Buraco negro supermassivo da Via Láctea está prestes a ficar ativo

Uma nuvem de gás está espiralando para o buraco negro supermassivo, Sgr A*, no centro da Via Láctea. Essa nuvem pode fazer com que o buraco negro fique ativo pela primeira vez em muito tempo, já que atualmente ele permanece praticamente inativo.

bura negro Via lactea
Pesquisadores encontraram evidências que o buraco negro do centro da Via Láctea está prestes a ficar ativo.

Buracos negros supermassivos são objetos que estão no centro de galáxias. Eles são objetos que podem chegar a cerca de bilhões de vezes a massa do Sol. A própria Via Láctea possui um buraco negro supermassivo em seu centro, o Sgr A* (Sagittarius A*).

Há um mistério que envolve esses objetos: como eles chegaram ao centro das galáxias e como eles chegaram ao tamanho que tem hoje? São duas perguntas que ainda não possuem uma resposta final e muitos pesquisadores focam seus trabalhos em respondê-las usando telescópios, como o James Webb Space Telescope.

Uma forma de entendê-los é observá-los quando eles capturam algo e começam o processo chamado de acreção. O buraco negro supermassivo mais próximo de nós está perto de iniciar esse processo, conforme estudo publicado na The Astrophysical Journal.

Como os buracos negros se alimentam?

Quando pensamos em buracos negros logo pensamos em objetos que devoram tudo conforme viajam pelo Universo. Porém, o processo no qual eles se alimentam é bem mais complicado que isso.

Primeiro, é necessário que algo seja capturado pelo forte campo gravitacional desse objeto. A partir daí, pode acontecer um processo chamado de acreção.

O processo de acreção ocorre quando momento angular é transportado e um disco, chamado de disco de acreção, se forma em torno do buraco negro.

As partes internas do disco começam a espiralar para dentro do buraco negro. O disco de acreção pode emitir um brilho, o qual conseguimos observar com telescópios e entender melhor o complicado processo de acreção.

Sgr A*: o buraco negro supermassivo da Via Láctea

Para entender melhor esses objetos é útil observarmos o buraco negro mais próximo de nós, Sgr A*. Esse objeto tem sido fruto de intenso estudo por décadas, inclusive com um Prêmio Nobel de Física associado a sua descoberta e sendo alvo da segunda foto de um buraco negro publicada pelo Event Horizon Telescope.

Buraco negro supermassivo da Via Láctea
O buraco negro supermassivo a Via Láctea, Sgr A*. O buraco negro supermassivo possui 4 milhões de massas solares e foi divulgada a primeira foto em maio de 2022. Crédito: Event Horizon Telescope Collaboration

Assim como a maioria dos buracos negros supermassivos próximos de nós, o Sgr A* está em um estado no qual se alimenta pouco. A dieta desse objeto se limita a ventos de estrelas que o orbitam, o que é muito pouco e alguns pesquisadores já o consideram como buraco negro inativo.

Porém, é importante observarmos o ambiente em que ele está e recentemente, utilizando dados de cerca de 20 anos, encontraram evidências que uma bolha de gás está se aproximando de Sgr A*.

Restos da colisão de duas estrelas

Utilizando dados do centro da Via Láctea, os pesquisadores da Universidade da Califórnia, encontraram uma bolha de gás, chamada de X7.

Imagens da bolha de gás X7 em torno do buraco negro
Utilizando dados de cerca de 20 anos, os pesquisadores da Universidade da Califórnia puderam observar a nuvem de gás X7 que está espiralando em direção ao Sgr A*. Crédito: UCLA
A bolha de gás possui cerca de 50 vezes a massa da Terra e se movimenta numa velocidade de cerca de 1100 km/h em uma órbita elíptica de 170 anos em torno do Sgr A*.

Observações mais detalhadas levaram o grupo de pesquisadores a propor que essa bolha de gás veio de uma colisão direta entre duas estrelas. Quando duas estrelas se colidiram próximas ao Sgr A*, liberaram restos de gás que agora está orbitando o buraco negro.

Momentos antes da refeição

Ao observar a trajetória da bolha de gás X7, nós podemos acompanhar os momentos antes do buraco negro supermassivo ficar ativo. Ela pode nos dar insight do poder gravitacional do objeto central e como afeta o ambiente ao redor dele.

Além disso, entender a bolha de gás pode nos dar respostas sobre a Física da acreção que é um processo complexo e ainda com questões em aberto. Por fim, a bolha também pode nos dar uma direção para respostas as duas questões essenciais de como surgiram e por que estão ali.