Big Bang existiu! Telescópio James Webb confirma previsão importante encontrada pelo Hubble
Novo cálculo da constante de Hubble encontrada pelo telescópio James Webb confirma previsão do Hubble.
Em dezembro de 2021, o telescópio espacial James Webb foi lançado como parte de um projeto que tem como objetivo compreender os primeiros momentos do Universo. A ideia é que o James Webb permitiria observar galáxias muito distantes que mostrariam como o Universo era nas primeiras centenas de milhões de anos. Isso se deve à capacidade do telescópio de observar comprimentos de onda no infravermelho.
Com observações de um Universo tão jovem, o James Webb permitiria entender como o Universo evoluiu nesses 13,8 bilhões de anos. Um dos conceitos mais importantes é a taxa de expansão do Universo que diz quanto o espaço-tempo está se expandindo. A constante de Hubble é usada para descrever essa taxa e é baseada na relação entre velocidade das galáxias e suas distâncias do Sistema Solar. No entanto, determinar o valor com precisão é um desafio na Astronomia que ficou conhecida como “tensão de Hubble”.
Com dados do James Webb, astrônomos conseguiram calcular mais uma estimativa para a constante de Hubble. Segundo o resultado encontrado, o valor é praticamente o mesmo encontrado utilizando o telescópio Hubble que foi lançado com esse objetivo na década de 90. Essa confirmação dos dados de Hubble dá um passo a mais para compreensão da expansão do Universo e talvez resolver a crise cosmológica atual.
Constante de Hubble
A constante de Hubble é uma medida importante na Cosmologia pois descreve a taxa de expansão do Universo. Ela foi proposta pelo astrônomo Edwin Hubble em 1929 quando este observou, pela primeira vez, que quanto mais distante a galáxia, mais rapidamente ela se afasta de nós. Essa foi uma das primeiras observações que mostrou que o Universo está se expandindo e mudou o rumo da Cosmologia para sempre.
Apesar de parecer simples, medir a constante de Hubble é um desafio atual na Cosmologia porque é preciso que tenha dados bem sensíveis. Vários métodos são usados para medir a constante de Hubble sendo o uso de supernovas Ia, a técnica mais conhecida. Além disso, o fundo cósmico de microondas também pode ser usado. No entanto, resultados por métodos diferentes têm gerado resultados diference, criando uma tensão conhecida como "tensão de Hubble”.
Crise cosmológica
A “tensão de Hubble” faz parte de um fenômeno conhecido como crise cosmológica onde dados observacionais divergem de modelos teóricos. Uma das principais maneiras de calcular, usando supernovas, dá resultado próximo a 73 km/s/Mpc enquanto uma outra maneira conhecida, usando radiação cósmica de fundo, dá 67 km/s/Mpc. Apesar de valores próximos, a diferença é importante em modelos cosmológicos.
O que chama atenção é que ambos os métodos são precisos mas ainda assim ocorre a discrepância. Alguns astrofísicos argumentam que pode ter limitações no modelo cosmológico padrão e outros argumentam que o problema estaria nos dados ou na linha de visão que temos na Via Láctea. A ideia é que com novos telescópios, os dados continuem ficando mais precisos e a crise cosmológica comece a ser resolvida aos poucos.
Polêmica do JWST
Os resultados do JWST chamam atenção porque o telescópio já foi alvo de polêmica em meados de 2022. Quando os primeiros resultados do telescópio foram divulgados, vários canais e notícias circularam afirmando que ele havia "confirmado que o Big Bang não existiu". No entanto, as alegações estavam incorretas e surgiram depois de interpretações erradas sobre alguns artigos que foram publicados na época.
O motivo foi que os dados do JWST mostraram galáxias maiores e mais evoluídas do que se esperava para o início do Universo. Os astrônomos publicaram artigos argumentando que a teoria de formação e evolução de galáxias precisaria ser revisada. Essa parte da Astronomia sempre foi alvo de discussão e um dos objetivos do JWST era entender melhor como galáxias se formaram no início do Universo. Nenhum dos dados tem evidência que vá contra o modelo do Big Bang.
Novo resultado
Um artigo publicado recentemente utilizou dados do JWST de estrelas variáveis e supernovas do tipo Ia. Esses objetos funcionam como "velas padrão" porque a luminosidade são bem descritos na teoria e ao medir o brilho aparente é possível calcular a distância do objeto. O grupo usou essas observações para fazer um cálculo da constante de Hubble.
Os pesquisadores chegaram a uma estimativa de 72,6 ± 2,0 km/s/Mpc que é um valor muito próximo do obtido pelos dados do Hubble que estimam um valor de 72,8 km/s/Mpc. Mesmo com o número baixo de observação de supernova do JWST, os resultados iniciais já indicam uma consistência entre as estimativas de ambos telescópios. Essa consistência é importante na Cosmologia e é esperado que quando mais dados tiverem disponíveis, um novo cálculo seja feito.
Big Bang aconteceu então?
A teoria do Big Bang é a explicação para o início do Universo e foi proposta após diversas observações que mostram que o Universo está em expansão. Desde as observações de Hubble na década de 20, outras observações continuaram confirmando a teoria do Big Bang. Uma delas sendo a radiação cósmica de fundo em micro-ondas descoberta em 1965 que seria um eco" dos primeiros momentos do Universo.
Outras observações como proporções de elementos como hidrogênio e hélio concordam com os cálculos baseados usando a teoria do Big Bang como base. Diferentes experimentos e observações precisas concordam com as previsões dessa teoria. E mesmo que uma observação discorde não é o suficiente para fazer a teoria do Big Bang cair com facilidade de tão robusta que ela é.
Referência da notícia:
Riess et al. 2024 JWST Validates HST Distance Measurements: Selection of Supernova Subsample Explains Differences in JWST Estimates of Local H0 The Astrophysical Journal