Cientista refuta ONG Greenpeace sobre a existência de corais na Foz do Amazonas
Pesquisador da Universidade Federal do Pará apresenta os detalhes sobre como a ONG Greenpeace espalha dados falsos sobre a existência de corais na Foz do Amazonas. Veja os detalhes da polêmica.
Nos últimos dias, um assunto tem ganhado os holofotes e causado muita discussão no Brasil: a existência de uma barreira de corais na Bacia da Foz do rio Amazonas, no coração da Margem Equatorial.
O debate se acalorou após a diretora executiva de Exploração e Produção da Petrobrás (empresa estatal), Sylvia dos Anjos, afirmar que a presença dessa barreira de corais na região é uma “fake news científica”. “Não existe coral na foz do Amazonas. Isso não é verdade. Isso é fake news científica. Existem rochas carbonáticas semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, disse ela em uma entrevista recente.
Porém, segundo o Greenpeace, uma ONG internacional, o recife de corais existe sim, e em 2017, em uma audiência pública no Brasil, a ONG apresentou um conjunto de imagens e folders desse suposto sistema de recifes.
Contudo, o pesquisador Luís Ercílio Faria Junior, doutor em Ciências Naturais da Universidade Federal do Pará (UFPA), na ocasião contestou aquelas imagens apresentadas pela ONG e disse que elas não deveriam ser levadas em consideração pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) já que, segundo ele, foram manipuladas. Vale destacar aqui que o IBAMA negou uma licença de perfuração de um poço para a Petrobrás na região onde teria supostamente o recife de corais, com base em um estudo citado pelo Greenpeace.
Qual o embasamento do cientista para refutar a ONG?
Segundo Luís Ercílio, o contorno na imagem não representava recifes de corais de fato, mas sim rochas carbonáticas. E para refutar a ideia de que os corais existem, ele fez um resumo científico de cinco décadas de pesquisas desenvolvidas por cientistas brasileiros e estrangeiros na Margem Equatorial.
O pesquisador participou por muitos anos do projeto internacional chamado AMAS-SEDS (Amazon Shelf Sedimentary Studies), desenvolvido pela UFPA em cooperação com outras universidades do Brasil e até dos Estados Unidos, e que resultou em vários estudos. Ele cita ainda pesquisas conduzidas pelo professor Mamá El-Robrini, especialista na área e responsável pela criação do curso de Oceanografia da UFPA.
Esses estudos de longa data resultaram em mapas geológicos do Brasil que confirmaram o mapa geológico oficial da plataforma continental do Brasil, elaborado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB), o qual confirma a inexistência da barreira de corais no Amazonas.
Luíz Arcílio ainda explica que a plataforma continental brasileira já esteve mais de 100 metros abaixo do nível do mar atual, com variações significativas ao longo do tempo. “Durante essas oscilações, as rochas calcárias e carbonáticas foram formadas, mas isso não significa que temos uma barreira de corais comparável à da Austrália. Isso é uma “fake científica”, e reitero isso com base em mais de 50 anos de estudos sólidos e contínuos”, disse ele.
E para o cientista, a fala da diretora da Petrobrás foi coerente.
O que o pesquisador comentou sobre a apresentação do Greenpeace?
Naquela ocasião da audiência pública em 2017, a ONG projetou um mapa do que seria uma barreira de corais. Contudo, a imagem representava a plataforma carbonática, composta por rochas carbonárias da plataforma continental brasileira.
Então, nesse momento, o cientista questionou a legitimidade do mapa e o estudo de 2016 que a ONG citava nessa apresentação, já que tal estudo não possuía amostras. “ (...) eu e meus colegas da UFPA temos amostras com datações de cada ponto coletado, demonstrando que aquilo é uma área de rochas carbonáticas e não um recife de corais”, comentou ele.
Ele ainda disse ao IBAMA, naquela ocasião, que não deveriam considerar aquelas informações do Greenpeace, pois o estudo citado pela ONG sequer estava citado no EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental). O correto seria utilizar o mapa geológico oficial da plataforma continental do Brasil.
Ercílio finaliza dizendo: “Pode ter sido um recife há 10 mil anos, mas hoje é uma rocha consolidada há muito tempo. Corais vivos existem apenas na região do Nordeste brasileiro, entre o Ceará e o sul da Bahia”.
Referência da notícia:
Petronotícias. “Pesquisador apresenta os detalhes sobre como o Greenpeace espalha dados “fake” da existência de corais na Foz do Amazonas”. 2024.