Ciclone Freddy deixa para trás um trágico rasto de destruição e vítimas
Freddy, o ciclone mais duradouro da história, espalhou a destruição e provocou centenas de vítimas em alguns países africanos, tradicionalmente vulneráveis a estes tipos de eventos.
Cerca de um mês depois, o Ciclone Tropical Freddy voltou a atingir Moçambique, pela segunda vez, tendo provocado até agora pelo menos 300 vítimas mortais. Este ciclone tropical, que esteve em atividade cerca de 35 dias, já é considerado o mais duradouro da história, tendo em conta a sua nomeação no passado dia 6 de fevereiro, e sendo também o mais energético.
O primeiro impacto deste evento na África Austral se deu no final do mês de fevereiro, sendo que nessa altura não provocou tanta destruição nem causou um número tão elevado de vítimas - na ilha de Madagascar e em Moçambique provocou 27 mortes e danos materiais.
Já como resultado da segunda passagem, no último fim de semana, na província da Zambézia, em Moçambique estão contabilizadas 53 vítimas mortais, sendo esperado que este número continue a aumentar à medida que as equipes de resgate chegam às áreas mais afetadas. Ao que parece, o Malawi foi o país mais afetado pela segunda passagem do Freddy. Este país, com uma extensa fronteira com Moçambique, já registrou 225 vítimas mortais, com centenas de feridos e desaparecidos.
Os esforços das equipes de resgate têm sido heroicos, já que as chuvas não parecem dar tréguas contribuindo para os constantes cortes de energia elétrica. Para além disto, esta tempestade deixou um rasto de inundações severas, estradas destruídas, corpos e casas soterrados em lama. O Presidente do Malawi declarou nas últimas horas 14 dias de luto nacional, tendo ainda pedido ajuda internacional para agilizar o socorro às vítimas.
Consequências profundas na África Austral
Para além das vítimas mortais, dos feridos e dos desaparecidos, este evento provocou um grande número de desabrigados. Na segunda maior cidade do Malawi que é considerada a capital comercial, Blantyre, morreram 85 pessoas, havendo no distrito homônimo e nos distritos limítrofes mais de 19 mil pessoas forçadas a abandonar as suas casas. Na última semana, os habitantes registaram falhas significativas no abastecimento de eletricidade, que provocou consequentemente falta de água potável nas torneiras.
A passagem do Freddy pelo Centro e Norte de Moçambique e pelo Sul do Malawi, desde o fim de semana até à última quarta-feira (15) provocou acumulados de precipitação na casa dos 400 a 500 mm. Esta quantidade de chuva foi responsável por inúmeros deslizamentos de terras, que por sua vez soterraram um grande número de pessoas e casas.
Para que não hajam dúvidas da intensidade deste ciclone, no último mês caiu em Moçambique a mesma quantidade de precipitação que era esperada para todo o ano. Já em Madagascar, a precipitação de uma semana foi três vezes superior à média mensal da ilha, devido à intensidade e duração deste fenômeno.
As consequências da passagem deste evento anormalmente longo conjugaram-se com uma questão de saúde pública, criando a tempestade perfeita. O Freddy abateu-se sobre áreas tradicionalmente vulneráveis e já muito fragilizadas do ponto de vista da saúde pública, já que o país esta atravessando o pior surto de cólera de sempre.
No Malawi, esta doença já afetou mais de 50 mil pessoas (12 mil são crianças) e vitimou nos últimos meses mais de 1500 pessoas, sendo que quase 200 eram crianças. As cheias e os deslizamentos de terras podem acentuar esta crise de saúde pública nos próximos dias e semanas. Há mesmo relatos que indicam que este surto de cólera já atravessou a fronteira para outra área fortemente afetada, centro de Moçambique.