Café brasileiro rompe barreiras e lidera mercado global em 2024

O Brasil registrou exportações recordes de café em 2024, com alta demanda global. No entanto, desafios climáticos, como a seca prolongada e a ocorrência de chuva preta, preocupam produtores e podem impactar a próxima safra

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O Brasil registrou exportações recordes de café em 2024.

O mercado de café brasileiro segue em destaque em 2024, refletindo tanto o bom desempenho nas exportações quanto os desafios climáticos e logísticos enfrentados pelos produtores. Mesmo com algumas flutuações, o Brasil continua consolidando sua posição como um dos principais fornecedores de café no mundo, especialmente em um momento em que a oferta global enfrenta incertezas.

Exportações em alta e crescimento do café robusta

O Brasil manteve um ritmo forte nas exportações de café em agosto de 2024, com 3,7 milhões de sacas enviadas ao exterior. Embora esse número represente uma leve queda de 1,3% em relação a julho, ainda assim foi um recorde histórico para o mês. No acumulado do ano, o Brasil já exportou 31,9 milhões de sacas, o que representa um crescimento expressivo de 39% comparado ao ano anterior.

O robusta, também conhecido como conilon, tem sido o principal motor desse crescimento. As exportações da variedade chegaram a 6,1 milhões de sacas até agora em 2024, marcando um aumento impressionante de 212% em relação a 2023. Esse avanço é resultado de uma combinação de fatores, incluindo uma forte demanda global e a queda na oferta de países importantes como Vietnã e Indonésia. A crescente relevância do Brasil como fornecedor de robusta reflete essa mudança de dinâmica no mercado.

Desempenho do café arábica

Enquanto isso, o café arábica teve um desempenho um pouco mais tímido. Em agosto, as exportações somaram 2,5 milhões de sacas, uma queda de 1% em relação a julho e 7% em comparação com agosto de 2023. Ainda assim, o total exportado de arábica em 2024 já alcançou 23,2 milhões de sacas, um aumento de 26% em relação ao ano anterior, o que mostra que a demanda global pela variedade continua forte.

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Preço do café (USd/Lbs) 256,24 (Setembro). Fonte: TradingEconomics

Os desafios climáticos têm gerado preocupações para a safra de café. A ausência de chuvas em muitas regiões produtoras, com exceção do Espírito Santo, que registrou precipitações acima da média, está levantando alertas sobre a produtividade para as safras futuras. As altas temperaturas e a seca prolongada comprometem o desenvolvimento das plantas, especialmente a fixação das flores, crucial para o ciclo produtivo. Com a florada isolada já observada em algumas regiões e a persistência do clima seco, há incertezas sobre a safra de 2025/26.

Preços e impactos no mercado interno

Os preços do café têm seguido em alta, refletindo a combinação de forte demanda internacional e incertezas na oferta. Em agosto, o preço do arábica no Brasil chegou a R$ 1.431 por saca de 60 kg, enquanto o conilon foi negociado a R$ 1.340, registrando aumentos de 1% e 6%, respectivamente, em relação ao mês anterior. Em setembro, o conilon superou o arábica, sendo vendido a R$ 1.469 por saca, algo que não acontecia desde 2016, quando uma forte seca reduziu a produção de conilon no Brasil.

Essa elevação nos preços pode afetar diretamente os torrefadores e os consumidores locais. Com o custo do café robusta subindo, o uso desse grão nos blends nacionais tende a diminuir, já que ele costuma ser mais utilizado para equilibrar o custo das misturas. Além disso, a crescente demanda global por robusta brasileiro, associada à incerteza na oferta de outros grandes produtores, deve manter os preços em patamares elevados no curto prazo.

Desafios logísticos e infraestrutura

A logística tem sido outro ponto de pressão para os exportadores de café no Brasil. Apesar de dificuldades com a infraestrutura portuária, o setor tem mostrado resiliência, de acordo com o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). No entanto, esses desafios logísticos estão elevando os custos operacionais, o que afeta as margens dos exportadores e pode reduzir a competitividade do café brasileiro no mercado global. A relação de troca, ou "barter ratio", entre café e fertilizantes, tem mostrado uma melhora significativa, o que é um alívio para os produtores.

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A crescente demanda global por robusta brasileiro, deve manter os preços em patamares elevados no curto prazo.

Em agosto, essa relação se manteve em 1,7 sacas de café por tonelada de fertilizante (na formulação 20-05-20), uma mudança positiva em relação ao ano passado, quando eram necessárias 3 sacas para a mesma quantidade de insumo. Com os preços do café em alta e os fertilizantes relativamente estáveis, espera-se que essa relação continue favorável nas próximas semanas.

Clima e perspectivas para o futuro

Além da seca que já impacta a produção, o monitoramento das chuvas nos próximos meses será crucial para entender o real potencial da safra de 2025/26.

Se as condições climáticas adversas persistirem, o Brasil poderá enfrentar dificuldades na manutenção de sua alta produtividade, especialmente no arábica, que é mais sensível às variações climáticas.

As previsões meteorológicas serão fundamentais para definir as estratégias dos produtores nas próximas temporadas. Recentemente, a chuva preta foi observada em regiões cafeeiras, resultado da fuligem das queimadas na Amazônia e Cerrado. Essas partículas podem prejudicar a qualidade do solo e afetar o desenvolvimento das plantas, aumentando os desafios para os produtores de café.

O mercado de café brasileiro em 2024 reflete um cenário de grandes oportunidades, mas também de desafios significativos. O robusta lidera o crescimento nas exportações, enquanto o arábica mantém sua importância no mercado internacional. No entanto, questões climáticas e logísticas continuam a gerar incertezas, impactando desde os preços até a capacidade produtiva do país. Para consumidores e produtores, o futuro do café no Brasil dependerá em grande parte de como o clima e a infraestrutura evoluirão nos próximos meses.