A previsão de fenômenos meteorológicos severos pode melhorar com recurso à Inteligência Artificial
Devido às diferentes variáveis em jogo, à previsão do estado do tempo está sempre associado um grau de incerteza, mas isso agrava-se quando se tratam de eventos meteorológicos extremos, como as chuvas intensas, ondas de calor ou os tornados.
Atendendo à dificuldade de fornecer uma previsão com grande precisão, principalmente quando se preveem fenômenos extremos, a Google desenvolveu uma ferramenta para tentar enfrentar esse tipo de problema: um modelo de IA que pode prever catástrofes meteorológicas com maior acerto.
Google criou modelo de IA que prevê fenômenos extemos com mais precisão
A Google criou um modelo batizado de "Scalable Ensemble Envelope Diffusion Sampler" (SEEDS) que é uma nova tecnologia de Inteligência Artificial (IA) para acelerar e melhorar as previsões meteorológicas utilizando modelos de difusão.
O modelo da Google (SEEDS) permite uma redução significativa do custo computacional para gerar previsões de conjuntos e uma melhor caraterização de eventos climáticos raros ou extremos.
O SEEDS produz a previsão do tempo, utilizando um conjunto de dados obtidos por diversas agências meteorológicas, que elaboram os modelos convencionais/operacionais.
A previsão do tempo é inerentemente incerta. Deste modo é importante refletirmos esta incerteza em termos de probabilidade de ocorrência, o que é uma componente vital da previsão meteorológica operacional.
Dado um modelo de previsão numérica do tempo, a forma padrão de quantificar esta incerteza é perturbar as condições iniciais do modelo e a sua representação dos processos físicos de pequena escala para criar um conjunto de possíveis trajetórias meteorológicas, constituído por vários membros. Assim, optem-se uma distribuição de probabilidades subjacente aos estados meteorológicos.
Essa informação sobre a probabilidade de ocorrência de uma determinada situação meteorológica, prevista pelos chamados modelos operacionais, é uma mais valia para o utilizador da previsão.
A quantificação da incerteza de ocorrência é crucial para a tomada de decisões. Deste modo deverá ser sempre utilizada a previsão probabilística na previsão numérica do tempo.
No entanto, dado o custo computacional da geração de cada membro do conjunto, os centros de previsão meteorológica só se podem dar ao luxo de gerar 10 a 50 membros para cada ciclo de previsão.
Essa limitação é particularmente problemática para os utilizadores preocupados com a probabilidade de fenómenos meteorológicos raros de grande impacto, que normalmente requerem conjuntos muito maiores para serem avaliados. Por exemplo, seria necessário um conjunto calibrado de 10.000 membros para prever a probabilidade de acontecimentos com 1% de probabilidade de ocorrência com um erro relativo inferior a 10%.
Para além de contar com o aumento da capacidade computacional disponível para gerar conjuntos maiores no futuro, é imperativo explorar abordagens mais eficientes para gerar previsões de conjuntos.
O SEEDS quando concebido para corrigir os enviesamentos presentes no sistema de previsão operacional, os conjuntos gerados apresentam melhores métricas de previsão probabilística. São mais fiáveis e as probabilidades de previsão de fenômenos extremos são mais realistas com maior exatidão.
Modelo do Google testado na onda de calor europeia
Embora o modelo de metodologia SEEDS esteja concentrado na previsão meteorológica, esta metodologia também pode permitir a criação de grandes conjuntos de projeções climáticas para a avaliação dos riscos climáticos.
De acordo com a Google, a abordagem generativa feita pela Google permite a criação de conjuntos muito grandes que podem caracterizar eventos muito raros, fornecendo amostras de estados meteorológicos que excedem um determinado limite, para qualquer diagnóstico definido pelo usuário.
O modelo foi utilizado como teste no ano passado, com a onda de calor europeia. Os resultados foram publicados no final de março deste ano, na Science Advances.
O evento observado era tão improvável, que sete dias antes, nenhum dos 31 membros do conjunto operacional conseguiu prever as temperaturas tão elevadas que ocorreram.
Isso permitiu tanto quantificar a probabilidade de o evento ocorrer como apresentar regimes climáticos nos quais este ocorreria.