Com meta de financiamento climático abaixo do esperado, COP29 termina em clima de insatisfação e descrédito

Novo financiamento anual para combate à crise climática representa cerca de 25% do valor recomendado e frustra especialistas e sociedade civil.

Plenária final da COP29
COP29 não entregou resultados satisfatórios para o financiamento climático. Crédito: UN Climate Change | Lucia Vasquez Tumi

As negociações climáticas avançaram pela madrugada e adentraram o fim de semana em Baku, no Azerbaijão. Após duas semanas intensas, a 29ª Conferência do Clima da ONU (COP29) foi concluída neste domingo (24/11) com um desfecho decepcionante. A nova meta de financiamento para combate e mitigação climática foi definida em US$300 bilhões anuais até 2035. A decisão foi recebida com críticas da sociedade civil e de países em desenvolvimento: apesar de triplicar a meta anterior (de US$100 bilhões anuais), o valor nem mesmo cobre as perdas inflacionárias do período.

Uma conclusão anticlimática para a “COP das Finanças”

O financiamento climático foi o tema central desta edição da Conferência do Clima, a ponto da COP29 ser conhecida como informalmente de “COP das Finanças”. Governos, cientistas e sociedade civil esperavam o estabelecimento de uma Nova Meta Quantificada Coletiva sobre Financiamento Climática (ou NCQG, em inglês) robusta, que atendesse às necessidades dos países mais afetados pela crise climática.

Os US$300 bilhões anuais (cerca de R$1,74 trilhão) não representam 25% do investimento adequado para medidas de mitigação e adaptação climática em nações em desenvolvimento, um valor na casa dos US$1,3 trilhão (aproximadamente R$7,5 trilhões).

Além disso, o texto final da COP29 aponta que o financiamento climático será repartido entre fontes públicas e privadas e compartilha a responsabilidade financeira com os países mais pobres, que também são aqueles que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas.

Especialistas rebatem novo financiamento climático

O anúncio da nova meta de financiamento foi feito em tom positivo, porém cauteloso, pela Organização das Nações Unidas (ONU), entidade que realiza as COPs e reúne os quase 200 países signatários da Convenção-Quadro sobre a Mudança Clima (UNFCCC).

“Essa nova meta financeira é uma apólice de seguro para a humanidade, em meio ao agravamento dos impactos climáticos que atingem todos os países”, disse Simon Stiell, Secretário Executivo de Mudanças Climáticas da ONU em nota. “Mas, como qualquer apólice de seguro, ela só funciona se os prêmios forem pagos integralmente e dentro do prazo. As promessas devem ser cumpridas para proteger bilhões de vidas.”

Uma visão bem distinta de organizações socioambientais que acompanham as Conferências do Clima. “Em Baku, vimos o futuro do nosso planeta e a dignidade de inúmeras vidas serem diminuídas ao mínimo, uma concessão a governos ricos determinados a fugir às suas responsabilidades morais e financeiras. O que foi apresentado como progresso foi, na realidade, o menor denominador comum”, afirma Andreas Sieber, líder de políticas da 350.org.

“Não avançamos na transição justa, retrocedemos em gênero, temos muito trabalho a fazer para alcançar as metas globais de adaptação e não estabelecemos compromissos concretos com o financiamento necessário para garantir a sobrevivência das pessoas e do planeta”, avalia em declaração oficial, o Geledés - Instituto da Mulher Negra.


Protesto da sociedade civil na COP29
Sociedade civil protesta contra poluidores na COP29. Crédito: UN Climate Change - Kiara Worth

Expectativas aumentam para a COP30

Com o fim de uma das Conferências do Clima mais impopulares e controversas dos últimos tempos, os olhos da comunidade global se voltam com atenção redobrada para Belém do Pará. A capital vai receber a COP30 daqui a aproximadamente um ano, em novembro de 2025. Será a primeira vez que uma cidade da Amazônia vai sediar o maior evento sobre mudança do clima no mundo.

A expectativa é que, sob a liderança do governo brasileiro, metas mais ambiciosas e concretas sejam estabelecidas nas frentes de financiamento, transição energética e de responsabilização dos países mais poluidores em resposta à crise do clima.

“A COP do próximo ano na Amazônia brasileira oferece uma oportunidade única para colocar em primeiro plano as pessoas, as soluções climáticas e a energia renovável acessível. Os povos indígenas no Brasil estão liderando o caminho, mas precisamos que o governo brasileiro siga o exemplo”, ressalta Ilan Zugman, Diretor para América Latina e Caribe da 350.org.

Referências da notícia:

(((o))) eco. Texto final da COP 29 frustra em todos os pontos. 2024

350.org. O Movimento Climático mantém-se firme enquanto as nações ricas não cumprem o financiamento climático. 2024

ClimaInfo. COP29 termina com meta insuficiente para financiamento climático até 2035. 2024

CNN Brasil. COP29 fecha acordo de US$ 300 bilhões para financiamento climático. 2024

Geledés. COP29: Setbacks and Challenges in Combating Environmental Racism. 2024

United Nations. COP29 UN Climate Conference Agrees to Triple Finance to Developing Countries, Protecting Lives and Livelihoods. 2024