Novo estudo revela: algumas aves marinhas perseguem os furacões no Atlântico Norte

Um recente estudo publicado revela que as aves marinhas Petréis Desertas perseguem os grandes ciclones tropicais no Atlântico Norte para se beneficiar de diversas maneiras, aproveitando as condições atmosféricas e oceânicas associadas a essas poderosas tempestades.

Ave marinha
Ave Petréis Desertas (Pterodroma deserta) sobrevoando o oceano Atlântico Norte.

Um recente estudo, publicado na última terça-feira (09) na revista Current Biology, mostra que as aves Petréis Desertas (Pterodroma deserta), encontradas principalmente no Atlântico Norte, possuem um comportamento incomum durante a temporada de furacões.

Diferente de outras aves marinhas, essas aves petréis não evitam os ciclones tropicais intensos que atuam sobre o oceano, elas na verdade utilizam as condições dinâmicas associadas ao ciclone em seu benefício, para facilitar o seu deslocamento no oceano aberto e a sua caça!

Quando vimos os dados, quase caímos da cadeira. Esta é a primeira vez que observamos esse comportamento - disse o principal autor do estudo, Francesco Ventura

O principal autor do estudo, Francesco Ventura, pesquisador de pós-doutorado em biologia no Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI, sigla inglês), diz que os estudos passados e mais iniciais sugeriam que as aves marinhas circunavegavam os ciclones ou procuravam refúgio no olho da tempestade (região mais calma e estável dos ciclones tropicais). Porém, as aves Petréis Desertas do estudo não fizeram isso, ao invés disso seguiram o ciclone durante dias, percorrendo milhares de quilômetros.

Dinâmica dos ciclones facilita a caça das aves Petreis Desertas

De acordo com a análise feita pela cientista Caroline Ummenhofer, outra colaboradora da pesquisa, ao fazer a sobreposição das viagens de forrageamento - busca por alimento - dos petréis com as correntes de ventos, o resultado impressiona, pois possuem uma alta correspondência, o que mostra que essas aves sabem explorar bem as condições do vento em grande escala sobre o oceano Atlântico Norte.

As aves estudadas costumam se alimentar de pequenos peixes, lulas e crustáceos, que normalmente vivem em profundidades entre 150 a 900 metros. Como as aves não conseguem mergulhar até essas profundidades, elas precisam esperar até o anoitecer, que é quando esses pequenos animais surgem na superfície. Porém, o estudo também revelou que os petréis seguem os furacões pois esses pequenos animais se acumulam mais próximos da superfície do mar após a passagem de uma tempestade tropical ou furacão!

Exemplificação da dinâmica de um furacão no oceano. O furacão se desloca pela água mais quente e seus ventos sobre a água misturam a camada superficial quente com a água profunda mais fria. (Natalie Renier, Instituição Oceanográfica Woods Hole).

Portanto, essa pesquisa mostra que o rastro dos ciclones sobre o oceano proporcionam melhores condições para a caça das aves, já que a passagem do ciclone proporciona quedas acentuadas na temperatura da superfície do mar e um intenso aumento da clorofila superficial. Estas mudanças causam uma maior mistura e produtividade oceânica, o que presumivelmente aumenta a abundância de presas e a acessibilidade para petréis que se alimentam na superfície.

Outros benefícios dos eventos extremos climáticos para as aves

Durante as análises de dados, os cientistas verificaram também que as aves ao encontrarem ventos intensos na atmosfera reduziam a sua velocidade base, provavelmente por saberem que os ventos auxiliam no seu trajeto e assim poupam seu gasto de energia. Além disso, os pesquisadores se impressionaram que durante o estudo nenhuma das aves que eles monitoravam foram prejudicadas pelas tempestades ou acabaram desistindo de seus ninhos.

A cientista Caroline Ummenhofer também afirma que, a partir de agora, a biologia tem uma nova perspectiva sobre o impacto de furacões nos ecossistemas marinhos através desses animais que estão no topo da sua cadeia alimentar. Pois essas novas informações valiosas podem confirmar a resiliência das aves marinhas pelágicas diante de eventos extremos, além de revelar como esses animais adaptam suas estratégias de forrageamento no ambiente oceânico e como utilizam da dinâmica oceânica e atmosférica para seu benefício próprio.

Referência da notícia:

Ventura, Francesco, et al. "Oceanic seabirds chase tropical cyclones." Current Biology (2024).