Base de Alcântara: a maior tragédia espacial brasileira completa 20 anos
Nesta terça-feira, 22 de agosto, completa-se 20 anos da maior tragédia espacial do Brasil. Um foguete que decolaria da Base de Alcântara explodiu três dias antes do seu lançamento, matando 21 pessoas.
O Centro de Lançamento de Alcântara, também chamado popularmente de Base de Alcântara, está localizado no município de Alcântara, no Estado do Maranhão. E há exatos 20 anos atrás, no dia 22 de agosto de 2003, ele viu sua maior tragédia acontecer.
Três dias antes da data prevista para o seu lançamento da Base de Alcântara, o Veículo Lançador de Satélites VLS-1 V03, um foguete de 21 metros de altura, explodiu no chão na Torre Móvel de Integração (TMI) por volta das 13:30h, hora local, matando 21 pessoas, entre técnicos, engenheiros e pesquisadores.
As missões na Base de Alcântara
Vários lançamentos foram feitos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, e alguns falharam, como por exemplo, o primeiro, realizado em dezembro de 1985, que era um teste de lançamento do Veículo Lançador de Satélites VLS-R1, que carregava um satélite de coleta de dados. Durante os primeiros segundos de voo, devido a uma falha na ignição em um dos propulsores, foi necessário acionar a sua autodestruição.
A mais recente foi a missão Astrolábio, que aconteceu em março deste ano, quando foi lançado com sucesso o foguete Hanbit-TLV da empresa sul-coreana Innospace. Em troca da utilização da plataforma brasileira, o veículo levou uma carga útil nacional chamada Sistema de Navegação Inercial (SISNAV) à órbita baixa da Terra.
Porém, a maior tragédia foi a missão de agosto de 2003, nomeada Operação São Luís. O objetivo era colocar o microssatélite meteorológico SATEC, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e o nanosatélite Unosat, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em órbita circular equatorial a 750 km de altitude. Mas, como já falado, o foguete explodiu no chão, antes de ser lançado, causando um grande incêndio seguido de algumas explosões.
Investigação do acidente
A investigação sobre as causas do acidente teve a colaboração da Rússia, por pedido do Ministério da Defesa. Seis técnicos da Agência Aeroespacial Russa chegaram ao nosso país na época. A conclusão levou cerca de um ano, e tanto os investigadores brasileiros quanto russos concluíram que a causa da explosão foi um acionamento não planejado do propulsor, provocado por uma pequena peça que ligava o motor. A ignição acidental do motor iniciou o fogo, que se alastrou com uma velocidade impressionante, chegando a temperaturas de 3 mil graus Celsius.
As possibilidades de sabotagem, de falha humana ou de interferência meteorológica foram descartadas pelo Ministério da Aeronáutica. Contudo, foram apontadas “falhas latentes” e “degradação das condições de trabalho e segurança”, como saídas de emergência que levavam para dentro da própria TMI, além de estresse por desgaste físico e mental dos trabalhadores.
“Lembrar daquele 22 de agosto é algo difícil até hoje, 20 anos depois. Além das imagens dramáticas, das perdas humanas e materiais, o acidente de Alcântara em 2003 foi um duro golpe no Programa Espacial Brasileiro. Não só por ter paralisado o desenvolvimento do VLS por vários anos, mas principalmente, porque entre as vítimas daquele acidente estavam nossos melhores técnicos e engenheiros espaciais da época. Uma imensa e prematura perda para as famílias e para a nação brasileira”, disse Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON).
Segundo a AEB, o trágico episódio levou à adoção de novas medidas de segurança na Base de Alcântara. Inaugurada em 2012, a nova TMI, de 33 metros de altura e mais de 380 toneladas, é muito mais segura, sendo projetada e construída com concreto armado, para evitar problemas como aquele ocorrido em 2003.