Aumenta a probabilidade de retorno do La Niña no segundo semestre deste ano!
A última atualização do CPC NOAA aumentou significantemente a probabilidade de retorno da La Niña no início do segundo semestre de 2024! Com essa mudança de cenário à vista, vamos relembrar os impactos da La Niña no Brasil!
A atualização mais recente de previsão e diagnóstico do Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA, divulgada na quinta-feira (8), indica que já estamos em “La Niña Watch”! O que isso significa? Significa que os especialistas de previsão climática do CPC já identificaram condições favoráveis para o desenvolvimento de uma La Niña - fase negativa do padrão El Niño - Oscilação Sul (ENOS) - nos próximos seis meses.
O mais interessante é que o La Niña Watch foi emitido junto com o El Niño Advisory, que indica que ainda estão sendo observadas condições de El Niño - fase positiva do ENOS - sobre o Pacífico Tropical. Em janeiro as anomalias de Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) permaneceram acima da média sobre grande parte do Pacífico Tropical, mas apresentaram uma diminuição nas porções leste e central. Após atingir uma anomalia máxima de +2ºC em dezembro, a região do Niño 3.4 diminui para +1.87ºC em janeiro. O Índice Oceanico do Niño (ONI, sigla em inglês) fechou o trimestre de dezembro de 2023 a janeiro de 2024 com um valor de +2ºC, o que classifica o atual evento como um El Niño forte, sendo o quinto mais forte dos registros que datam de 1950.
A atmosfera também tem mostrado sinais de enfraquecimento do El Niño. Durante o evento de El Niño esperamos uma inversão dos padrões de convecção sobre o Pacífico Tropical e um enfraquecimento dos ventos alísios, ou seja, um enfraquecimento da Célula de Walker. No último mês os padrões de convecção começaram a voltar ao normal e os ventos alísios voltaram a ganhar força, o que indica que a atmosfera está deixando de responder ao El Niño e, sem o acoplamento oceano-atmosfera, o evento está com seus dias contados.
A previsão do CPC indica uma probabilidade de 79% de que o El Niño transite para ENOS Neutro no trimestre de abril a junho. No trimestre de maio a julho a probabilidade de fase neutra já começa a diminuir enquanto que a probabilidade de La Niña aumenta. E no trimestre seguinte, de junho a agosto, a probabilidade de La Niña já passa para 55%, ultrapassando a probabilidade de fase neutra, o que indica uma transição muito rápida de El Niño para La Niña. Nos trimestres seguintes a probabilidade de La Niña aumenta ainda mais, passando de 60% em meados do segundo do segundo semestre de 2024.
De acordo com a NOAA, analisando as ocorrências de ENOS desde 1950, mais da metade dos eventos de El Niño foram seguidos pouco tempo depois por um evento de La Niña, após um breve período de fase neutra. Portanto, se as previsões dos próximos meses se concretizarem, não será algo incomum. Ao analisarmos somente os eventos passados de El Niño forte, 5 dos 8 eventos foram seguidos por uma La Niña, e essas mudanças ocorreram de forma rápida.
Relembrando os impactos do ENOS no clima do Brasil
Com a previsão de uma La Niña no horizonte, vamos recordar seus principais impactos na variabilidade climática sobre o Brasil! Durante anos de La Niña temos uma intensificação das condições oceânicas e atmosféricas que geralmente prevalecem sobre o Pacífico: as águas mais frias da porção leste ficam ainda mais frias e a célula de circulação de Walker fica mais intensa!
Essa intensificação da célula de Walker é responsável por intensificar o centro de convecção que fica situado sobre partes do Norte e Nordeste do Brasil, o que consequentemente aumenta o acumulado de chuvas na região, gerando chuvas acima do normal.
Sobre o Centro-Sul do Brasil, principalmente sobre a região Sul, o impacto da La Niña ocorre via trem de ondas, que gera alterações na formação e desenvolvimento dos ciclones extratropicais, também alterando os jatos de baixos e altos níveis da atmosfera. Essas alterações diminuem o fluxo de umidade em direção ao Sul do Brasil, implicando em uma redução das chuvas na região.
Na verdade, não é muito difícil lembrarmos dos efeitos da La Niña no Brasil, basta lembrarmos do que vivenciamos a pouco mais de um ano atrás. Durante os anos de 2020, 2021 e 2022, passamos por um longo episódio de La Niña que gerou um déficit de chuvas sobre o Sul, gerando um grande prejuízo na região, e grandes inundações dos rios no Norte, devido ao excesso de chuvas.