A vida selvagem da Austrália se recuperará dos incêndios florestais?

A pior temporada de incêndios florestais na Austrália matou cerca de 1 bilhão de animais em todo o país. A destruição foi tão grande que se o ecossistema um dia conseguir se regenerar, demorará pelo menos 100 anos!

Animais mortos nos incêndios da Austrália
1 bilhão de animais, incluindo coalas e cangurus, morreram na temporada de incêndios da Austrália desse ano. Foto: ABC News.

A atual temporada de incêndios da Austrália, iniciada em setembro de 2019, é a pior já vivida pelo país, deixando 33 mortos, 5900 edifícios e casas destruídos e mais de 10.7 milhões de hectares queimados, equivalente a 107 mil km², área maior que a de Portugal. As perdas foram ainda maiores para a fauna e flora, estimativas iniciais indicam que mais de 1 bilhão de animais podem ter morrido na atual temporada de incêndios da Austrália!

Esse número pode ser ainda maior já que, apesar do retorno das chuvas, ainda existem incêndios ativos e nesse número não foram incluídos sapos, morcegos, insetos e peixes, o que faz especialistas acreditarem que o número total seja incontável. Mas porque tantos animais morreram nessa temporada? Vamos listar os principais motivos:

  • A atual temporada é um evento incomum e sem precedentes. Apesar dos incêndios florestais serem comuns na Austrália, em determinada época do ano, essa temporada atingiu proporções descomunais. O país já enfrentava uma grave seca em todo seu território, e padrões climáticos como o Dipolo do Oceano Índico e a Oscilação Antártica ajudaram a agravar essa situação e elevar as temperaturas, criando as condições propícias para as queimadas.
  • Grande parte das áreas queimadas eram parques nacionais de proteção ambiental, lar de milhares de plantas e animais. Essas regiões são frequentemente afetadas pelos incêndios, porém, normalmente parte do território não é queimada, formando uma espécie de “refúgio” para os animais se protegerem. Nos incêndios desse ano, poucos refúgios foram poupados.
  • Alguns animais, como coalas e cangurus, são mortos diretamente pelos incêndios, ao serem queimados ou sufocados pela fumaça. Outros animais de pequeno porte conseguem sobreviver ao fogo, ao se esconderem em buracos ou pedras, o problema é o que eles encontram depois do incêndio. Ao saírem de seus abrigos os animais se deparam com uma área completamente queimada, sem vegetação para se alimentar e se proteger, fazendo com que eles morram de fome ou sejam presas fáceis de outros predadores.

Um relatório divulgado pelo Departamento de Meio Ambiente australiano indica que 49 espécies de plantas e animais tiveram 80% de seu habitat queimado pelos incêndios. Outras 65 espécies tiveram 50 a 80% de suas áreas afetadas. Esse levantamento inclui 272 espécies de plantas, 16 mamíferos, 14 sapos, 9 pássaros, 7 répteis, 4 insetos, 4 peixes e 1 tipo de aranha. Destas, 31 estão em extinção, 110 estão ameaçadas e as outras 186 em condições vulneráveis.

Apesar do ecossistema australiano estar habituado aos incêndios e conseguir se regenerar ao longo do tempo, as chances são grandes de que a fauna e a flora nunca voltem ao que eram antes. De acordo com especialistas, se houver uma recuperação total do ecossistema ela poderá demorar pelo menos 100 anos!

A Austrália possui mais de 330 espécies nativas, onde 81% delas são encontradas apenas no país, ou seja, se essas espécies morrerem, poderão desaparecer para sempre! Por este motivo o governo australiano tem mobilizado equipes de resgate e lançou legumes, como batata doce e cenouras, de helicópteros e aviões sobre as áreas destruídas. Além disso, anunciou um fundo de emergência de 50 milhões de dólares australianos para ajudar na sobrevivência das espécies e no resgate de animais.