Ciclone Raoni na costa brasileira causa polêmica

Na terça-feira (29), a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (NOAA) classificou o fenômeno como tropical, enquanto a marinha do Brasil e o Metoffice afirmam se tratar de um ciclone subtropical. Hoje, quarta-feira (30), a NOAA alterou a classificação

Ciclone Raoni
Após um comunicado da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos sobre o ciclone Raoni, ocorreu um alvoroço e muitas pessoas acreditavam em um “novo furacão Catarina”.

No último dia 26, sábado, um ciclone extratropical se formou na costa da Argentina. A frente fria associada a este ciclone invadiu o sul do Brasil trazendo com ela uma forte massa de ar frio que derrubou as temperaturas de boa parte do país e provocou precipitação de neve e chuva congelada. Nos dias seguintes, um sistema desprendido e de baixa pressão surgiu na costa leste da América do Sul e passou a se modificar rapidamente.

Cronologia

Na segunda-feira (28), parte do ciclone se desprendeu formando uma área de baixa pressão entre a costa do Uruguai e a costa brasileira. A partir daí, meteorologistas de diversos centros de pesquisa e de previsão do tempo e do clima passaram a perceber alterações nesse sistema.

Na noite do dia 28, a marinha do Brasil classificou o evento como ciclone subtropical. Na mesma noite, a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) emitiu um boletim classificando o sistema como uma “perturbação tropical”. No dia seguinte, manhã de terça-feira (29), a marinha do Brasil nomeou o sistema de Raoni e o MetOffice (centro de meteorologia do Reino Unido) classificou o evento como ciclone subtropical.

Na manhã desta quarta-feira (30), a NOAA emitiu um novo boletim, dessa vez informando que o fenômeno está em transição para uma fase subtropical. O novo boletim informou que: "O sistema começou a transição subtropical como a convecção profunda dissipou com a tempestade acelerando para o nordeste. Os dados atuais sugerem que o núcleo ainda está quente. Este será o boletim final a menos que a análise do satélite sugira que o sistema se tornou puramente tropical na natureza".

Entenda o caso

O ciclone Raoni é um fenômeno raro, especialmente nesta época do ano. O sistema possui um núcleo quente e raso, muito mais próximo de um evento subtropical do que tropical. Porém, o boletim da NOAA afirmando se tratar de um sistema tropical provocou polêmica. Isso porque o sistema apresentou um olho, muito característico de ciclones tropicais e com muita convecção.

A NOAA chegou a colocar o ciclone Raoni com status de "INVEST" (uma classificação informando que o sistema será monitorado para coleta de dados). Apesar da convecção e do olho do sistema, Raoni tem núcleo quente, porém raso.

A classificação de sistema tropical emitido pela NOAA também gerou discussão por outro motivo: as temperaturas da superfície do mar (TSM). Sistemas tropicais se alimentam do calor dos oceanos, onde a umidade libera calor latente e o sistema cresce. Para que isso ocorra, as temperaturas da superfície do mar precisam estar maior ou igual a 27ºC. Atualmente, as temperaturas do oceano Atlântico na região de formação do Raoni são de aproximadamente 18ºC, o que impediria a alimentação de um sistema tropical.

Núcleo quente, porém raso; baixas TSMs, porém intensa convecção; Com certeza, Raoni é um sistema que deverá ser estudado nos próximos meses.

Risco para o Brasil?

Felizmente, as previsões no momento não indicam riscos para a costa brasileira. Raoni deve se deslocar na direção nordeste chegando até as latitudes do sudoeste do Brasil e finalizando sua vida por lá.

ciclone subtropical
Raoni não deve afetar o litoral brasileiro e seu ciclo deve finalizar próximo da costa do sudeste do Brasil

Atualmente, não há expectativa que o sistema se regenere, caso aconteça, novas atualizações serão emitidas.

Ciclones extratropicais, subtropicais, tropicais

Ciclones podem ser classificados como extratropicais, subtropicais e tropicais e tudo depende da forma como estes ciclones se “alimentam” e as temperaturas no núcleo do sistema. Ciclones extratropicais se alimenta de instabilidade baroclínica (causada pela variação horizontal de temperatura nas regiões extratropicais do planeta). Ciclones extratropicais possuem um núcleo frio e profundo na troposfera.

Já os ciclones tropicais se alimentam das águas quentes do oceano e de um baixo cisalhamento do vento. Ciclones tropicais também são chamados de furacões ou tufões dependendo da região que se formam. Ao contrário dos extratropicais, os ciclones tropicais tem núcleo quente.

Já os ciclones subtropicais são híbridos e podem se alimentar tanto de instabilidade baroclínica quanto das águas quentes dos oceanos. Esses sistemas geralmente tem núcleo quente nos baixos níveis e frio nos altos níveis.