho-de-agulha). Esse achado, publicado na revista Scientia Agricola destaca a importância de monitorar e entender a disseminação de novos patógenos agrícolas no país.

A pesquisa teve início quando plantas de Zinnia sp. e Bidens pilosa apresentando sintomas de infecção viral foram encontradas próximas a um pomar de maracujá em Santa Bárbara d’Oeste, no estado de São Paulo. As plantas mostravam sinais como mosaico, deformação foliar e variegamento das flores. A análise laboratorial confirmou a presença do BiMoV, um vírus que até então só havia sido relatado nos Estados Unidos e Taiwan.

Detalhes inéditos sobre o vírus: características e riscos do BiMoV no Brasil

O Bidens mottle virus pertence à família Potyviridae, conhecida por sua capacidade de infectar uma ampla variedade de plantas. Esse vírus foi inicialmente identificado nos Estados Unidos nos anos 1960 e, desde então, tornou-se um fator limitante para a produção de várias culturas, incluindo alface e endívia.

Agricultura, Zinnia, Brasil
Flores coloridas de Zinnia sp.

A equipe de pesquisa utilizou técnicas avançadas, como a reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) e sequenciamento de alta performance, para caracterizar biologicamente e molecularmente o isolado brasileiro do BiMoV, nomeado BiMoV-BR.

Os resultados mostraram que o genoma do BiMoV-BR possui 9700 nucleotídeos, compartilhando 95,6% de identidade com um isolado dos Estados Unidos.

A transmissão do BiMoV-BR foi confirmada tanto mecanicamente quanto através de afídeos, especificamente Myzus persicae, com uma eficácia de transmissão de 8% utilizando um afídeo e 42% utilizando dez afídeos por planta. Essa capacidade de transmissão por insetos destaca o potencial do vírus em se espalhar rapidamente entre as plantações, representando uma ameaça significativa para a agricultura.

Myzus, Agricultura, Brasil, Virus
Myzus persicae, conhecido como pulgão verde.

O primeiro relato do Bidens mottle virus no Brasil é um marco significativo para a fitopatologia e a agricultura no país. A pesquisa fornece informação valiosa sobre a biologia e a transmissão deste vírus, destacando a necessidade de vigilância contínua e estratégias proativas de manejo para proteger as plantações e garantir a segurança alimentar.

O potencial destrutivo do BiMoV para a agricultura Brasileira

Os testes revelaram que o BiMoV-BR pode infectar sistemicamente várias espécies de plantas, incluindo girassol e alface, além de Zinnia sp. e Bidens pilosa. No entanto, é importante notar que algumas espécies, como a alface tipo 'americana' e 'japonesa', não apresentaram infecção sistêmica.

Além das plantas já mencionadas, o Bidens mottle virus pode infectar outras culturas importantes. Entre as plantas hospedeiras conhecidas estão alface, endívia, girassol, tabaco, feijão-de-lima, e crisântemo. Plantas ornamentais e algumas espécies de plantas daninhas também são suscetíveis à infecção pelo BiMoV.

A identificação do BiMoV no Brasil alerta para a necessidade de monitoramento contínuo e estratégias de manejo para impedir a disseminação deste patógeno. A detecção precoce e a caracterização molecular são cruciais para desenvolver medidas de controle eficazes e mitigar os danos potenciais às culturas agrícolas.

A descoberta também ressalta a importância de colaborações entre instituições de pesquisa e agricultores para o monitoramento de doenças emergentes. Estudos adicionais são necessários para avaliar a distribuição do BiMoV no Brasil e seu impacto em outras culturas de importância econômica.

Para os agricultores e profissionais da área, estar ciente dessa nova ameaça e adotar práticas de manejo integradas pode ajudar a minimizar os impactos do BiMoV e garantir a saúde das culturas. A comunidade científica continuará a monitorar e investigar este vírus, contribuindo para um setor agrícola mais resiliente e sustentável.

Referências da notícia:
Favara, G. M., Ferro, C. G., Bello, V. H., Oliveira, F. F. D., Kraide, H. D., Ribeiro Junior, M. R., ... & Rezende, J. A. M. (2023). First occurrence of bidens mottle virus in Brazil: biological and molecular characterization of isolates infecting Zinnia sp. and Bidens pilosa. Scientia Agricola, 81, e20230078.