Alpes: preocupação com invasão de cactos em áreas que deveriam ter neve
No sul da Suíça, as encostas de suas montanhas, que deveriam estar cobertas de neve, estão sendo invadidas por uma espécie invasora: os cactos. E o crédito vai para o aquecimento global.
Os moradores da região de Valais, uma área de estações de esqui e vinhedos, estão acostumados a ver as encostas de suas montanhas cobertas de neve no inverno e pequenas flores brancas no verão. Mas à medida que o aquecimento global se intensifica, mais e mais espécies invasoras são encontradas colonizando essas paisagens: os cactos.
A preocupação é tamanha que o governo local anunciou uma campanha para arrancar essas plantas dizendo: "Amante de climas secos e quentes, essa planta invasora e não nativa não é bem-vinda". E não é para menos, pois segundo estimativas, os cactos Opuntia, na Argentina também conhecidos como Tuna, representam atualmente entre 23% e 30% da cobertura vegetal rasteira da região do Valais.
Espécies de cactos estão presentes no cantão suíço desde pelo menos o final do século 18, quando foram importadas da América do Norte. Os ambientalistas acreditam que um clima mais quente nos Alpes permite um período de vegetação mais longo. Com a cobertura de neve diminuindo rapidamente, as espécies invasoras podem estar obtendo as condições ideais para se espalhar.
Já existem 9 espécies de cactos que se podem observar nas encostas destas serras, onde competem com a vegetação endêmica, embora apenas 4 delas sejam consideradas uma ameaça. "Quando você tem esses cactos, nada mais cresce", dizem as autoridades. “Cada almofada cobre o solo e impede que outras plantas cresçam.”
Os ambientalistas reconhecem que impedir a proliferação dessa planta invasora não será fácil. Neste momento, estão também a lançar uma campanha de sensibilização para informar e alertar os residentes e turistas sobre os perigos de pisar, cortar e plantar cactos, uma vez que se recuperam e se espalham rapidamente após serem desenraizados.
Mudança climática
Nos Alpes, a neve é cada vez mais rara em baixas altitudes. Segundo o relatório, o número de dias com neve abaixo de 800 metros na Suíça caiu drasticamente pela metade desde 1970. Hoje, os Alpes têm um mês a menos de neve do que naquela década.
"Essas espécies aguentam temperaturas de -10°C ou -15°C sem nenhum problema", diz Peter Oliver Baumgartner, professor de geologia especializado em botânica e autor do relatório. "Mas querem estar em um lugar seco e não gostam de neve." Portanto, diminuir a cobertura de neve fornece um ambiente fértil para eles prosperarem.
E o problema não está só na ausência de neve, a temperatura aumentou, em média, 2,4°C desde a era pré-industrial. “Se você olhar para os relatórios sobre mudanças climáticas”, diz Baumgartner, “as curvas de temperatura na Suíça são quase tão íngremes quanto as do Ártico”.