Cientista refuta ONG Greenpeace sobre a existência de corais na Foz do Amazonas

Pesquisador da Universidade Federal do Pará apresenta os detalhes sobre como a ONG Greenpeace espalha dados falsos sobre a existência de corais na Foz do Amazonas. Veja os detalhes da polêmica.

Grande Barreira de Corais da Austrália
A Grande Barreira de Corais da Austrália. Crédito: Divulgação.

Nos últimos dias, um assunto tem ganhado os holofotes e causado muita discussão no Brasil: a existência de uma barreira de corais na Bacia da Foz do rio Amazonas, no coração da Margem Equatorial.

O debate se acalorou após a diretora executiva de Exploração e Produção da Petrobrás (empresa estatal), Sylvia dos Anjos, afirmar que a presença dessa barreira de corais na região é uma “fake news científica”. “Não existe coral na foz do Amazonas. Isso não é verdade. Isso é fake news científica. Existem rochas carbonáticas semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, disse ela em uma entrevista recente.

O Greenpeace é uma organização não governamental (ONG) ambiental fundada no Canadá em 1971. No Brasil, eles atuam há mais de 30 anos.

Porém, segundo o Greenpeace, uma ONG internacional, o recife de corais existe sim, e em 2017, em uma audiência pública no Brasil, a ONG apresentou um conjunto de imagens e folders desse suposto sistema de recifes.

Contudo, o pesquisador Luís Ercílio Faria Junior, doutor em Ciências Naturais da Universidade Federal do Pará (UFPA), na ocasião contestou aquelas imagens apresentadas pela ONG e disse que elas não deveriam ser levadas em consideração pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) já que, segundo ele, foram manipuladas. Vale destacar aqui que o IBAMA negou uma licença de perfuração de um poço para a Petrobrás na região onde teria supostamente o recife de corais, com base em um estudo citado pelo Greenpeace.

Qual o embasamento do cientista para refutar a ONG?

Segundo Luís Ercílio, o contorno na imagem não representava recifes de corais de fato, mas sim rochas carbonáticas. E para refutar a ideia de que os corais existem, ele fez um resumo científico de cinco décadas de pesquisas desenvolvidas por cientistas brasileiros e estrangeiros na Margem Equatorial.

O pesquisador participou por muitos anos do projeto internacional chamado AMAS-SEDS (Amazon Shelf Sedimentary Studies), desenvolvido pela UFPA em cooperação com outras universidades do Brasil e até dos Estados Unidos, e que resultou em vários estudos. Ele cita ainda pesquisas conduzidas pelo professor Mamá El-Robrini, especialista na área e responsável pela criação do curso de Oceanografia da UFPA.

Hoje, os colegas da UFPA continuam com uma cooperação com a Marinha do Brasil, que ainda embarca cientistas em seus navios para a realização de pesquisas. É com base nesses projetos e nas décadas de dados acumulados que posso afirmar com convicção que não existem esses recifes de corais - disse Luís Ercílio Faria Junior, doutor em Ciências Naturais da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Esses estudos de longa data resultaram em mapas geológicos do Brasil que confirmaram o mapa geológico oficial da plataforma continental do Brasil, elaborado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB), o qual confirma a inexistência da barreira de corais no Amazonas.

Luíz Arcílio ainda explica que a plataforma continental brasileira já esteve mais de 100 metros abaixo do nível do mar atual, com variações significativas ao longo do tempo. “Durante essas oscilações, as rochas calcárias e carbonáticas foram formadas, mas isso não significa que temos uma barreira de corais comparável à da Austrália. Isso é uma “fake científica”, e reitero isso com base em mais de 50 anos de estudos sólidos e contínuos”, disse ele.

E para o cientista, a fala da diretora da Petrobrás foi coerente.

O que o pesquisador comentou sobre a apresentação do Greenpeace?

Naquela ocasião da audiência pública em 2017, a ONG projetou um mapa do que seria uma barreira de corais. Contudo, a imagem representava a plataforma carbonática, composta por rochas carbonárias da plataforma continental brasileira.

O mapa projetado pelo Greenpeace durante a ocasião da audiência pública em 2017, mostrando o que seria uma barreira de corais. Porém, a imagem representava a plataforma carbonática, composta por rochas carbonárias da nossa plataforma continental. Fonte: Greenpeace.

Então, nesse momento, o cientista questionou a legitimidade do mapa e o estudo de 2016 que a ONG citava nessa apresentação, já que tal estudo não possuía amostras. “ (...) eu e meus colegas da UFPA temos amostras com datações de cada ponto coletado, demonstrando que aquilo é uma área de rochas carbonáticas e não um recife de corais”, comentou ele.

Ele ainda disse ao IBAMA, naquela ocasião, que não deveriam considerar aquelas informações do Greenpeace, pois o estudo citado pela ONG sequer estava citado no EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental). O correto seria utilizar o mapa geológico oficial da plataforma continental do Brasil.

Imagem “fake” apresentada pela ONG Greenpeace em audiência pública em 2017 como uma barreira de corais no Amazonas, que foi contestada pelo pesquisador Luís Ercílio Faria Junior. Fonte: Greenpeace.

Ercílio finaliza dizendo: “Pode ter sido um recife há 10 mil anos, mas hoje é uma rocha consolidada há muito tempo. Corais vivos existem apenas na região do Nordeste brasileiro, entre o Ceará e o sul da Bahia”.

Referência da notícia:

Petronotícias. “Pesquisador apresenta os detalhes sobre como o Greenpeace espalha dados “fake” da existência de corais na Foz do Amazonas”. 2024.