Cerrado brasileiro pode enfrentar a pior seca dos últimos 700 anos, afirma estudo

Pesquisa mostra um cenário nada favorável para o Cerrado brasileiro! O bioma pode enfrentar uma das piores secas dos últimos 700 anos. Confira abaixo.

Cerrado
Pesquisa revela um dos piores cenários para o bioma Cerrado: menos chuva e altas temperaturas. Foto: Nexo.

O Cerrado brasileiro é conhecido como o segundo maior bioma e sendo morada de diversos povos indígenas que resistem ao avanço do desmatamento, em decorrência da expansão de áreas agrícolas.

Em 2023, o desmatamento no Cerrado aumentou 69,7% e pela primeira vez o bioma ultrapassou a Amazônia, com 1,1 milhão de hectares desmatados. Agora, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) mostra um cenário em que o Cerrado pode enfrentar a pior seca em 700 anos.

Os efeitos do aquecimento global têm sido particularmente intensos na região central do país, onde o aumento das temperaturas é em torno de 1°C acima da média do planeta. A área de estudo engloba o centro-leste do Brasil, incluindo o norte do estado de Minas Gerais.

A temperatura próximo à superfície é tão alta que qualquer chuva que cai evapora antes mesmo de penetrar no solo, o que ocasiona mudanças no regime de precipitação da região. Com uma menor quantidade de chuva, o abastecimento dos aquíferos é diretamente prejudicado, sendo capaz até mesmo de secar uma das maiores bacias do país, São Francisco.

Isso comprovou que o Cerrado está mais seco do que antes e o tempo seco está associado à perturbação do ciclo hidrológico causada pelo aumento da temperatura devido à atividade humana.

Os pesquisadores analisaram registros de temperatura, precipitação, fluxo e balanço hidrológico. Uma das áreas de estudo foi a Caverna da Onça no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu em Minas Gerais, que recebeu influência direta da variação de temperatura externa. Foram coletados dados da composição química das estalagmites, que difere das demais cavernas estudadas pelo grupo por possuir entrada aberta.

As variações na umidade relativa da Caverna da Onça refletem a umidade relativa e o potencial evaporativo do ambiente externo, conforme documentado pela comparação entre medições in situ dentro da caverna e dados de uma estação meteorológica local próxima.

Estudo aborda a reconstrução do clima com mais precisão

O estudo faz parte de um projeto de pesquisa focado em reconstruir a variabilidade e as mudanças climáticas durante o milênio 850 dC-1850 dC, por meio de registros de anéis de árvores do centro-leste da América do Sul.

A nova metodologia e a validação dos dados analisados em nosso estudo abrem caminho para mais pesquisas em outras cavernas, regiões e biomas. Esse tipo de abordagem pode ser usada para reconstituir o clima no Brasil com mais precisão, disse Francisco William da Cruz Júnior, professor do Instituto de Geociências (IGC-USP).

Pesquisas geológicas servem de base para cenários de aquecimento global através de amostras coletadas no núcleo do gelo dos pólos norte e sul. As bolhas de ar são capazes de fornecer amostras da atmosfera de um passado remoto, sendo possível estimar os níveis de gases de efeito estufa.

Referência da notícia:

Stríkis, N.M., Buarque, P.F.S.M., Cruz, F.W. et al. Modern anthropogenic drought in Central Brazil unprecedented during last 700 years. Nature, 15, 1728 (2024).