Alimentos mais caros? Entenda o futuro dos preços e como isso afeta sua mesa

Uma nova pesquisa revela que os preços dos alimentos no futuro serão menos influenciados pelos custos agrícolas e mais pelos serviços agregados. Entenda como políticas climáticas e econômicas moldarão o acesso à alimentação no Brasil e no mundo.

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Transporte, processamento, marketing e serviços contribuem para o preço final ao consumidor, especialmente em economias em transição nutricional.

Os preços dos alimentos estão mudando, e essa transformação vai além do que acontece no campo. Uma nova pesquisa publicada na Nature Food aponta que, no futuro, os preços dos alimentos dependerão menos do custo da produção agrícola e mais de outros fatores, como transporte, processamento e marketing. Isso significa que, em alguns países, políticas climáticas rigorosas terão menos impacto no bolso do consumidor. Mas e no Brasil? O que isso quer dizer para a sua mesa e o seu orçamento?

Para entender essas mudanças, é importante saber que o preço final que pagamos inclui não só o custo da produção no campo, mas também uma série de outros serviços que agregam valor ao produto antes de ele chegar à nossa casa ou ao restaurante.

Com o aumento da demanda por refeições prontas e alimentos processados, a cadeia alimentar está se tornando cada vez mais complexa. No Brasil, onde grande parte do orçamento familiar ainda é destinada à alimentação, essas mudanças podem trazer desafios importantes.

Por que os alimentos estão mais caros?

O aumento dos preços dos alimentos está relacionado a uma combinação de fatores. Primeiro, a "transição nutricional" global tem levado a uma maior demanda por alimentos de origem animal e ultraprocessados, que são mais caros de produzir e processar. Além disso, o impacto das mudanças climáticas está elevando os custos de produção agrícola. Medidas como impostos sobre emissões de carbono, necessárias para combater o aquecimento global, aumentam os custos para os agricultores, o que reflete nos preços dos produtos.

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O consumo fora de casa cresce globalmente, elevando os custos para o consumidor e ampliando a diferença em relação ao preço recebido pelo produtor.

Outro fator importante é o crescimento do consumo fora de casa, como em restaurantes. Esses alimentos, chamados de "food-away-from-home" (FAFH), são significativamente mais caros do que os preparados em casa. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase 55% dos gastos alimentares vêm de refeições fora de casa, e no Brasil essa tendência está em crescimento. Esses custos adicionais aumentam a diferença entre o preço pago pelo consumidor e o valor recebido pelo produtor.

Como o Brasil está sendo afetado?

No Brasil, a participação do agricultor no preço final dos alimentos ainda é maior do que em países mais ricos, mas essa diferença está diminuindo. Produtos como arroz, feijão e carnes têm visto um aumento nos custos de comercialização, o que significa que mais dinheiro está sendo gasto em transporte, processamento e marketing. Isso é especialmente preocupante em regiões de baixa renda, onde grande parte do orçamento familiar é destinada à alimentação.

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Os custos de comercialização estão reduzindo a participa��ão do agricultor no preço final dos alimentos, impactando especialmente as famílias de baixa renda.

Além disso, políticas de mitigação climática, como impostos sobre emissões agrícolas, têm impacto direto nos preços.

Estudos indicam que, em um cenário de forte controle climático, o preço dos alimentos no Brasil pode dobrar até 2050, afetando principalmente os produtos de origem animal, que são mais intensivos em emissões de gases de efeito estufa.

Para consumidores brasileiros, isso pode significar uma mudança nos padrões alimentares, com mais pessoas optando por produtos à base de plantas, que são mais baratos e menos poluentes.

O que podemos esperar no futuro?

O futuro dos preços dos alimentos no Brasil e no mundo dependerá de como as políticas climáticas e econômicas serão implementadas. Em países ricos, o impacto para o consumidor será menor graças à maior agregação de valor na cadeia alimentar. Já no Brasil e em outros países em desenvolvimento, o desafio será garantir o equilíbrio entre sustentabilidade e acessibilidade.

No entanto, existem soluções possíveis. Investir em tecnologias agrícolas mais eficientes, reduzir o desperdício de alimentos e incentivar a produção local podem ajudar a conter os preços. Além disso, políticas que redistribuam os custos das emissões de carbono, protegendo os consumidores mais vulneráveis, serão fundamentais para evitar a insegurança alimentar.

O preço dos alimentos no Brasil está em transformação, influenciado por mudanças globais e locais. Para garantir que todos tenham acesso a uma alimentação de qualidade no futuro, será necessário equilibrar as demandas econômicas, ambientais e sociais. Enquanto isso, consumidores podem buscar alternativas, como priorizar alimentos locais e reduzir o desperdício, para driblar os desafios desse cenário em constante mudança. Afinal, o que está em jogo não é apenas o preço dos alimentos, mas também a sustentabilidade do nosso planeta e o bem-estar das futuras gerações.

Referência da noticia

Future food prices will become less sensitive to agricultural market prices and mitigation costs. 3 de Janeiro, 2024. Chen, D.MC., Bodirsky, B., Wang, X. et al.