Área alagada no Pantanal reduziu 61% em 38 anos, afirma estudo do MapBiomas

O Pantanal teve a maior perda de área alagada em 38 anos, com uma redução de 61%, segundo o MapBiomas. Os períodos de seca estão mais longos e mais intensos.

Pantanal
O Pantanal registra a menor redução de área alagada em 38 anos, com perda de 61%, segundo MapBiomas.

O Pantanal tem registrado áreas alagadas cada vez menores e períodos de seca mais longos ao longo do ano. Essa observação integra o mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Pantanal, divulgado pela rede de pesquisa MapBiomas nesta terça-feira (12).

Bioma registra a menor área alagada em 38 anos

Dados mensais sobre a superfície de água e áreas alagadas indicam que, entre 1985 e 2023, último ano analisado pelos pesquisadores, o bioma tem alagado uma área menor e permanece seco por períodos mais longos ao longo do ano.

Com 3,3 milhões de hectares de área alagada, o ano passado foi 38% mais seco que 2018, quando ocorreu a última grande cheia do bioma, que cobriu 5,4 milhões de hectares.

Essa extensão, no entanto, já era 22% mais seca que a de 1988 (primeira grande cheia da série histórica do MapBiomas, que cobriu 6,8 milhões de hectares). Em 2023, a redução hídrica atingiu 61% em relação à média histórica (1985 a 2023). As áreas alagadas por mais de três meses no ano também demonstram uma tendência de redução, ou seja, o bioma tem registrado menor área alagada e com menor duração de permanência. Além disso, 22% (421 mil hectares) da atual área de savana (2,3 milhão de hectares) vieram de locais que secaram.

Com a redução da disponibilidade de água e períodos mais curtos de inundação, diversas espécies de fauna e flora encontram dificuldades para se adaptar. No Pantanal, geralmente, as áreas ficam alagadas por mais de três meses ao ano, entre fevereiro e abril. No entanto, o estudo indica uma tendência de diminuição desse tempo de alagamento. Por outro lado, os períodos de seca, entre julho e outubro, estão se prolongando cada vez mais.

Após a cheia de 2018, nota-se uma recorrência de incêndios no entorno do Rio Paraguai. De 2019 a 2023, o fogo tem atingido locais que no início da série de mapeamento, de 1985 a 1990, eram permanentemente alagados, mas que agora estão passando por períodos prolongados de seca. O total queimado de 2019 a 2023 foi de 5,8 milhões de hectares e a região mais atingida foi justamente essas áreas que antes eram permanentemente alagadas no entorno do Rio Paraguai.

Períodos de seca cada vez mais longos

A água que chega ao Pantanal depende principalmente das chuvas no planalto, que primeiro abastecem o Rio Paraguai. Com o rio cheio, ele transborda e represa as águas das chuvas que caem no leste do bioma e no planalto da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai.

MapBiomas
Períodos de Cheias (Fevereiro a Abril) estão cada vez menores e períodos de Secas (Julho a Outubro) cada vez maiores.

O planalto da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, composto por patamares, serras, chapadas e depressões, integra os biomas do Cerrado e da Amazônia e desempenha um papel fundamental na hidrologia da planície pantaneira.

Todos os rios da região nascem no planalto e fluem em direção à planície, até alcançarem o Rio Paraguai. A inundação periódica da planície pantaneira depende diretamente do fluxo de água que vem do planalto, e dados geomorfológicos ajudam a entender a relevância desse processo para a conservação da planície.

O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como na década de 1960 a 1970, mas atualmente o uso agropecuário e a perda de vegetação nativa (de 5,4 Mha) no planalto da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai impactam a dinâmica da água na bacia.