A mídia social mostra aos cientistas como as pessoas reagem às notícias sobre tempestades e furacões
Pesquisadores leem postagens na rede social X (antigo Twitter) para entender como o público responde a atualizações importantes sobre condições climáticas extremas, como tempestades.
Os meteorologistas costumam usar imagens nas redes sociais para comunicar os perigos meteorológicos. Cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR) da Fundação Nacional de Ciência dos EUA analisaram dados da rede social X (antigo Twitter) de 2017 sobre os furacões Harvey e Irma.
Eles descobriram que se as informações sobre a previsão do tempo forem compartilhadas no início do desenvolvimento de uma tempestade, como quando a ameaça de um furacão é incerta, isso pode definir o padrão de como as pessoas respondem.
Meteorologistas de radiodifusão, gestores de emergência e autoridades como o Serviço Meteorológico Nacional dos EUA ou o Met Office do Reino Unido têm a responsabilidade de informar as comunidades sobre os riscos de fenômenos meteorológicos extremos.
“Quando iniciamos esta pesquisa, muito trabalho já tinha sido feito analisando dados do X no período pós-desastre, e estávamos interessados em saber como as pessoas respondiam às informações de previsão do tempo em fases anteriores, especialmente à medida que as previsões mudam”, disse Rebecca Morss, autora principal do artigo sobre o furacão Harvey.
“O X (rede social) nos forneceu um laboratório natural para observar quais comunicações as pessoas respondem e quais informações elas compartilham. Este tipo de pesquisa pode ajudar a comunidade meteorológica a saber quais são as coisas mais importantes para comunicar e como melhorar essas mensagens”, disse ela.
Furacão Harvey vs. Furacão Irma
Embora ambos os furacões tenham ocorrido em 2017, ambos se comportaram de maneira diferente. O Harvey foi particularmente incomum porque se intensificou rapidamente e permaneceu perto da costa do Texas durante dias, causando inundações em Houston.
Já o Irma foi previsto com bastante antecedência e mostrou um padrão mais típico, com ventos fortes e tempestades. Ambos os fenômenos representam a variabilidade que pode ocorrer em eventos meteorológicos extremos, por isso é importante compartilhar antecipadamente suas previsões.
Ao observar dados no X, os pesquisadores puderam perceber como as pessoas responderam às informações transmitidas. Eles construíram um conjunto de dados de publicações relacionadas a furacões, incluindo aquelas de organizações autorizadas como o Serviço Meteorológico Nacional. Estas foram caracterizadas com base no que mostraram e em suas métricas de interação com outras pessoas.
“Nos estágios iniciais da ameaça, podíamos ver uma cadência muito clara: a cada seis horas haveria um aumento nas conversas no X sobre furacões”, disse Robert Prestley, autor do artigo sobre o furacão Irma.
“Isso foi motivado pelo Centro Nacional de Furacões, que divulgou informações atualizadas de previsão. Essa informação foi então redistribuída por meteorologistas, gestores de emergência, meios de comunicação e entusiastas do clima, e a conversa cresceu a partir daí. Isso realmente destacou o papel fundamental do Serviço Meteorológico Nacional na liderança desta comunicação”, disse ele.
As pessoas envolveram-se mais com as autoridades locais à medida que as tempestades se desenvolveram, enquanto as organizações nacionais desempenharam um papel mais importante desde o início.
Participação no clima: a importância dos elementos visuais
É importante ressaltar que os cientistas exploraram como as pessoas em regiões de risco interpretavam e respondiam às ameaças imponentes de cada furacão. O gráfico mais republicado foi o “cone da incerteza”. Isto mostra a localização em tempo real de uma tempestade, bem como o caminho do seu centro. O formato de um cone mostra o nível de certeza da trajetória com base nos erros históricos ocorridos em sua previsão.
As imagens dos cones são limitadas pela falta de informação sobre os riscos para aqueles que estão fora do cone, fazendo com que aqueles que estão fora da sua zona subestimem os seus impactos próximos. O pesquisador Brian McNoldy, da Universidade de Miami, destacou esse ponto nas redes sociais no início da temporada de furacões de 2018.
Podemos compreender por que os autores do estudo do furacão de 2017 enfatizam a necessidade de melhores imagens de incerteza. Isto é de particular importância "no período de previsão e alerta, quando as pessoas procuram informações, mas ainda não há certeza suficiente para dizer especificamente onde ou quais serão os impactos", disse Prestley.
“O cone não está necessariamente equipado para fazer isso. A questão é como manter a visibilidade de uma imagem a que as pessoas estão habituadas e, ao mesmo tempo, comunicar de forma mais eficaz os riscos dos furacões às diferentes populações”, disse Prestley.
Durante o furacão Harvey, postagens com imagens mostrando fortes chuvas e inundações eram frequentemente republicadas. Isto demonstrou a importância de as autoridades mencionarem os diferentes riscos que as tempestades trazem. Isto, por sua vez, torna a meteorologia relevante para as pessoas.
Porém, nem sempre é assim, pois imagens e anúncios automatizados geraram menos interação, como avisos sobre perigos como enchentes ou vento. Porém, o fato de serem mais de curto prazo e localizados pode ter influenciado as métricas de engajamento.
Isto abre novas ideias sobre como estes avisos podem ser melhor comunicados para divulgar informações meteorológicas locais importantes às comunidades afetadas. O estudo das publicações no X ajudou a formular essas perguntas e outras mais sobre a melhor forma de comunicar o clima on-line, especialmente em torno de eventos de alto risco, como furacões ou tempestades.
Referências da notícia:
Morss, R. E. et al. Information Dissemination, Diffusion, and Response during Hurricane Harvey: Analysis of Evolving Forecast and Warning Imagery Posted Online. Natural Hazards Review, v. 25, n. 3, 2024.
Prestley, R.; Morss, R. E. Contextualizing Disaster Phases Using Social Media Data: Hurricane Risk Visualizations during the Forecast and Warning Phase of Hurricane Irma. Weather, Climate, and Society, v. 15, n. 4, 2024.