As duas faces do ozônio
Na atmosfera superior, o ozônio é essencial para proteger o planeta através da absorção da radiação ultravioleta, mas próximo da superfície do planeta Terra o ozônio é poluente. Reduzir o ozônio troposférico mitigaria seus efeitos nocivos e potencialmente aumentaria um sumidouro de carbono natural.
Geralmente, quando falamos sobre ozônio associamos à sua presença na atmosfera superior no planeta Terra. A camada de ozônio na estratosfera absorve grande parte da radiação solar ultravioleta recebida (um importante processo para a vida na terra). Este processo entrou na consciência geral na década de 1980 com a descoberta de que a camada de ozônio estava diminuindo sazonalmente. Isso levou ao Protocolo de Montreal de 1987 sobre substâncias que diminuem a camada de ozônio.
A eliminação progressiva das emissões dessas substâncias, como clorofluorcarbonetos e halons, acarretaram na estabilização e recuperação contínua da camada de ozônio. Essas substâncias que destroem a camada de ozônio também são gases de efeito estufa e que podem permanecer décadas na atmosfera, pois a vida útil destes gases dura em torno de 50 a 100 anos. A remoção das emissões destes gases nocivos ao ozônio estratosférico pelo Protocolo de Montreal de fato ajudou a mitigar o aquecimento do global. Isso significa que o protocolo teve um papel não apenas em ajudar a restaurar a camada de ozônio, mas também na ação climática, com um aquecimento aproximadamente um terço menor devido à ausência de aumento de clorofluorcarbonetos e halons.
Por outro lado, aproximando-se da superfície da Terra, na troposfera, o ozônio é um poluente. Formado pela reação da luz solar com emissões antrópicas de monóxido de carbono, compostos orgânicos voláteis, óxidos de metano e nitrogênio, pode apresentar um risco à saúde respiratória e ter um efeito prejudicial sobre as culturas e os ecossistemas.
O ozônio troposférico é apenas um dos fatores que influencia na vegetação. É importante compreender suas interações com outros fatores, como por exemplo: mudanças na concentração de CO2, temperatura e precipitação, disponibilidade de nutrientes e eficiência de polinização, distribuições de espécies microbianas e de insetos. A compreensão destas interações ajuda a prever e preparar a sociedade para os impactos na produção de alimentos e nos serviços ecossistêmicos.
A resposta da agricultura ao ozônio varia. O trigo, por exemplo, tipicamente observando um declínio no rendimento da colheita, prevê-se que o rendimento geral da colheita diminua cerca de 10% até 2050; os impactos do ozônio podem incluir alterações na alocação de carbono celular, lesão visível e fotossíntese reduzida. Embora existam evidências limitadas de frutos, nozes e sementes, os dados disponíveis sobre esses impactos na produção mostram que o ozônio e a temperatura têm um efeito consistentemente negativo. Compreender os níveis regionais de poluição e os efeitos do ozônio é importante para garantir a segurança alimentar e nutricional no futuro.