Com o fim do El Niño e uma La Niña à vista, como será o clima deste inverno no Brasil?

Sem o El Niño ou La Niña, outros padrões irão influenciar o clima do inverno no Brasil. As previsões indicam que o próximo trimestre poderá ser mais seco e quente em grande parte do país.

Previsão inverno Brasil
O que esperar do inverno que se inicia no Brasil nos próximos dias? Será que a estação mais fria do ano será rigorosa ou não?

O inverno começa oficialmente no dia 20 de junho e termina no dia 22 de setembro, embora que, de acordo com a climatologia, já estamos vivendo um clima de inverno no Brasil desde o início de Junho. Porém, conforme pudemos observar nesses primeiros dias de Junho, o inverno tem iniciado de forma bem atípica, com temperaturas muito acima do normal e uma grande irregularidade de chuvas pelo país.

Anomalias de precipitação (esquerda), temperatura máxima (centro) e temperatura mínima (direita) observadas para o Brasil entre 01 a 17 de junho de 2024. Fonte: CPTEC/INPE.

Nos primeiros 17 dias de junho temos observado um padrão mais seco em grande parte do Brasil, com um predomínio de anomalias negativas de chuva, principalmente no Centro-Sul do país, o que tem colocado muitas cidades em estado de atenção para estiagem. Além do déficit de chuvas, grande parte do país tem registrado temperaturas máximas e mínimas muito acima do normal, com o destaque mais uma vez indo para o Centro-Sul. Será que esse padrão de Junho se manterá nos próximos meses de inverno?

Pacífico, Índico ou Atlântico: quem impactará o clima dos próximos meses?

Antes de partirmos para a previsão climática de chuva e temperatura para os próximos meses no Brasil, vamos analisar os possíveis padrões oceânicos que poderão impactar na variabilidade dessas variáveis durante o inverno.

A começar pelo fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) no Pacifico Tropical, conforme mencionamos em artigo anterior, sua fase positiva, o El Niño, já acabou e agora vivemos uma fase de neutralidade do ENOS. Apesar das previsões indicarem possível surgimento de uma La Niña (fase negativa do ENOS) entre os meses de Julho a Setembro, se a La Niña surgir ainda no inverno, será mais para o final da estação e seus impactos seriam sentidos apenas a partir da primavera ou verão. Além disso, devemos destacar que nós da Meteored Brasil acreditamos que o fenômeno será uma La Niña fraca e, durante eventos desse tipo, seus impactos geralmente são menores e mais restritos no Brasil.

Ao contrário do que as previsões indicavam meses atrás, não é mais esperada a consolidação de uma fase positiva do Dipolo do Oceano Índico. Porém, isso não quer dizer que o Oceano Índico não exercerá nenhuma influência sobre o clima do Brasil nos próximos meses. Quase todo o Oceano Índico está registrando temperaturas superficiais muito acima da média, o que tem provocado centros de convecção anômala na região, convecção que por sua vez gera perturbações nos altos níveis da atmosfera que se propagam pelo globo via ondas de Rossby.

Previsão das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar para o trimestre de Julho, Agosto e Setembro de 2024. Fonte: ECMWF.

Esse trem de ondas tem contribuído para o estabelecimento de padrões de bloqueios atmosféricos sobre o Brasil central, o que tem favorecido o tempo quente e seco no Centro-Sul do Brasil e, por vezes, contribuído para a formação de tempestades e chuvas volumosas na região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul. Dessa forma, como as temperaturas no Índico deverão continuar bem acima do normal, como indicam os modelos, novas ocorrências de bloqueios poderão ocorrer ao longo do inverno no Brasil.

As temperaturas mais altas que o normal nos oceanos Índico e Atlântico Norte serão as principais responsáveis por modular o clima do Brasil no inverno deste ano, enquanto o Pacífico Tropical permanece em condições neutras.

Por fim, não podemos deixar de mencionar a atual configuração do Oceano Atlântico, que tem apresentado temperaturas muito acima da média, agora mais concentradas na porção tropical do Hemisfério Norte. Essas temperaturas altas irão se manter nos próximo trimestre, servindo como combustível para a temporada de furacões que deverá ser mais ativa que o normal. Dessa forma, todo o transporte de umidade do Atlântico deverá ser direcionado a formação desses furacões no Hemisfério Norte, o que significa que menos umidade poderá chegar ao norte do Brasil. Seria como se os furacões estivessem “roubando” a umidade da porção tropical do Brasil, diminuindo as chuvas na região, consequentemente.

O que esperar do clima desse inverno no Brasil?

O modelo do ECMWF indica o que seria o padrão resultante dos impactos principalmente dos Oceanos Índico e Atlântico, conforme mencionado anteriormente: um predomínio de déficit de chuvas em quase todo o Brasil no trimestre de Julho, Agosto e Setembro! Esse déficit de chuvas será sentido desde o Norte até partes do Sul do Brasil (estado do Paraná), abrangendo toda a porção central (regiões Centro-Oeste, Sudeste e interior do Nordeste).

O inverno de 2024 promete ser mais seco e mais quente que o normal em quase todo o Brasil, com exceção do extremo sul e o litoral leste do Nordeste.

As regiões que poderão registrar acumulados de chuvas mais próximos a média são áreas que geralmente recebem mais chuva nesta época do ano, que são os estados do litoral leste do Nordeste e os estados mais ao sul do país, os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esses estados inclusive poderão registrar extremos de chuva, principalmente no estado do Rio Grande do Sul, que poderá registrar dias de tempo seco intercalados com períodos de chuvas muito volumosas.

Previsão de anomalia de Precipitação (a esquerda) e Temperatura a 2 metros (a direita) para o trimestre de Julho, Agosto e Setembro de 2024. Fonte: ECMWF.

Em relação às temperaturas, esse inverno deverá ser mais quente que o normal em todo o Brasil! São previstas temperaturas acima da média em todo o país, com as anomalias mais intensas, acima dos 2ºC, em uma faixa extensa desde o Centro-Oeste até o Sudeste, pegando partes do Norte. Somente o extremo sul da região Sul e partes do Nordeste mostram uma tendência das temperaturas ficarem levemente acima da média, com anomalias inferiores a 1°C.