Um ano para a COP 30: cidades do Pará ficam encobertas por fumaça de queimadas
No fim de semana em que o Governo do Pará iniciou a contagem regressiva para sediar a Conferência do Clima, Santarém e outras cidades do estado registraram péssimos níveis de qualidade de ar devido a incêndios florestais.
Dois cenários contrastantes marcaram os céus paraenses no último fim de semana. Na noite de sábado (23/11), em Belém, um show de pirotecnia, comandado por uma pirâmide iluminada, luzes de led e drones que formaram mensagens de conscientização ambiental, tomou os ares. Do alto do palco-pirâmide, o DJ Alok dava o ritmo da festa sonora e visual do Governo do Pará, que celebrava a contagem regressiva para sediar a 30ª Conferência do Clima da ONU, a COP 30.
Distante a quase 1.200 quilômetros da capital paraense, nesse mesmo dia, Santarém (PA) vivia um tipo bem diferente de fenômeno. A cidade amanheceu encoberta por fumaça. O ar denso e insalubre dificultou a respiração dos cerca de 200 mil fiéis nas ruas, que festejavam naquela data o Círio de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do lugar. Dois dias depois, na segunda-feira (25/11), o prefeito Nélio Aguiar (DEM-PA) decretou estado de emergência ambiental em Santarém em decorrência das queimadas na região e os efeitos na saúde pública.
Estamos passando por uma situação de calamidade pública em relação à qualidade do ar em Santarém, colocando em risco, inclusive, a saúde da nossa população. Santarém não está entre os 20 municípios com maiores focos de queimadas, mas essa fumaça está se concentrando sobre a cidade de Santarém", afirmou o prefeito Nélio Aguiar para o jornal Diário do Pará.
Em meio à seca severa, Santarém e região registram péssima qualidade do ar
Localizada no Oeste do estado do Pará, o município de Santarém tem registrado índices preocupantes de qualidade do ar no mês de novembro. Nos últimos dias 23 e 24, foram detectadas altas taxas de concentração de monóxido de carbono (CO) no ar da cidade, em um nível considerado péssimo para respiração. Os dados são do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Essa porção da Amazônia está vivendo uma temporada de seca extrema, marcada pela estiagem dos rios e igarapés e pela mortandade anormal de peixes, conforme recentemente registrado pela Folha de São Paulo.
A seca severa também se relaciona com o aumento do número de queimadas na região. De acordo com o monitoramento do INPE, em outubro de 2024, o Pará liderou o ranking de estados com maior número de focos de incêndio no Brasil, com 7.120 ocorrências registradas.
Amazônidas criticam governo e pouca visibilidade à crise das queimadas
Com um forte discurso de defesa da floresta amazônica e de valorização da biodiversidade, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB-PA) tem sido alvo de críticas pelas contradições na política ambiental no estado. Creditado como um dos principais articuladores para a realização da COP 30 em Belém, a gestão de Helder é confrontada pela população para dar respostas efetivas à situação das queimadas na região Oeste do Pará.
A fala foi ecoada pela jornalista e criadora digital Mariana Vieira. Natural de Santarém, ela também critica a baixa visibilidade midiática que é dada à crise ambiental e humanitária no município.
“Ninguém conta as histórias das nossas famílias sem água ou faz campanha nacional pelo combate ao fogo. Ninguém sequer sabe que isso acontece se o céu não ficar preto na Faria Lima (...) Porque se a Amazônia ser “pop” e mais comentada do que nunca no mundo todo não me ajuda a resolver queimadas, proteger meu território, resguardar o direito constitucional de proteger o meio ambiente… sinceramente, nada vai, né?”, afirma a jornalista.
Referências da notícia:
INPE. Painel de Monitoramento da Ocorrência de Focos de Fogo. 2024
O Liberal. MPF cobra medidas contra impactos da poluição do ar em Santarém. 2024
Portal da Transparência/Prefeitura de Santarém. Decreto Nº 698/2024. 2024
Folha de São Paulo. Mortandade de peixes choca comunidade em Santarém. 2024