Com o retorno do El Niño, aquecimento global pode ser agravado?
O El Niño é composto pelo aquecimento anômalo do Oceano Pacífico e deve se formar nos próximos meses. Mas será que esse aquecimento pode agravar também o aumento das temperaturas globais e gerar recordes de temperaturas?
O aquecimento anômalo das temperaturas superficiais do Oceano Pacífico é chamado de El Niño e tem influências nas variáveis de chuva e temperatura em escala global. No Brasil, o fenômeno pode gerar um verão mais chuvoso no Sul, bem mais quente no Sudeste e Centro-Oeste e mais seco em áreas do Nordeste. Mas será que essa composição do El Niño pode agravar o aquecimento global? Recordes de temperaturas elevadas podem ter influência direta desse fenômeno?
Segundo as projeções climáticas da NOAA em conjunção com o IRI, o El Niño está mais perto do que imaginamos e pode se formar durante o trimestre maio-junho-julho de 2023. Porém, ainda que não esteja configurado oficialmente seguindo os parâmetros estipulados pela ciência, as águas do Pacífico já estão aquecidas de forma atípica, o que traz indícios até de um super El Niño. Na área de Niño 1+2 sendo o Pacífico Leste, área mais próxima da América do Sul, segundo a atualização feita em 01 de maio, a temperatura atingiu uma anomalia de 2,4°C.
Nos últimos três anos, houve a influência do fenômeno La Niña, sendo o resfriamento da água superficial do Oceano Pacífico. Neste período o frio ganhou intensidade, chegou mais cedo e foi embora mais tarde. No Brasil, ondas de frio ganharam destaque no Sul, Sudeste e Centro-Oeste gerando geadas fortes, abrangentes e persistentes, com um episódio atrás do outro.
No Norte e no Nordeste também teve uma queda acentuada das temperaturas configurando episódios de friagem. Bom, se o La Niña gerou esse frio mais intenso nos últimos outonos e invernos, será que a próxima primavera e o próximo verão serão de extremo calor? As altas temperaturas vão se espalhar pelo Brasil e pelo mundo?
Ondas de calor atípicas
Segundo a ONU, com a formação de fenômeno El Niño nos próximos meses existe uma grande chance de elevação das temperaturas globais de forma anômala, gerando novos recordes de temperaturas com ondas de calor intensas, o que gera muitos problemas desde a saúde até as queimadas.
Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM) fez o seguinte relato: “o desenvolvimento do El Niño muito provavelmente levará a um novo pico do aquecimento global e aumentará as possibilidades de recordes de temperatura”. Na mais recente atualização da NOAA, existe uma probabilidade de 62% que esse El Niño se instale até o final de julho.
A última vez que o fenômeno se formou foi em 2018 a partir do trimestre agosto-setembro-outubro e ficou instalado até o trimestre maio-junho-julho de 2019. Depois dessa fase veio o último La Niña que durou desde o trimestre julho-agosto-setembro de 2020 até o trimestre dezembro-janeiro-fevereiro de 2023.
O calor vem aumentando
O que chama a atenção é que durante o último El Niño, as anomalias de temperatura não ultrapassaram os 0,9°C e em comparação com o cenário atual, o Pacífico Leste já tem apresentado temperaturas de 2,4°C. De modo geral, vale salientar que os últimos 8 anos foram os mais quentes da história.
Mas será que isso seria um indício suficiente para pensar em um calor atípico em escala global? Com a formação de mais um El Niño, toda a batalha por segurar o aumento das temperaturas estaria perdida? Ou seja, é fato que os seres humanos são os grandes responsáveis pelas alterações climáticas que se mostram acima dos limites de uma certa capacidade natural do planeta, mas frente a todas as leis estipuladas, todos os debates diante as projeções do IPCC pra reduzir a taxa de aquecimento, seria um novo El Niño o grande vilão do aquecimento global?
Segundo várias discussões de especialistas, é muito provável que esse retorno do El Niño e principalmente com a chance de um super fenômeno, provoque um aumento fora do normal do planeta, as temperaturas recordes podem ser um reflexo de um aquecimento global que possa exceder o limiar de 1,5°C entre os anos de 2023 e 2024.
Vale lembrar que no penúltimo El Niño, entre os trimestres setembro-outubro-novembro de 2014 e março-abril-maio de 2016, foi configurado um super fenômeno de aquecimento no Oceano Pacífico e isso ajudou a elevar a temperatura global do planeta, fazendo com que o ano de 2016 fosse o mais quente já registrado.