As zonas mortas do oceano

Existem mais de 400 zonas mortas em oceanos e lagos ao redor do mundo. Entenda porque esse fenômeno acontece e por que devemos nos preocupar com isso.

Zonas mortas ocorrem em ambientes aquáticos onde os organismos consomem o oxigênio dissolvido na água mais rápido do que ele é reposto. Créditos: John Moran [Domínio público], via Wikimedia Commons.

Recentemente, cientistas identificaram uma zona morta no Golfo de Omã maior que a Florida (EUA). A pesquisa, conduzida com dados históricos e medições de glider, mostraram que regiões que antigamente tinham concentrações de oxigênio entre 6 - 12 μmol kg−1 hoje estão com menos 2 μmol kg−1. Ao redor do mundo existem mais de 400 zonas mortas em oceano e lagos, onde a água tem tão pouco oxigênio que a vida aquática não pode sobreviver.

As chamadas zonas mortas ocorrem em ambientes aquáticos onde os organismos consomem o oxigênio dissolvido na água mais rápido do que ele é reposto. Diversos fatores influenciam e agravam esse fenômeno, como o crescimento descontrolado de algas, temperatura e salinidade da água, descarte de esgoto doméstico e industrial, e decomposição de matéria orgânica.

Quais ingredientes formam uma "zona morta"?

A salinidade e a temperatura controlam a densidade da água. Quando águas quentes ficam em cima de águas frias, ou água doce fica em cima de água salgada, a camada superficial é menos densa. Devido a menor densidade, a camada de cima tende a não se misturar com a de baixo, impedindo que o oxigênio da atmosfera seja transportado a camadas mais profundas.

Justamente nas camadas mais profundas ocorre a decomposição de matéria orgânica por bactérias. Essa matéria orgânica pode vir de esgoto não tratado e organismos mortos, como peixes, algas e plâncton, que afundam. Esse processo pode consumir a maior parte do oxigênio na água, uma vez que essas bactérias utilizam o oxigênio como combustível.

Outro fator que agrava a situação são altas temperaturas na água, que promovem um crescimento acelerado de algas, o que significa maior consumo de oxigênio e maior produção de matéria orgânica. Além disso, quanto maior a temperatura da água, menos oxigênio ela é capaz de armazenar. Nesse sentido, as mudanças climáticas podem agravar a situação das zonas mortas através do aumento da temperatura da água.

Os rios que desaguam no Golfo do México (EUA) trazem fósforo e nitrogênio que promovem o crescimento descontrolado de algas, gerando uma zona morta (com pouco oxigênio). Créditos: Norman Kuring - NASA Earth Observatory.

No entanto, um dos maiores vilões associado ao aumentos dessas zonas sem oxigênio é a poluição por nutrientes. Esses nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, são provenientes de estações de tratamento de esgoto municipal e industrial, e de descarte de fertilizantes de agricultura de grande escala. A introdução artificial e não controlada de nutrientes no ambiente aquático também promove um crescimento exagerado de algas.

Quais são as consequências e possíveis soluções?

Um estudo recente mostrou que as zonas mortas registradas em oceano aberto aumentaram milhões de quilômetros quadrados deste de meados do século XX. Além disso, a concentração de oxigênio registrada em algumas regiões costeiras, estuarinas e lagunares estão no limite suportado para manter a abundancia e distribuição de peixe, ambas essenciais para atividades pesqueiras.

Apesar de serem resistentes a mudanças, a redução de nutrientes pode ser decisiva para a recuperação dessas regiões. Pesquisadores mostraram que, com o controle e melhor tratamento do descarte de fósforo e nitrogênio, é possível recuperar esses ambientes aquáticos. No entanto, as políticas de gerenciamento desses resíduos devem ser contínuas para que o problema não retorne.