Aquecimento de 2°C na temperatura média global pode intensificar secas e reduzir chuvas no Brasil até 2050

Com um aumento de 2°C na temperatura média global, o Brasil pode enfrentar redução da precipitação anual, aumento de tempestades e até 4 vezes mais chances de secas severas.

Calor
Relatório aponta que aumento da temperatura média global coloca a população do Brasil em risco, intensificando os eventos extremos de precipitação. Foto: Vinícius Schmidt.

O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) constatou em seu AR6 que, entre 2002 e 2019, houve uma tendência de aquecimento em todas as latitudes, com exceção dos polos, sendo mais acelerado nas regiões tropicais.

Estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que nas últimas quatro décadas o número de períodos secos tem aumentado em grande parte do Brasil, em particular nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, sudeste da Amazônia e no Sudeste, ressaltando a vulnerabilidade do país aos extremos climáticos.

Número de dias com ondas de calor sobe de 7 para 52 dias

A partir da análise dos extremos de temperatura máxima, o estudo avaliou o índice de ondas de calor (WSDI) no país. Observou-se um aumento gradual das anomalias de WSDI com o passar das décadas, para praticamente todo o território brasileiro. No período de referência (1961-1990), o número de dias com ondas de calor não passava de sete. Esse número subiu para 20 dias de 1991 a 2000, para 40 dias, de 2001 a 2010, e para cerca de 52 dias, de 2011 a 2020.

Ondas de calor
O numero de dias com ondas de calor subiu de 7 (1961-1990) para 52 dias (2011-2020). Fonte: INPE.

Ao longo dos anos, verificou-se uma tendência de ampliação das áreas afetadas por queimadas no país, relacionada tanto ao aumento das temperaturas e às mudanças climáticas quanto às ações humanas, já que a maior parte dos incêndios é causada por atividades antrópicas. A destruição da vegetação natural pode impactar, de forma direta e indireta, os processos de troca de CO2 entre a biosfera e a atmosfera, intensificando a concentração de gases de efeito estufa (GEE).

O aumento da temperatura intensifica a evaporação da água, agravando a aridez em áreas e períodos já secos.

Ao mesmo tempo, o excesso de umidade gerado favorece chuvas mais intensas e concentradas em curto período nas regiões e estações úmidas. O Nordeste, Amazônia e Centro-Oeste enfrentam secas mais longas e mais incêndios, enquanto o Sul e Sudeste, especialmente nas cidades, têm chuvas fortes, causando enchentes e deslizamentos.

Um cenário preocupante para o futuro

Considerando um aumento de 2°C na temperatura média global, o país poderá sofrer redução da precipitação anual total, a despeito do aumento de tempestades e de uma probabilidade até quatro vezes maior de ocorrerem secas severas em diversas regiões do país.

Projeta-se que esse grau de aquecimento global até 2050 resulte em uma queda considerável no fluxo dos principais rios da bacia amazônica, dificultando o acesso à água e alimentos para as populações locais, com um impacto substancial na sobrevivência das comunidades.

Podem ocorrer mudanças na estação seca na parte central da América do Sul, devido ao início e recuo tardios das monções, além da diminuição da precipitação sobre a Amazônia e o Brasil central.

Os eventos extremos de precipitação, que causam enxurradas e deslizamentos, tendem a aumentar em intensidade e frequência. Eles representam uma ameaça à vida e à infraestrutura. Um aumento de 1,5°C na temperatura média pode elevar entre 100% e 200% o número de pessoas afetadas por enxurradas no Brasil.