66% de chance de La Niña no fim do ano. O que de fato esperar?
O boletim mais recente do CPC/IRI trouxe um aumento da probabilidade de atuação do La Niña para o período de novembro a janeiro. Essa previsão já se trata de uma confirmação do fenômeno? O que pode alterar essa probabilidade? Saiba aqui
No final da última semana foi divulgado o novo boletim da previsão probabilística para El Niño Oscilação Sul (ENOS) em conjunto do Climate Prediction Center, do National Centers for Environmental Prediction, do National Weather Service (CPC/NCEP/NWS) e do International Research Institute for Climate and Society (IRI), que é disponibilizado na segunda quinta-feira de cada mês.
A previsão probabilística leva em conta a saída pura dos modelos, que nas duas últimas semanas passaram a enxergar um resfriamento mais expressivo na maior região do Pacífico Equatorial, Niño 3.4, a partir de julho, com anomalias abaixo de -0,5°C já em setembro perdurando até pelo menos o fim do ano. Além disso, os cenários passam também pela análise dos meteorologistas.
Isso nos traz à probabilidade de 66% de ocorrência do La Niña no trimestre novembro-dezembro-janeiro (NDJ) e uma grande preocupação, uma vez que o fenômeno provoca irregularidade de chuvas na Região Sul e em boa parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste, e aumento da precipitação no Nordeste e em boa parte do Norte. Ainda mais, se seguir com um fenômeno de moderada intensidade influenciando o início da estação chuvosa, como é previsto pelo modelo CFSv2.
Mas de fato devemos nos preocupar? Há expectativas para mudanças na previsão? Vejamos a seguir.
As águas subsuperficiais do Pacífico Equatorial
Além das águas superficiais, as subsuperficiais da região do Pacífico Equatorial podem nos dar algum indicativo sobre as novas atualizações das projeções dos modelos e o que podem passar a considerar como condições iniciais, mudando a tendência de temperatura para os meses à frente.
Sendo assim, quando analisamos o gráfico acima, onde é mostrado as anomalias de temperatura em profundidade da região Equatorial do Pacífico desde a região das Filipinas até o Equador, nos mostra anomalias bastante positivas na profundidade de 100 a 150 metros, ressurgiram em superfície nas últimas semanas principalmente na região mais próxima do Equador (Niño 1+2) e que proporcionaram também um leve aquecimento em boa parte da superfície. Mesmo com a ressurgência, as águas subsuperficiais se mantiveram mais aquecidas.
Este pode ser um fator de mudança das condições iniciais que pode diminuir a intensidade da projeção do La Niña no decorrer das próximas semanas, passando a atuar em um liminar de fraca intensidade ou até mesmo neutro com viés negativo.
O Atlântico Sul pode representar um alívio para o período úmido
Com uma configuração de La Niña para o período úmido, a Região Sul e os estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, acabam sendo os mais afetados, uma vez que o transporte de umidade proporcionado pelo escoamento no nível de 850 hPa acaba sendo enfraquecido, resultando em irregularidade da precipitação. Dependendo, esse fator também afeta o Brasil Central e boa parte da Região Sudeste. No entanto, para o fim do ano as águas mais aquecidas do Atlântico Sul podem trazer um contraponto para essas áreas.
Pelo fato de se encontrar mais aquecido, há mais energia e umidade sendo fornecida para os sistemas transientes, proporcionando mais dias de chuva pelo menos no Centro-Leste do país, englobando os estados de Goiás e de Minas Gerais. Além disso, é mais um reforço para a condição mais chuvosa no Nordeste, que já é esperada quando há La Niña.