Alerta da UNICEF: clima extremo provoca o deslocamento de mais de 40 milhões de crianças no mundo
Um novo relatório da UNICEF traz à tona um grande problema humanitário pouco mencionado: o deslocamento forçado de milhões de crianças pelo mundo devido às catástrofes climáticas! Uma realidade preocupante que poderá piorar nos próximos anos devido às mudanças climáticas.
De acordo com um novo relatório divulgado pela UNICEF no dia 6 de outubro, as catástrofes climáticas foram responsáveis pelo deslocamento de 43,1 milhões de crianças em 44 países num período de 6 anos, o que equivale ao deslocamento de 22 mil crianças por dia.
O relatório “Crianças deslocadas num clima em mudança”, feito através de uma parceria entre a UNICEF, o Centro de Monitoramento de Deslocados Internos (IDMC, na sigla em inglês) e a Fundação Patrick J. McGovern, é o primeiro a trazer uma análise global detalhada do número de crianças que foram obrigadas a deixar suas casas e se deslocar devido às consequências geradas por eventos extremos climáticos entre os anos de 2016 e 2021.
As análises foram feitas para os eventos climáticos mais comuns que levam a um maior número de deslocamentos, como: inundações, tempestades severas, incêndios florestais e secas. Uma das conclusões mais surpreendentes é que quase todos, cerca de 95%, dos deslocamentos de crianças foram devido às tempestades e inundações. Foram 19.7 milhões de crianças deslocadas devido a enchentes e 21.2 milhões devido a tempestades neste período de seis anos.
Em relação aos números absolutos de deslocamentos de crianças, três países lideraram o ranking: Filipinas,Índia e China, com um total combinado de quase 23 milhões de crianças deslocadas. Analisando separadamente, foram 9.7 milhões de crianças deslocadas nas Filipinas, 6.7 milhões na Índia e 6.4 milhões na China. Esses números podem estar relacionados ao tamanho da população desses países e também devido a suas localizações e geografia, que os tornam propensos a esses tipos de desastres, principalmente inundações e tempestades.
Porém, ao analisar o número de crianças deslocadas em relação ao tamanho da população, o ranking de países muda, passando a ser liderado pelo Sudão do Sul e Somália, onde o número de deslocamentos representou cerca de 12 e 11%, respectivamente, da população de crianças, principalmente devido às cheias. Pequenos países insulares como Dominica, Vanuatu e Saint Martin também registraram uma grande porcentagem de crianças deslocadas devido, principalmente, às tempestades tropicais.
Entre 2016 e 2021, os eventos de seca provocaram o deslocamento de 1.3 milhão de crianças em 15 países, mais da metade desses deslocamentos, 730 mil, ocorreram dentro da Somália, seguido de outros 340 mil na Etiópia e 190 mil no Afeganistão. Já os incêndios florestais provocaram o deslocamento de 810 mil crianças neste período de seis anos, sendo que mais de um terço ocorreu somente no ano de 2020. Os países que lideram esse ranking são: Estados Unidos, Canadá e Israel, onde grande parte desses deslocamentos foram feitos de forma preventiva.
Mudanças climáticas e um futuro cada vez mais perigoso para as crianças
Utilizando um modelo de risco de deslocamento desenvolvido IDMC, foram feitas estimativas em relação ao número de deslocamento de crianças nos próximos anos, visto que sob o cenário de aquecimento global desenfreado, sem muitas perspectivas de reduções nas emissões de gases de efeito estufa, esses tipos de desastres climáticos serão potencializados, ficando ainda mais intensos e frequentes.
De acordo com as análises apresentadas no relatório, o tipo de evento que poderá desencadear grande parte dos deslocamentos de crianças no futuro são as inundações, com uma média de quase 3,2 milhões de crianças deslocadas por ano. Isso representaria quase 96 milhões de deslocamentos nos próximos 30 anos!
Os ciclones e seus ventos representam o segundo grande risco, com potencial para causar mais de 10,3 milhões de deslocamentos de crianças ao longo de 30 anos. Por fim, as tempestades também representarão grande risco, podendo ser responsáveis pelo deslocamento de 7,2 milhões de crianças durante este mesmo período.