La Niña está em formação: saiba como o fenômeno se comporta e confira as primeiras previsões para o próximo verão

La Niñas costumam ocasionar uma queda nas temperaturas no Brasil central, secas severas na região Sul e chuvas intensas na região Norte. Ainda assim, previsões indicam que o cenário do próximo verão pode ser diferente.

La Niña: Saiba como o fenômeno se comporta e confira as primeiras previsões para o próximo verão
La Niñas geralmente causam queda de temperatura no Brasil central, secas no Sul e chuvas intensas no Norte, mas o próximo verão pode ser diferente.

O último relatório da NOAA, atualizado em 17 de junho de 2024, indica que estamos finalmente em uma fase neutra do ENSO. Registros recentes da principal região de monitoramento, Niño 3.4, corroboram essa notícia - mostrando que as temperaturas da superfície do mar (TSM) estão próximas da média, o que condiz com um período neutro, sem El Niño nem La Niña.

No entanto, desde dezembro de 2023, o órgão observa um resfriamento contínuo das temperaturas da superfície do mar (SST) no Pacífico central. Isso sugere que há mudanças climáticas em andamento na região que, eventualmente, podem fazer com que as anomalias caiam para valores negativos.

Se essa tendência continuar, o resfriamento poderá desenvolver uma La Niña. As previsões mais recentes indicam uma forte tendência de desenvolvimento da La Niña por volta de setembro de 2024, com 65% de probabilidade de ocorrência.

O próximo La Niña será forte ou fraco?

As últimas previsões mostram uma transição mais lenta e suave para La Niña. Isso significa que haverá um período mais longo de fase neutra, sem presença nem de El Niño nem de La Niña, abrangendo grande parte do inverno de 2024.

Essa situação confirma que a La Niña não deve impactar o clima brasileiro durante os meses de inverno (junho, julho e agosto) de 2024.

Além disso, a grande maiorias dos modelos deixaram de apostar numa La Niña intensa e passaram a prever uma La Niña de intensidade fraca, ou seja, com anomalias de TSM na região do Niño 3.4 dentro do intervalo de -0.5°C e -1°C. Este La Niña chegará ao seu pico máximo de intensidade durante a virada de 2024 a 2025.

La Niña: Saiba como o fenômeno se comporta e confira as primeiras previsões para o próximo verão
As previsões mais recentes indicam uma forte tendência de desenvolvimento da La Niña por volta de setembro de 2024, com 65% de probabilidade de ocorrência.

Em outras palavras, a La Niña não influenciará com tanta força o clima brasileiro; podendo ceder para outros fenômenos climáticos. Ainda assim, tudo indica que o fenômeno estará presente durante o verão 2024/2025 no Brasil, e por isso, é importante entender quais são os impactos climáticos conhecidos que ele pode causar no país.

Quais os impactos do La Niña no Brasil?

Num geral, os impactos esperados para cada região do Brasil são:

  • Região Sul: Secas Severas e temperaturas mais baixas
  • Região Sudeste: Temperaturas mais baixas
  • Região Centro-Oeste: Temperaturas mais baixas
  • Região Nordeste: Aumento da precipitação e da vazão dos rios
  • Região Norte: Aumento da precipitação e da vazão dos rios

Frentes frias tendem a passar mais rapidamente pela Região Sul durante La Niñas, com tendência de diminuição da precipitação nos meses de setembro a fevereiro, principalmente no Rio Grande do Sul. Essa situação é completamente oposta da que estamos observando este ano, onde os sistemas permaneceram estacionários na região e causaram chuvas severas. Há possibilidade de secas severas e de queda nas temperaturas médias.

Frentes frias também avançam rapidamente pela Região Sudeste, onde as temperaturas podem ficar ligeiramente abaixo da média climatológica (mais frias do que o normal), especialmente durante o inverno.

La Niña: Saiba como o fenômeno se comporta e confira as primeiras previsões para o próximo verão
As previsões mais atuais indicam a ocorrência de um La Niña de intensidade fraca, ou seja, com anomalias de TSM na região do Niño 3.4 dentro do intervalo de -0.5°C e -1°C.

De fato, as frentes chegam com mais facilidade até a Região Nordeste, atingindo principalmente o litoral da Bahia, Sergipe e Alagoas. Há inclusive possibilidade de chuvas acima da média sobre a região semi-árida do Nordeste do Brasil, embora as TSM no Atlântico Tropical também precisem contribuir para que isso ocorra (são necessárias TSM acima da média no Atlântico Tropical Sul e abaixo da média no Atlântico Tropical Norte).

Além disso, na Região Norte, há uma tendência forte de ocorrência de chuvas abundantes no norte e leste da Amazônia e do aumento da vazão de rios como o Rio Amazonas e o Rio Negro. No entanto, há outros rios que tendem a apresentar vazões maiores durante El Niños, o que faz com que o fenômeno seja bastante variável dependendo do local.

O que as previsões numéricas indicam para o próximo verão?

No momento, a maior parte dos modelos climáticos ainda não consegue prever as condições do próximo verão, devido à distância do período. Ainda assim, alguns modelos já indicam tendências que, em parte, conversam com a situação esperada para casos de La Niña.

Previsões climáticas de anomalia de temperatura (esquerda) e chuva acumulada (direita)
Previsões climáticas de anomalia de temperatura (esquerda) e chuva acumulada (direita) mostram alguns comportamentos condizentes com cenários climáticos de La Niña no Brasil.

A primeira é o aumento da precipitação na região norte do Brasil e traços de um possível aumento na região Nordeste; A segunda são traços de uma possível diminuição das chuvas na região Sul, embora este padrão ainda seja bastante vago.

Há, no entanto, um forte padrão de aumento nas temperaturas no país, especialmente no Nordeste, indicando que, mesmo com a ocorrência de La Niña, o próximo verão pode ser extremamente quente, assim como os dois últimos - quando diversos recordes de temperatura máxima foram quebrados. Esse padrão é diferente do esperado para anos de La Niña.

EM RESUMO, as primeiras previsões indicam chuvas intensas no Norte do país para o próximo verão, o que é consistente com um cenário de La Niña; porém temperaturas acima da média no Centro-Norte, o que está fora do esperado.

Vale notar, no entanto, que o Oceano Atlântico não segue padrões em todos os eventos de La Niña - o que faz com que os impactos deste fenômeno não sejam tão consistentes como os do El Niño. Por isso, não deixe de acompanhar a evolução das previsões ao longo dos próximos meses aqui no Tempo.com.