Com colheita da soja antecipada e resultados ruins, produtores investem no algodão e no milho no Centro-Oeste
A colheita da soja foi antecipada no Centro-Oeste e vem mostrando resultados ruins com muitas sacas a menos por hectare. Uma saída tem sido investir no algodão e no milho, mas clima ainda preocupa.
Por influência do fenômeno El Niño que gerou um clima mais seco e mais quente nos últimos meses em boa parte do Brasil, a produção de soja caiu em um dos maiores produtores de oleaginosa no país, o que pode gerar fortes impactos no fornecimento do grão para outros estados e países que compram do Brasil.
A seca prolongada e as altas temperaturas geradas por intensas e frequentes ondas de calor provocaram quebra da safra atual, que vem sofrendo impactos desde o início do ciclo da cultura. A colheita também está sendo impactada, a qual foi antecipada em algumas áreas do estado mato-grossense segundo informações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Segundo dados da CONAB, diversos produtores relataram que o desenvolvimento das lavouras de soja ficou inviabilizado por conta da falta de chuva regular e também às temperaturas acima do normal, o resultado será uma safra de grãos menor neste ano. Muitos produtores, inclusive, estão optando em destinar muitos talhões que seriam de soja para outras culturas como o algodão, o milho e o arroz, que tem uma janela ideal de cultivo neste momento.
As perdas de produção da soja na safra 2023/24
O estado de Mato Grosso é enorme e a produção de soja deveria ser gigantesca, porém, a safra atual tende a ser 20% menor que a anterior segundo dados da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja). Em dezembro foram replantados mais de 700 mil hectares de soja por conta dos estragos gerados pelo El Niño segundo dados do Instituto Nacional Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O total de hectares destinados a soja era de 13 milhões de hectares.
Segundo a Aprosoja, Mato Grosso deve registrar uma baixa produtividade por conta da seca e do calor em um período fundamental de desenvolvimento da soja, estão previstas 49,68 sacas por hectare. Na safra 2022/23, os produtores colheram em média 62,3 sacas por hectare, é uma redução bastante expressiva e que mexe com o mercado futuro durante as negociações. Ao que tudo indica, serão produzidas 36,15 milhões de toneladas da soja, uma queda de 9,16 milhões comparada ao ano passado.
Como o estado é muito grande, a realidade dos produtores rurais também é diferente muitas vezes. Existem os produtores que de certo modo conseguiram ainda enfrentar com menores problemas esse período de El Niño. Apesar da redução, ainda tem produtor colhendo essa média de 49 sacas/ha, mas tem produtor com estimativa de colher menos de 20 sacas por hectare, ou seja, uma safra com resultado extremamente negativo e prejudicial para o bolso do agricultor, que nesses casos precisa recorrer ao seguro agrícola, que nem sempre é viável e garantia de resultado.
Como forma de amenizar os prejuízos, os produtores de soja partiram para o cultivo do algodão desde que o plantio foi liberado no estado mato-grossense, mas a chuva ainda não se regularizou de forma uniforme, o que mantém as preocupações. Recentemente choveu muito na metade norte do estado por conta da formação da última ZCAS, que em apenas 10 dias gerou mais de 200 milímetros em Querência, mais de 230 milímetros em São José do Xingu e mais de 150 milímetros em Sorriso. Porém, na metade sul do estado, o cenário foi completamente diferente.
Segundo o último boletim informativo da CONAB, mais de 75% da área destinada ao algodão já foi semeada, um avanço de 20% comparado ao mesmo período do ano passado. A irregularidade das chuvas e as altas temperaturas ainda geram preocupações no estado, e de modo geral, o milho tem tido uma perspectiva mais promissora. Até 27 de janeiro, mais de 17% da área já havia sido semeada e as pancadas de chuva têm sido suficientes para o desenvolvimento inicial dos grãos.
Com El Niño indo embora, cenário continua incerto no Centro-Oeste
Segundo o último informativo da NOAA, o El Niño segue perdendo intensidade e a estimativa é que o oceano entre em neutralidade durante o outono de 2024. Por um lado isso é positivo, pois muda o padrão de chuvas concentradas apenas sobre o Sul do Brasil, mas como a mudança acontece de forma lenta, as culturas ainda podem enfrentar períodos de estresse hídrico no Brasil Central.
Até de fato uma neutralidade ser alcançada e o padrão oceano-atmosférico ser alterado, muitas culturas de algodão e de milho em Mato Grosso ainda podem ser impactadas negativamente durante um período crucial de desenvolvimento, o que torna a safra 2023/24 ainda mais desafiadora. Ainda com um El Niño mais fraco, a projeção para os próximos dias é de chuvas sobre o centro-norte do país, o que ajuda na manutenção hídrica do solo no território mato-grossense.
Até a próxima terça-feira (06) a previsão é de chuvas espalhadas pelo Centro-Oeste devido a combinação de instabilidades em altos e médios níveis da atmosfera, e a própria combinação entre calor e umidade, que já é suficiente para gerar chuvas locais. Porém, a má distribuição das chuvas continua sendo destaque e gerando impactos diferentes nas lavouras. São esperados mais de 140 milímetros de chuva sobre a metade norte de Mato Grosso, enquanto que em boa parte de Mato Grosso do Sul, o volume de chuva pode nem chegar aos 10 milímetros.
Aliás, falando de Mato Grosso do Sul, o calor voltou a ganhar intensidade no estado que tem registrado dias consecutivos de tempo seco, sem presença de nuvens, muito sol e redução dos índices de água disponível no solo, o que acende um alerta também nos produtores de soja, milho e algodão. Lavouras em pleno desenvolvimento sofrem com estresse hídrico e térmico.
No estado de Goiás, o cenário previsto é parecido com a metade norte de Mato Grosso, em que há previsão de chuvas significativas e que mesmo com menores acumulados, já será o suficiente para a manutenção hídrica favorecendo as lavouras em desenvolvimento. Segundo dados da CONAB, cerca de 85% do algodão já foi semeado em Goiás e algumas lavouras já começaram a abrir os primeiros botões florais.
De forma um pouco mais estendida, é importante salientar a tendência de chuvas mais concentradas sobre Mato Grosso e Goiás durante esta primeira quinzena de fevereiro, o que pode até atrapalhar de forma momentânea as atividade de campo como tratos culturais e aplicação de defensivos, mas é uma chuva importante para o desenvolvimento das lavouras. Na segunda quinzena de fevereiro, a tendência é de chuvas mais volumosas concentradas apenas no extremo norte dos dois estados, ou seja, fevereiro pode ser bastante desafiador para os produtores de Mato Grosso do Sul.