A Geleira do Juízo Final está por um fio e ameaça elevar o nível do mar!

A Geleira Thwaites, localizada na Antártida Ocidental, é uma das mais largas do planeta Terra. Devido ao aquecimento acentuado do planeta, o potencial de recuo da Geleira aumenta rapidamente, podendo ser acompanhada do seu desaparecimento. Isso acarretaria uma elevação de 1 a 3 metros no nível global dos oceanos.

Colapso da Geleira Thwaites
Quais as respostas das Geleiras frente aos cenários de mudanças climáticas?

A chamada “Geleira do Juízo Final”, “Geleira do Fim do Mundo” ou “Geleira do Apocalipse” fica na Antártida Ocidental e é considerada uma das maiores geleiras do mundo, com cerca de 120 km de largura e 600 km de comprimento. Seu nome original é Geleira Thwaites, e seus apelidos remetem ao alto risco de colapso e ameaça ao nível global do mar.

De acordo com a NASA, a Geleira se refere a uma fração do manto de gelo da Antártida Ocidental, que contém gelo suficiente para elevar o nível do mar em até 4.8 metros. E, à medida que a crise climática avança, essa região vem sendo monitorada devido seu rápido derretimento e capacidade de destruição costeira generalizada.

A Antártida é mais sensível ao aquecimento global do que os pesquisadores pensavam!

A Geleira Thwaites representa um enorme desafio para os cientistas que tentam fazer previsões globais do aumento do nível do mar. Essa enorme corrente de gelo já está em fase de recuo rápido (um “colapso” quando visto em escala de tempo geológica), levando a uma preocupação sobre quando, ou com que rapidez, pode liberar seu gelo no oceano. De acordo com os cientistas, com seu degelo completo, o nível dos oceanos tenderia a subir entre 0.91 a 3.05 metros, representando uma ameaça para aproximadamente 40% da população humana que vive em regiões próximas do mar.

Imagem 3D do fundo do mar na frente da Geleira Thwaites
As imagens coletadas pelo veículo Rán mostraram características geológicas novas para a ciência. Fonte: Alastair Graham da Universidade do Sul da Flórida.

Essa Geleira preocupa os cientistas há décadas. Em 1973 os pesquisadores questionaram se ela estava em alto risco de colapso. Quase uma década depois, foi descoberto que, como a Geleira está aterrada no fundo do mar, as correntes oceânicas quentes podem derretê-la por baixo, desestabilizando-a. A partir disso, os cientistas começaram a chamar a região ao redor da Thwaites de “o ponto fraco do manto de gelo da Antártida Ocidental”.

A Thwaites está se segurando ‘na ponta dos dedos’ e devemos estar preparados para grandes mudanças em pequenas escalas de tempo no futuro - disse o geofísico marinho Robert Larter, integrante do grupo Pesquisa Antártica Britânica.

Em 2001, dados de satélite mostraram que a linha de aterramento estava recuando aproximadamente 1 km/ano. Em 2020 foram encontradas evidências de que a água quente estava derretendo a Geleira por baixo. Já em 2021, um estudo mostrou que a plataforma de gelo - que ajuda a estabilizar a Geleira - pode quebrar em cinco anos.

Um artigo publicado em setembro na Nature Geoscience por especialistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Suécia analisou o assoalho marítimo próximo à Geleira e suas formações geológicas, com o objetivo de mapear, pela primeira vez e em alta resolução, seu recuo histórico.

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A expedição foi realizada em 2019 e contou com a colaboração de um veículo robótico de última geração carregado com sensores de imagem, chamado Rán, que aguenta condições extremas de pressão e temperatura. Esse equipamento ficou cerca de vinte horas coletando imagens e dados do solo oceânico que fica na frente da Geleira Thwaites. O robô mapeou uma área equivalente à cidade de Houston (EUA) a 700 metros de profundidade.

A equipe documentou mais de 160 cristas paralelas que foram criadas, como uma “pegada geológica”, à medida que a borda da Geleira recuava, subindo e descendo com as marés, ajudando na compreensão do que pode acontecer no futuro.

Quais os principais resultados desse estudo?

Os resultados mostraram que em algum momento nos últimos 200 anos, durante um período de menos de seis meses, a frente da Geleira perdeu contato com uma cordilheira no fundo do mar e recuou - ou colapsou - a uma taxa de mais de 2.1 km/ano. Isso é o dobro da taxa que os cientistas observaram na última década.

Esses resultados mostram que a estrutura volumosa da Antártida é capaz de derreter a uma taxa mais acelerada que o previsto em um reduzido espaço de tempo, reforçando as preocupações em relação ao aumento do nível do mar e risco às cidades costeiras. De acordo com os cientistas, essa pesquisa representa uma grande mudança de perspectiva.

Antigamente, pensava-se que as respostas das camadas de gelo frente às mudanças climáticas demoravam mais para acontecer. Hoje em dia, as informações geológicas recentes mostram que essas respostas acontecem mais rápido do que era esperado.