Relâmpagos triplicaram na região do Ártico nesta última década
Descargas elétricas no Ártico são raras pois não costuma fazer calor suficiente lá. Porém, nesta última década, o número de raios na região triplicou. Será que isto pode estar relacionado com o aumento das temperaturas? Saiba mais aqui!
No Ártico, historicamente os relâmpagos são raros, uma vez que não faz calor o suficiente na região para gerar as condições propícias às trovoadas, durante as quais os relâmpagos ocorrem. Contudo, pesquisadores notaram recentemente que estão ocorrendo mais trovoadas nas latitudes mais setentrionais, tendo até registado vários relâmpagos perto do Pólo Norte em agosto de 2019. As trovoadas que ocorrem no Ártico tem tendência de ocorrer no verão, pois é quando elas tem a maior probabilidade de se formar.
Um novo estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, destaca que o número de trovoadas acima da latitude de 65ºN durante os meses de verão triplicou entre 2010 e 2020, se comparado com o número total de trovoadas em todo o planeta durante o mesmo período. Os autores recorreram aos dados fornecidos pela World Wide Lightning Location Network (WWLLN), que mapeou os relâmpagos no mundo inteiro entre 2010 e 2020.
O aumento das descargas elétricas pode ser atribuído ao aumento de temperatura
O Ártico está registando um aquecimento muito mais rápido do que qualquer outra região da Terra, sendo que o aumento das descargas elétricas nesta região esteve associado com o aumento das temperaturas na última década, de acordo com as descobertas dos autores do estudo. A temperatura do Ártico aumentou 0,30ºC entre 2010 e 2020 e este aquecimento forneceu condições mais favoráveis para a ocorrência de trovoadas de verão intensas, que produzem mais raios.
O estudo, elaborado por Bob Holzworth e colegas, teve como objetivo a análise da frequência das descargas elétricas no Ártico ao longo dos meses de verão (junho, julho e agosto) entre 2010 e 2020. Os pesquisadores puderam notar que a porcentagem das descargas elétricas triplicou neste período de dez anos, passando de 0,2% para 0,6%. Em valores absolutos, o número de descargas elétricas acima da latitude de 65ºN foi de cerca de 18.000 em 2010 e de mais de 150.000 em 2020.
Ao longo da última década, as temperaturas no Ártico aumentaram de 0,65ºC para 0,95ºC em relação à média dos tempos pré-industriais. Holzworth e seus colegas atribuem o aumento das descargas elétricas a este aumento das temperaturas, dado que verões mais quentes apresentam maiores chances de ocorrência de trovoadas intensas e de raios. Os resultados sugerem que os habitantes do Ártico no norte da Rússia, Canadá, Europa e Alasca precisam se preparar para o perigo de raios mais frequentes.
Em outro estudo, publicado na revista Nature, é apontado também a hipótese de que o aumento na ocorrência de raios pode induzir a um maior número de incêndios na tundra ártica, o que aceleraria a migração de árvores boreais para o norte e, como consequência, isto teria potencial para desencadear e acelerar a liberação de carbono em solos congelados, como o permafrost.
Navios de transporte marítimo no Ártico poderão ficar vulneráveis aos raios
Este estudo indica também que os navios de transporte marítimo em todo o Ártico poderiam tornar-se mais vulneráveis aos raios.
A cada década, o gelo marinho do Ártico tem diminuído cerca de 13%, segundo a NASA. Uma menor quantidade de gelo significa que no futuro mais rotas oceânicas vão ficar disponíveis para a navegação através do Ártico, principalmente no verão. Países como a Rússia, Canadá, China e Estados Unidos começaram agora a se preparar para a utilização do oceano Ártico como uma rota marítima viável.