Chuvas no Nordeste já superam o volume anual e há mais por vir!
Só se passaram 4 meses e diversas cidades da região Nordeste do Brasil já registraram acumulados de chuva superiores ao esperado para todo o ano! Esse volume impressionante de chuvas foi resultado da atuação combinada de diversos sistemas meteorológicos.
Nos últimos meses, as regiões Norte e Nordeste do Brasil tem registrado grandes volumes de precipitação, principalmente devido a influência da fase negativa do padrão El Niño - Oscilação Sul (ENOS), a La Niña, que tem persistido nas últimas semanas, contrariando as previsões dos modelos climáticos de meses atrás!
No último mês de março e agora em abril, os volumes de chuva se intensificaram ainda mais sobre a faixa litorânea da região Nordeste, principalmente o litoral norte, que engloba o litoral do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Em muitas regiões desses estados, o volume de chuvas dos primeiros 4 meses de 2022 já superou o acumulado esperado para todo o ano!
Esse é o caso de mais de 30 cidades do Ceará, incluindo a capital, Fortaleza! Inclusive, até o momento, Fortaleza é a cidade do Ceará com o maior acumulado de chuva neste ano. De acordo com dados preliminares da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) já foram acumulados cerca de 1624 mm desde 1º de janeiro, sendo que o acumulado esperado para todo o ano é de 1373 mm, o que representa um desvio de 18% acima da média!
A cidade de Várzea Alegre, localizada mais ao sul do Ceará, foi a segunda cidade com maior acumulado nesses 4 meses, registrando um acumulado de 1587 mm, mais que o dobro do acumulado anual médio de 714 mm!
Porém, o Ceará não é o único! No Rio Grande do Norte, diversas cidades receberam acumulados surpreendentes de chuva, ultrapassando a média do ano inteiro! No estado do Maranhão, 32 cidades decretaram situação de emergência devido ao transbordamento dos rios que invadiram diversas cidades.
Quais sistemas meteorológicos foram responsáveis por tanta chuva?
A principal responsável pelas chuvas volumosas dos últimos 2 meses é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que durante os meses de março a abril atinge sua posição mais ao sul do seu ciclo anual. Além de estar mais posicionada sobre a costa norte do Brasil, nas últimas semanas foram registrados episódios de ZCIT dupla!
A ZCIT dupla acontece quando além da banda principal de convecção, formada pela convergência dos ventos alísios, uma segunda banda de convecção se forma mais ao sul. Geralmente esses episódios de ZCIT dupla estão associados a eventos extremos de chuva sobre o Nordeste.
Junto a atuação da ZCIT, também tivemos a ocorrência do Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que contribuem com as chuvas no Nordeste dependendo de seu posicionamento, e também a contribuição da Oscilação de Madden-Julian (OMJ), que ao longo de seu ciclo nos últimos meses, esteve em fases que favorecem a convecção na região Nordeste.
Essa combinação de sistemas meteorológicos, com a ajuda da La Niña no Pacífico, geraram vários dias de precipitação volumosa em diversas partes do Nordeste, principalmente no norte. Muitas cidades registraram acumulados de 100 mm em apenas um dia!
E a chuva irá continuar?
As previsões do modelo ECMWF indicam que as chuvas volumosas continuarão sobre o litoral do Nordeste. A previsão probabilística de anomalia de chuvas para o trimestre de maio, junho e julho indica que todo o litoral norte da região e também grande parte do litoral leste, desde o litoral de Sergipe até o Rio Grande do Norte, terão alta probabilidade de chuvas acima da média!
O litoral norte provavelmente continuará sob os efeitos da ZCIT, principalmente no mês de maio, já que a partir de junho essa banda de convecção se desloca para norte. Já o litoral leste ficará sobre os efeitos das ondas de leste, típicas dessa época do ano e geralmente associadas a episódios de muita chuva. Esses sistemas ainda serão influenciados pela La Niña e também pelo Atlântico Tropical mais aquecido, que ajudarão a impulsionar as chuvas na região.