A cidade alemã com energia 100% renovável
Wolfhagen, na Alemanha, desponta como exemplo de modelo energético e de economia democrática. A solução adotada é um modelo híbrido, onde município e cidadãos gerem em conjunto a empresa de energia da cidade.
A necessidade de redução das emissões de gases do efeito estufa e do uso de recursos naturais tem aumentado a busca por políticas ambientais e de transformação sócio-econômicas. A procura por fontes de energia alternativas aos combustíveis fósseis viáveis economicamente tem aumentado e diversas iniciativas tem surgido ao redor do mundo. Nesse cenário, uma cidade alemã desponta como exemplo de modelo energético e de economia democrática.
Wolfhagen, no centro-oeste da Alemanha, tem 100% de sua eletricidade produzida por fontes renováveis. A cidade é pequena, com cerca de 14 mil habitantes, mas deve ser usada como exemplo do que pode ser alcançado quando um município adota medidas inovativas na administração de partes essenciais de sua infraestrutura. Algumas lições tiradas do modelo de Wolfhagen podem até ser usados em outros setores além da produção de energia.
Tudo começou em 2005 quando as autoridades locais colocaram em ação um plano para tornar a cidade auto-suficiente em energias renováveis. O primeiro passo foi a decisão de não renovar a concessão da empresa privada E.ON’s, na época responsável pela distribuição de energia na cidade.
Ao invés de uma empresa privada, a regulação e distribuição de energia seria responsabilidade da prefeitura, através da empresa pública Stadtwerke Wolfhagen. Nos anos seguintes, houve um planejamento para que toda energia necessária para abastecer domicílios fosse proveniente de energias renováveis produzidas localmente até 2015. Para isso, a cidade focou seus esforços na construção de uma fazenda de painéis solares e turbinas eólicas.
No entanto, a falta de recursos financeiros fez com que eles buscassem uma decisão mais inovativa. A energia da cidade foi colocada em um sistema de co-participação que envolve o município, através da empresa pública, e uma cooperativa formada pelos próprios cidadãos - a BEG Wolfhagen. O objetivo é que o cidadão não participasse apenas como "dono", mas também como tomador de decisões.
Formada em 2012 por cidadãos que queriam o desenvolvimento da fazenda de energia eólica, a cooperativa possui 25% da companhia de energia e vale mais de 3,9 milhões de euros. A cooperativa permite que os cidadãos tenham uma porcentagem nos lucros da Stadtwerke Wolfhagen, e também a controlem. Dos 9 lugares no conselho gestor, 2 são ocupados por membros da cooperativa, fazendo-os ativos em todas as decisões, como preços e investimentos.
Iniciativas como essa são incentivadas pelo governo a Alemanha, que anunciou um plano de transição energética em 2011. A posição do governo alemão foi desencadeada pelo desastre na usina nuclear de Fukushima e a pressão de movimentos sociais no país contra combustíveis fósseis. A solução adotada por Wolfhagen mostra que ações efetivas para responder à crise climática podem ser feitas através de empoderamento coletivo, com modelos híbridos que atendam ao interesse comum, e não apenas o lucro.