"Agora ou Nunca": Fim dos Combustíveis Fósseis ou Extinção em Massa
As emissões de gases de efeito estufa devem diminuir a partir de 2025 para acabarem completamente em 2050 e, assim, evitar uma catástrofe climática, alerta o relatório do Grupo de Trabalho III do IPCC. “Alguns líderes governamentais e empresariais dizem uma coisa, mas fazem outra. Eles estão mentindo”, disse Antonio Guterres.
Agora! “Sem uma ação imediata e reduções significativas nas emissões de gases de efeito estufa em todos os setores da sociedade, limitar o aquecimento global a 1,5°C está fora de nosso alcance”, disseram os especialistas do Grupo de Trabalho III (GT-III) do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) ao avaliar as conclusões sobre mitigação.
A principal dedução do relatório é que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) devem diminuir a partir de 2025 para acabar quase completamente com a queima de petróleo, gás e carvão até 2050. O problema é que os governos mais poluentes do mundo, após a pandemia de Covid-19, deixaram claro sem remorsos que as emissões seguirão crescendo, pelo menos durante esta década.
Isso fará com que a temperatura média do planeta aumente mais de 3°C durante a segunda metade deste século, o que acelerará o processo de extinção em massa que já está em andamento e, simplesmente tornará o planeta quase inabitável para os seres humanos. Assim, as reduções "rápidas, profundas e imediatas" de dióxido de carbono (CO2) ficariam guardadas no baú das recomendações feitas pela comunidade científica mundial.
“O último relatório do IPCC é uma ladainha de promessas climáticas não cumpridas. Alguns líderes governamentais e empresariais dizem uma coisa, mas fazem outra. Eles estão mentindo. Os grandes emissores estão destruindo a Terra, porque não querem abrir mão de seus investimentos históricos em combustíveis fósseis", criticou enfaticamente Guterres.
Qual é o caminho?
Para que o Acordo de Paris (2015) seja viável, aponta este relatório, o consumo de carvão deve ser reduzido em 95%, o petróleo em 60%, o gás em 45% e o metano (CH4) em um terço. Para isso, é urgente implementar as “políticas, infraestruturas e tecnologias apropriadas para permitir que nosso comportamento e estilo de vida mudem", disse Priyadarshi Shukla, co-presidente do GT-III.
O relatório reconhece que a transição para energias limpas significaria perdas milionárias de dinheiro devido à mudança das infraestruturas atuais. "Cerca de 30% do petróleo, 50% do gás e 80% das reservas de carvão devem ficar sem extração" para cumprir o compromisso.
Para ao menos tentar materializar essas mudanças, é preciso o impulso da cidadania. Isso é mais do que claro para Antonio Guterres, que sustenta que "os ativistas climáticos às vezes são representados como radicais perigosos. Mas os radicais verdadeiramente perigosos são os países que estão aumentando a produção de combustíveis fósseis. Investir em uma nova infraestrutura de combustíveis fósseis é imoral e economicamente insano".
Pontos mais importantes do relatório do IPCC
Abaixo, resumimos alguns dos pontos mais importantes do relatório de quase 3.000 páginas do GT-III do IPCC:
- As emissões de gases de efeito estufa devem começar a diminuir a partir de 2025 para atingir a neutralidade em 2050, enquanto a liberação de metano deve ser reduzida em um terço até 2030.
- Mesmo que esses cortes sejam alcançados, algo impossível nas condições atuais, “é quase inevitável” que a temperatura média do planeta ultrapasse 1,5°C.
- “Dietas saudáveis e sustentáveis” com ênfase em alimentos de origem vegetal devem ser incentivadas.
- Atividades como a agricultura devem reduzir consideravelmente suas emissões.
- Aumentar o financiamento que, atualmente, é 3 a 6 vezes menor que o dos níveis exigidos até 2030.
- Adaptar as cidades criando ambientes transitáveis, transporte público elétrico, fachadas verdes, agricultura urbana e parques.