A pandemia pode prejudicar a previsão do tempo
Com a redução dos voos devido à pandemia de COVID-19, os centros de previsão do tempo perdem uma fonte valiosa de dados assimilados nos modelos de previsão. As medições atmosféricas feitas por aviões estão entre as mais importantes e sua redução compromete a acurácia das previsões.
A redução drástica dos voos devido à pandemia de COVID-19 pode comprometer a previsão do tempo. Os aviões comerciais são uma grande parte dos fornecedores de dados atmosféricos que abastecem a rede observações usada para alimentar os modelos de previsão. Em termos de importância, dados coletados por avião estão no TOP 5. Os meteorologistas estão em alerta pela diminuição de mais de 700 mil medições de avião, que podem afetar diretamente a acurácia da previsão do tempo em diversas localidades.
A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) criou no fim dos anos 80 uma rede de transmissão de dados meteorológico de aeronaves, que consiste em um sistema automático que reúne medições atmosféricas coletadas por voos comerciais, privados e militares. Os dados são transmitidos em tempo real para os principais centros de previsão do mundo e combinados às simulações numéricas.
O processo de combinação entre medições e modelagem é chamado de assimilação de dados. A assimilação é feita através de algorítimos complexos que incluem os dados às saídas dos modelos numéricos, para que eles possam "prever" melhor os instantes seguintes. Estes dados podem ser obtidos por diferentes meios, como aviões, satélite, estações meteorológicas e boias oceanográficas.
A OMM normalmente conta com cerca de meio milhão de dados de temperatura, pressão, vento e umidade por dia fornecidos por aeronaves. A perda total desses dados pode ter consequências severas às previsões. O Centro Europeu de Previsão do Tempo (ECMWF) fez uma simulação no ano passado que mostrou que a eliminação total das medições via avião pioraria em 15% a previsão de curto alcance, de 10 a 7 dias.
As equipes de previsão já se depararam com esse desafio antes. Devido à freada no tráfego aéreo após 11 de Setembro, o ECMWF perdeu de 4 a 5% da acurácia de seus modelos. Desde o dia 1º de Março, houve uma queda de 45% dos relatórios de voos. A diferença dessa situação para os eventos passados é que a epidemia e seus efeitos econômicos podem durar mais tempo. O ECMWF acredita que a perda de dados meteorológicos de avião podem continuar até após o verão.
Mas os meteorologistas não estão tão pessimistas. Os cancelamentos não incluem aviões militares e de carga, que continuam operando normalmente e coletando dados para as previsões. Além disso, ainda estão ativos outras inúmeras fontes de dados, desde de satélite a estações fixas que funcionam continuamente. Os sistemas de previsão mais modernos são mais resilientes e devem continuar gerando produtos de qualidade mesmo em meio a essa crise.