A interação entre abelhas e plantas pode ajudar a restaurar florestas na Amazônia
Um novo estudo realizado por pesquisadores brasileiros identificou que a interação entre abelhas e plantas na Amazônia oriental pode ajudar a restaurar as áreas desmatadas das florestas. Saiba como aqui.
Todos sabemos a importância das abelhas para o equilíbrio do meio ambiente e a conservação da biodiversidade, já é um assunto bastante difundido na mídia. Este inseto é essencial para a produção de alimentos e, sem ele, muitos vegetais, legumes e frutas nem existiriam. “As abelhas são responsáveis pela polinização de plantas e são amplamente reconhecidas como as mais importantes para essa função em escala global”, afirma Carolina Matos, ecóloga do Centro de Agroecologia e Serviços Ambientais (DSA/CATI).
Agora, pesquisadores da Universidade Federal do Pará, em Belém, utilizaram amostras de pólen e de abelhas coletadas na Floresta Nacional de Carajás (Pará) para inferir as interações entre o inseto e as plantas, e como isso pode contribuir para a restauração de áreas desmatadas na Amazônia oriental.
O novo estudo, que foi publicado recentemente na revista científica Arthropod-Plant Interactions, também destaca a importância do conhecimento das espécies de plantas que compõem a dieta das abelhas para estratégias de manejo e conservação.
Como foram analisadas as interações abelha-planta?
O trabalho teve como região de estudo a Floresta Nacional de Carajás, localizada no sudeste do Pará, dentro do domínio da floresta Amazônica, e que faz parte de uma área protegida na Amazônia oriental. Sua cobertura é majoritariamente composta por florestas ombrófilas densas e abertas, um tipo de vegetação tropical.
Foram utilizadas amostras de cargas de pólen presente no corpo das abelhas, retiradas de duas coleções entomológicas: uma do acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a outra da Universidade Federal de Minas Gerais. Os autores optaram por estas coleções como fonte de dados pois elas abrigam espécimes de abelhas coletadas na Floresta Nacional de Carajás e municípios adjacentes.
Em vez do método convencional, que consiste em idas até a floresta, Luiza Romeiro, a autora principal, optou por usar as coleções de insetos já disponíveis. “É muito difícil fazer esse tipo de observação em florestas de alto dossel, com árvores muito altas”, explicou ela.
Os grãos de pólen dos espécimes de abelhas foram tratados com uma mistura de anidrido acético e ácido sulfúrico. Dessa maneira, o conteúdo celular do grão é destruído e a estrutura responsável pela sua identificação fica transparente, facilitando a análise visual dos grãos. Contudo, para enxergar e identificar os diferentes tipos de pólen das amostras, foi preciso usar o microscópio.
Quais as principais conclusões?
Dessa forma, os grãos de pólen foram contados, medidos e microfotografados. A equipe identificou 51 espécies de abelhas e 43 espécies de plantas que estes pequenos insetos visitam. O total de interações mapeadas entre os dois foi de 154.
A espécie que apresentou mais interações com as plantas foi a Centris denudans, uma abelha coletora de óleo de flores, e a planta de maior preferência entre os insetos analisados foi a Byrsonima spicata (Cav.) (árvores e arbustos altos com flores na parte superior).
De acordo com os autores, as informações das interações identificadas neste trabalho podem auxiliar na escolha de espécies para a restauração de áreas degradadas, o que é muito importante considerando a localização da floresta e seus arredores dentro do arco sudeste/leste do desmatamento na Amazônia.
As espécies de plantas que tiveram mais interações (Byrsonima spicata (Cav.) e Banisteriopsis malifolia, ambas da família Malpighiaceae) podem ser selecionadas para programas de restauração, já que elas oferecem bons recursos para muitas espécies de abelhas. As flores de Malpighiaceae, por exemplo, possuem pólen rico em proteínas, o que reforça seu valor como fonte alimentar. E assim, elas ajudariam a aumentar a quantidade de polinizadores e, consequentemente, de plantas na região.