Ciência perdendo espaço: entenda como o campo está menos revolucionário
Com tantas pesquisas importantes sendo realizadas e mostrando resultados impactantes, como a ciência está se tornando menos inovadora? Índices mostram o menor número de artigos e pedidos de patentes.
Para quem é do campo da ciência não é novidade alguma que o setor enfrenta adversidades, muitas vezes impostas por quem deveria apoiar e valorizar. Ainda assim, universidades e centros de pesquisa se esforçam para manter aquilo que move o mundo: possíveis descobertas.
Apesar de todo o esforço e de tantos trabalhos sendo divulgados mundo à fora, um novo estudo mostrou o contrário: a ciência está se tornando menos inovadora, menos transformadora. Inclusive, falando de publicações científicas, foi considerado que nas últimas décadas esses trabalhos foram bem menos revolucionários.
Em uma comparação feita entre as pesquisas publicadas em meados do século XX e as publicadas na primeira década do século XXI, existia uma tendência de avanço gradual da ciência, porém, segundo Russel Funk, sociólogo da Universidade de Minnesota, não se vê mais aquele boom de descobertas revolucionárias que já tivemos há tempos atrás. Será que não há muita coisa mais para descobrirmos?
Descobertas menos revolucionárias
Com descobertas consideradas menos revolucionárias quando comparadas ao que já foi estudado, publicado e replicado repetidas vezes, o número de citações também se tornou menor e revelador. Isso porque ao avaliar a quantidade de citações subsequentes em um estudo transformador e a quantidade de citações sobre novas descobertas, o número assusta.
Inclusive, autores argumentam que quando um estudo é considerado realmente inovador e transformador de alguma forma, naturalmente seria mais propício que tal descoberta fosse citada em publicações subsequentes.
Pesquisadores calcularam que de citações a 45 milhões de artigos científicos e 3,9 milhões de patentes, um índice que chamaram de CD mostrou a disrupção da ciência, com valores de -1 para estudos menos inovadores e de até 1 para os mais revolucionários.
Esse índice CD tem um valor médio que decresceu mais de 90% entre os anos de 1945 e 2010, isso considerando artigos de pesquisa. Mostrou decréscimo também para patentes entre 1980 e 2010 com média de 78%.
Vale ressaltar que a disrupção foi apontada para todas as áreas do conhecimento e tipos de patentes analisados, inclusive, mesmo levando em consideração algumas possíveis diferenças de fatores como por exemplo, o costume de cientistas ao citar outros trabalhos em suas pesquisas.
Dashun Wang, sociólogo computacional da Northwestern University nos EUA que estuda ciência da transformação está convencido e diz que é muito bom ter esse fenômeno documentado de maneira tão meticulosa. Porém, Wang argumenta que a disrupção não é boa por definição, nem o progresso gradual é ruim por padrão.
Da descoberta ao progresso gradual
Na década de 50 era bem mais comum que autores utilizassem em suas publicações palavras como criação, descoberta, produzir, determinar. Enquanto que na década de 2010, estudos científicos eram mais compostos por palavras como progresso gradual, melhorar, aumentar, ou seja, uma modulação daquilo que um dia foi inédito, foi transformador.
Yian Yin, outro sociólogo computacional da Northwestern University diz que outros trabalhos também mostraram que a inovação científica diminuiu nas últimas décadas, e que apesar do cenário pessimista, este estudo oferece um novo ponto de partida para investigar como a ciência muda usando dados.
John Walsh, especialista em política científica e tecnológica do Instituto de Tecnologia da Geórgia deixa claro em sua fala que o ideal seria uma mistura equilibrada entre o passado e o hoje, ou seja, entre o avanço incremental e disrupção, pois vivemos em um mundo preocupado em validar as descobertas.
Qual o real motivo da ciência estar empobrecendo
Da riqueza de publicações inovadoras e transformadoras a um cenário mais pobre de descobertas, isso seria real ou têm outros motivos para um número reduzido de artigos e patentes? A resposta é sim, são diversos motivos.
Um deles é a forma diferente de hoje em dia quando se trata da atividade científica, de como são realizadas as pesquisas. Por exemplo, quando comparado a 1940, existem muito mais pesquisadores agora para citar um único fator. Com tantos pesquisadores, o que se criou foi um ambiente competitivo na ciência, o que aumentou a pressão para publicar artigos e obter patentes registradas.
Apesar do cenário parecer desanimador para quem é da ciência, Walsh diz que embora a participação da ciência transformadora tenha caído entre 1945 e 2010, o número de estudos considerados inovadores permaneceu mais ou menos constante.
Outro ponto que deve ser considerado é que os índices de CD mostraram um declínio mais significativo entre os anos 1945 e 1970, mas foram mais suaves entre os anos mais recentes do final de 1990 até 2010.