Cemaden opera com metade da mão de obra necessária, enquanto eventos climáticos extremos aumentam no Brasil
O órgão teve papel crucial na redução de mortes por enchentes e outros eventos extremos nos últimos anos, mas ainda está operando com apenas metade dos servidores necessários.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) foi criado em 2011, após as enchentes devastadoras na Região Serrana do Rio de Janeiro que resultaram em mais de 900 mortes. Desde então, o órgão produz dados, publica boletins de risco, previsões e emite alertas às Defesas Civis.
O número é insuficiente para lidar com a ampliação de suas responsabilidades. O órgão, que começou monitorando 286 municípios, hoje acompanha 1133, produzindo boletins de risco, previsões e alertas. Além disso, o Cemaden realiza mapeamentos de áreas de risco e monitora municípios brasileiros em relação a secas e incêndios florestais.
Faltam funcionários para realizar tanto trabalho
No entanto, o aumento das responsabilidades do órgão não foi acompanhado por um aumento no número de funcionários, o que está levando a uma sobrecarga. Isso gerou situações críticas, como dificuldades para planejar férias ou afastamentos de servidores, além de uma escassez de cargos de liderança e apoio administrativo. Alguns serviços administrativos estão sendo terceirizados, e existem profissionais atuando através de bolsas de fomento ao invés de salários.
O quadro atual ainda enfrenta desafios adicionais, com cinco servidores próximos da aposentadoria e 19 cargos vagos devido a falecimento, exoneração ou outras razões. Embora dois concursos públicos estejam em andamento para contratar 35 novos funcionários, especialistas apontam que, com o avanço das mudanças climáticas e o aumento dos desastres naturais, o número de servidores deveria ser ainda maior do que os 180 inicialmente previstos.
O número original de servidores foi calculado para monitorar cerca de 2 mil cidades em áreas de risco. Atualmente, no entanto, o Cemaden deve considerar desastres mais amplos, como as ondas de calor e secas severas como as registradas em 2024. Em agosto, por exemplo, haviam 3978 municípios em condições de seca (70% do Brasil), com 201 municípios em situação extrema.
Apesar das limitações, o Cemaden tem mostrado resultados significativos, como a redução em até 80% das mortes relacionadas a desastres naturais nos últimos anos, em comparação com eventos de magnitude semelhante antes da criação do órgão.
De acordo com Carlos Nobre, ex-diretor que coordenou a criação do Cemaden, no evento dos deslizamentos de São Sebastião (SP), em fevereiro de 2023, o alerta foi enviado com dias de antecedência. Para as enchentes do Rio Grande do Sul também. Ao longo do ano passado, apenas um evento importante não foi captado pelas previsões meteorológicas do Cemaden.
Apesar das conquistas, o Cemaden ainda precisa de investimentos significativos em infraestrutura, servidores e tecnologia. O fortalecimento do centro é fundamental para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e proteger a população brasileira ao longo dos próximos anos.