Amazônia está na iminência de um novo evento de seca severa, semelhante ao registrado no ano passado
Ainda sob os reflexos do El Niño e os impactos do Atlântico Tropical, a Amazônia tem registrado chuvas muito abaixo do normal, situação que deverá se agravar nos próximos meses e causar mais um evento de seca severa.
A região amazônica, bem como a porção central do Brasil, tem registrado um grande déficit no acumulado de chuvas nos últimos meses, situação que persiste desde o ano passado, devido principalmente aos impactos do El Niño na região.
Mesmo com o fim do El Niño, a estiagem e o déficit de chuvas persiste no Norte do Brasil, condição que é mantida devido às águas mais quentes que o normal na porção norte do Atlântico Tropical, que reforça os movimentos subsidentes que inibem a formação de nuvens e chuva sobre a Amazônia.
Devido a essa falta de chuvas, os rios da região tem apresentado uma redução muito rápida e acentuada de seus níveis, antes mesmo de chegar ao ápice do período de estiagem da região, que ocorre entre os meses de setembro e novembro. Em Porto Velho, Rondônia, os níveis do rio Madeira tem reduzido acentuadamente e já é possível ver alguns bancos de areia ao longo de seu leito. Por conta disso, o governo do estado de Rondônia decretou estado de emergência em virtude ao período crítico de estiagem.
Durante a grave seca de 2023, o Rio Madeira atingiu o menor nível já registrado na história, bem como diversos outros rios da região amazônica. Infelizmente, essa situação deverá se repetir ou até mesmo ser pior neste ano, de acordo com as projeções de especialistas.
Censipam alerta para seca severa semelhante à de 2023
No final de junho ocorreu a reunião Pré-seca, que reuniu cerca de 350 profissionais de instituições governamentais e não governamentais para discutirem as estratégias de combate aos impactos da seca no próximo semestre nos estados da Amazônia. Nessa reunião, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão do Ministério da Defesa, apresentou um relatório de previsão indicando uma estiagem severa em 14 estações de monitoramento na região Amazônica.
De acordo com os dados apresentados, existem regiões que estão sem chuva há quase 60 dias ou mais. Para piorar a situação, as previsões para os próximos meses indicam que as temperaturas mais altas que o normal e o déficit de chuvas deverão continuar em grande parte da região Norte. Dessa forma, as projeções dos modelos hidrológicos indicam uma redução significativa dos níveis de rios e, durante os meses de setembro a novembro, os níveis nessas estações poderão chegar próximos da mínima histórica ou até mesmo ultrapassá-la.
A seca severa de 2023 fez com que milhares de pessoas ficassem sem transporte fluvial , além da falta de fornecimento de água e outros itens essenciais, cenário que poderá se repetir neste ano. Além desses problemas, o abastecimento de energia é outro setor que preocupa e que poderá sofrer com os impactos dos baixos níveis dos rios. Por enquanto, ainda que abaixo dos níveis do ano passado, os atuais níveis estão satisfatórios para a geração de energia, mas o setor deve ficar em alerta para os próximos meses.
A La Niña poderá aliviar a seca da Amazônia?
Se as previsões de La Niña se confirmarem, podemos esperar seus impactos no volume de chuvas na Amazônia a partir do mês de novembro, período em que as chuvas mais volumosas e generalizadas passam a retornar na região. De qualquer forma, esses impactos irão depender da intensidade da La Niña e também da continuidade das temperaturas acima do normal sobre o Atlântico, que tem exercido uma grande influência no volume de chuvas no Norte do Brasil.
De qualquer forma, se a La Niña contribuir para as chuvas na Amazônia ainda neste ano, essa contribuição só virá após atingirmos o ápice da estiagem, possivelmente registrarmos novos recordes de valores mínimos de níveis de rios, e a região enfrentar novamente as consequências de uma seca grave e de grandes proporções.