Brasil concentrou mais de 80% dos casos suspeitos de dengue no mundo, segundo a OMS

Arboviroses são uma grande ameaça à saúde pública, tanto por seu potencial epidêmico de grande magnitude, quanto pelos impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde, segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.

Brasil epidemia de dengue
O Brasil concentou 82% dos casos de dengue registrados no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Dados divulgados recentemente pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), a maioria dos casos registrados estão nas regiões das Américas, com destaque para o Brasil, com mais de 6,2 milhões de casos em 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Até abril de 2024, a OMS registrou mais de7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos.

Epidemia sem precedentes

Segundo o Boletim Epidemiológico Vol. 55 - nº 11 do Ministério da Saúde, em 2024, houve um aumento de 344,5% no número de casos na Semana Epidemiológica (SE) 1 a 26 (compreendendo o primeiro semestre), quando comparado com o mesmo período do ano anterior. As regiões Sul e Sudeste concentraram a maior incidência no país.

Um dos fenômenos que podem estar associados a um aumento de casos de dengue em regiões que, historicamente, não se registram tantos casos pode ser o aumento das temperaturas, gerando invernos atípicos e mais quentes, como vistos nas regiões Sul e Sudeste no ano anterior.

Maior gravidade em bebês e idosos

Ainda, as faixas etárias compreendendo os menores de um ano, e os maiores de 60 anos concentraram o maior número de casos graves e casos com sinais de alarme para dengue.

Sinais de alarme: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos em cavidades corporais, hipotensão postural e/ou lipotímia, letargia e/ou irritabilidade, aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia), sangramento de mucosa e aumento progressivo do hematócrito

As maiores taxas de letalidade estão nas faixas etárias menores de um ano e com incremento gradativo a partir dos 50 anos de idade, segundo o Ministério da Saúde.

Sorotipos circulantes

Segundo dados do Ministério da Saúde, as epidemias de dengue no Brasil tem sido associadas, em parte, à alternância dos sorotipos virais predominantes no período.

Por três anos consecutivos, houve o predomínio do sorotipo 1 (DENV-1), sendo que, em 2024, os quatro sorotipos de dengue foram identificados no país, com todos os estados apresentando circulação concomitante de DENV-1 e DENV-2, principalmente.

Chikungunya e Febre do Oropouche

Comparado ao período anterior, houve um aumento de 79% nos casos prováveis de Chikungunya no país, durante o primeiro semestre. Em um padrão parecido, o a região Sudeste se destacou com a maior incidência de casos da doença no país, segundo o Boletim. As maiores taxas de letalidade estão nos maiores de 70 anos.

Em relação a febre do Oropouche, a maior parte dos casos teve local provável na região norte, sendo a região amazônica a que concentrou mais de 78% dos casos registrados no país.

Ainda, a transmissão autóctone (ou seja, transmissão dentro do local, e não a partir de viagens para locais onde há circulação do vírus) foi registrada nos estados como Bahia, Espirito Santo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Piauí, Mato Grosso, Pernambuco e Maranhão.

Mudanças climáticas agravaram o cenário

Fatores como o aumento desordenado da urbanização, a falta de saneamento básico em algumas regiões, a degradação ambiental (desmatamentos, destruição de florestas) podem modificar os padrões comportamentais de vetores de arboviroses, como o mosquito Aedes aegypti.

Ainda, o Boletim aponta a crise climática como um agravante e intensificador desses cenários, mudando as temperaturas e os padrões de precipitação.

A soma desses fatores constrói um cenário que permitiu termos uma epidemia de dengue sem precedentes na história da doença do Brasil, em 2024. Mas as consequências dessa epidemia sobre a sociedade dependem do que é feito para mitigar.

Medidas mitigatórias

É preciso reforçar a vigilância genômica da dengue e de outros arbovírus, ampliando a testagem e o sequenciamento, além de investirmos no desenvolvimento de vacinas e medicamentos antivirais que possam ser usados pelas faixas etárias de maior risco para essas doenças.

Ainda, é preciso reforçar a atuação e o número de Agentes de Combate a Endemias para cobrir as demandas municipais brasileiras, bem como a implementação de medidas inovadoras de combate ao vetor, por exemplo.