Avião da Voepass que caiu em Vinhedo passou por temperaturas extremas de -60°C
O avião da companhia Voepass que caiu na tarde do dia 9 no município de Vinhedo, interior de São Paulo, enfrentou uma situação meteorológica extrema, com temperaturas baixíssimas de até -60ºC.
Na tarde da última sexta-feira, 09 de agosto, uma aeronave modelo ATR-72 da companhia aérea Voepass, antiga Passaredo, caiu no município de Vinhedo, interior do estado de São Paulo. O avião decolou de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
A aeronave caiu no jardim de um condomínio residencial e explodiu ao atingir o chão. O acidente provocou a morte de todas as 62 pessoas que estavam a bordo (4 tripulantes e 58 passageiros).
As causas do acidente ainda estão sendo investigadas. Uma análise preliminar da caixa-preta do avião já foi realizada, porém, o relatório final com todas as informações só deve sair daqui um mês.
O que se sabe até agora sobre as causas do acidente
Uma transcrição inicial da caixa-preta do avião (do gravador de voz da cabine dos pilotos), feita pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), não identificou sons de falha elétrica, pane ou fogo; porém, registrou conversas do copiloto sobre "dar potência" à aeronave minutos antes da queda - uma tentativa de estabilizar a aeronave e impedir a queda -, além de gritos dos passageiros.
Ainda segundo a análise preliminar feita pelo CENIPA, o avião perdeu altitude de forma repentina, e apenas o áudio da cabine sozinho não é capaz de definir uma causa aparente para a queda. A confirmação da causa do acidente vai depender da análise de mais registros das caixas-pretas e da combinação de todas essas informações.
A principal hipótese de especialistas é de que o avião teria caído devido à formação de gelo nas asas e falhas no sistema de degelo, seguido de uma perda de estabilidade ("estol", no jargão).
Segundo análises do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), no momento do acidente o avião enfrentou condições meteorológicas “caóticas” por quase 10 minutos, que podem ter resultado no super congelamento da água ao redor do avião.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa do LAPIS, “toda a região estava um caos. A condição climática era “rara”, devido a uma nuvem de fumaça gigante vinda das queimadas da Amazônia e à frente fria que atingiu o centro-sul do país, que podem ter contribuído para o acidente”.
Barbosa acredita que a temperatura muito baixa, abaixo do ponto de congelamento da água, pode ter afetado a aerodinâmica do avião. O avião teve que diminuir a velocidade ao passar por nuvens carregadas, em temperaturas que variavam entre -45°C e -60°C. “Como [a água] permanece líquida, o avião fica mais úmido e isso facilita a formação de gelo”, explicou ele.
Aeronave já havia apresentado problemas anteriormente
Um relatório de Ação Corretiva Retardada (ACR) - que é a lista de ações pendentes de manutenção - revelou que a mesma aeronave que caiu teve o seu sistema de degelo inoperante em pelo menos 6 ocasiões em julho de 2023. Além disso, também indicou falhas no limpador de para-brisas e no sistema de alerta de aproximação, e gerador elétrico inoperante, em outros voos no ano passado.
A Voepass informou em nota que as falhas passadas já haviam sido corrigidas, e que o sistema de degelo do avião estava operante no dia do acidente.