Alerta: mais da metade dos grandes reservatórios de água do mundo estão secando

Um novo estudo apontou que 53% dos grandes lagos e reservatórios do mundo apresentaram uma diminuição no armazenamento de água nos últimos 30 anos. Os fatores responsáveis por isso seriam as mudanças climáticas e o excessivo consumo humano.

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Dos quase 2000 lagos e reservatórios analisados, mais da metade reduziu significativamente seu volume nos últimos 30 dias, devido ao uso humano desenfreado e à mudança climática.

Os recursos hídricos estão se tornando cada vez mais escassos com o passar do tempo. E sabemos que são vários os fatores que contribuem para isso, tais como: o desperdício, a poluição, o crescimento populacional, as mudanças climáticas, a urbanização e a industrialização. Assim, a questão da água é, portanto, uma das maiores preocupações da sociedade atualmente.

E agora, mais um alerta acende: uma pesquisa recente identificou que mais da metade dos grandes lagos e reservatórios do mundo estão secando desde 1990, devido ao uso humano descontrolado e, principalmente, à mudança climática.

O estudo, publicado na revista científica Science, foi realizado por uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos (EUA), França e Arábia Saudita, que analisou os maiores reservatórios e lagos globais comparando quase três décadas de dados.

Quais os principais achados deste estudo?

Os pesquisadores avaliaram, mais precisamente, 1.972 grandes lagos e reservatórios através de observações de imagens de satélite e de modelos climáticos e hidrológicos. Os resultados identificaram que houve uma perda significativa de 53% no volume total de água entre 1992 e 2020.

Alguns locais de água doce mais importantes do mundo - como o Mar Cáspio na Ásia central e o Lago Titicaca na América do Sul - perderam água a uma taxa de cerca de 22 gigatoneladas por ano no período analisado. Isso representa quase 17 vezes o volume do Lago Mead, o maior reservatório dos EUA.

Mar de Aral, diminuição de água
Mar de Aral, que fica entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, na Ásia, em 2000 (à esquerda) e em 2018 (à direita). A linha amarela representa a delimitação aproximada da costa em 1960. Crédito: NASA Earth.

Outros lagos que também foram afetados são o Mar de Aral na Ásia Central e o Mar Morto no Oriente Médio, que diminuíram devido ao uso humano insustentável. Já os grandes lagos no Afeganistão, Egito e Mongólia passaram por temperaturas do ar mais altas provocadas pelo aquecimento global, o que favorece a perda de água para a atmosfera.

De forma geral, a perda de volume nos lagos naturais foi grandemente atribuída ao aquecimento climático e ao consumo humano, enquanto a perda em reservatórios é dominada pela sedimentação. Na sedimentação, a erosão de terrenos que sofreram com incêndios ou desmatamentos leva uma maior quantidade de sedimentos para dentro dos reservatórios, ocupando espaço do pouco volume de água que já existe.

As temperaturas mais altas causadas pelo aquecimento global levaram à evaporação, mas também podem ter diminuído a precipitação em alguns lagos.

Contudo, por outro lado, o estudo também identificou que quase um quarto dos lagos apresentou um aumento no armazenamento hídrico, devido ao derretimento de geleiras. Um exemplo é o Planalto Tibetano, "onde o recuo das geleiras e o degelo do permafrost foram parcialmente responsáveis pela expansão do lago alpino", destacou o artigo.

Uma tendência preocupante

A pesquisa aumenta as preocupações com a disponibilidade da água para a agricultura, setor elétrico e o consumo humano no futuro, tendo em vista que a mudança climática e as atividades humanas ameaçam cada vez mais os lagos de água doce da superfície da Terra.

O estudo também esclarece que à medida que os reservatórios secam, aumentam as zonas áridas. Esse desequilíbrio contribui para tornar mais árida a bacia hidrográfica, por causa do consequente aumento da evaporação.

"Se boa parte dos lagos de água doce está morrendo, então vamos ver o impacto chegar de um jeito ou de outro, se não agora, em um futuro não muito distante", disse Balaji Rajagopalan, coautor da pesquisa, à agência francesa de notícias AFP.

Por fim, os autores estimam que cerca de um quarto da população mundial resida na bacia de um lago seco e, por isso, ressaltam que é necessário que órgãos públicos levem em consideração a mudança climática e os impactos da sedimentação na gestão sustentável dos recursos hídricos.