Água radioativa de Fukushima será lançada no oceano: quais os riscos?
O governo do Japão pretende, em agosto deste ano, liberar a água radioativa da usina nuclear de Fukushima no oceano Pacífico. A Agência Internacional de Energia Atômica garante que não há riscos, mas a liberação é muito contestada.
Todos já devem ter ouvido falar no desastre nuclear de Fukushima, não é mesmo? Mas relembrando: foi um acidente que aconteceu na central nuclear da usina em Fukushima, no Japão, em 11 de março de 2011, devido ao derretimento de três dos seis reatores da usina. Essa falha aconteceu após o local ser atingido por um enorme tsunami.
Toda a região e áreas próximas foram evacuadas, e seguem quase desertas. As consequências persistem até os dias de hoje. Está em curso um programa contínuo de limpeza intensiva para descontaminar as áreas afetadas, porém isso deverá levar de 30 a 40 anos, segundo Akira Ono, gerente da usina de Fukushima Daiichi. A água altamente radioativa foi armazenada em tanques numa área restrita, contudo, durante esses anos ocorreram alguns vazamentos.
Falando da água contaminada, agora o assunto que a envolve é que o governo do Japão irá liberá-la no oceano Pacífico, em agosto deste ano, após a aprovação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU).
Como é o plano de liberação da água radioativa?
O plano de lançamento da água radioativa tratada já estava em andamento há anos. Em 2019, o ministro do Meio Ambiente do país declarou que “não havia outras opções” porque o espaço para conter o material contaminado estava se esgotando. Agora, 12 anos após o colapso nuclear, o plano entrará em ação de fato.
A Tokyo Electric Power Company (TEPCO), empresa japonesa de energia elétrica, é a responsável pela construção dos tanques de armazenamento das águas (que agora é de 1,32 milhão de toneladas métricas de águas residuais). Mas o espaço está diminuindo muito rápido e a TEPCO diz que construir mais tanques não é uma opção. Ela também é a responsável pela filtragem e remoção dos elementos radioativos da água, e pela construção do equipamento que será usado no processo.
Rafael Grossi, diretor da AIEA, chegou ao Japão na terça-feira (04) para visitar Fukushima e apresentar a revisão de segurança do órgão da ONU ao primeiro-ministro Fumio Kishida. “O plano do governo japonês de despejar a água radioativa tratada no oceano cumpre as normas internacionais de segurança e terá um impacto insignificante", disse Grossi.
A água radioativa tratada, diluída em água do mar, será bombeada para fora da costa através de um túnel submarino até um porto de descarga a 1 quilômetro do local da usina, 12 metros abaixo da superfície do mar.
A inspeção do órgão regulador vistoriou as bombas, válvulas de fechamento de emergência e o túnel que será usado para lançar a água no mar, e os inspetores afirmaram que não havia problemas de desempenho, dando o sinal verde definitivo para o descarte da água, nesta quarta (05).
O processo trará algum problema?
O governo japonês garante que o processo é seguro, pois a água foi filtrada para remover a maioria dos elementos radioativos, exceto o trítio, um isótopo de hidrogênio que é difícil de separar da água. A água tratada será diluída até ficar bem abaixo dos níveis de trítio aprovados internacionalmente, antes de ser jogada no oceano.
Contudo, o processo tem gerado muitas contestações. Nem as autoridades japonesas nem a ONU conseguiram tranquilizar os moradores dos países vizinhos e os pescadores locais. Eles alertam para as ameaças ao meio ambiente marinho e à saúde pública. Contudo, para o Japão, o despejo é necessário, já que a usina precisa ser desativada e a capacidade de armazenamento se esgota no final de 2024.
Já o governo chinês disse que o relatório da AIEA não pode ser um “passe” para a liberação da água e pediu a suspensão do plano, acrescentando que “lamenta” a divulgação precipitada do relatório. Pequim também fez críticas sobre os níveis de trítio na água tratada e na água residual, afirmando que o relatório estava “confundindo completamente os conceitos e enganando a opinião pública”.