Com término do La Niña confirmado, como o agro deve reagir no Brasil
Após três anos sob influência do fenômeno La Niña, a NOAA confirmou que o Pacífico entrou em neutralidade climática. Vamos entender o que isso deve impactar no agronegócio em todo o Brasil daqui pra frente.
Três anos consecutivos sob efeito do fenômeno La Niña, três anos com variações climáticas impactando o agronegócio brasileiro, três anos com quebra de safras em algumas regiões mais atingidas pelo resfriamento da temperatura do Oceano Pacífico Leste e Central.
Durante os últimos três anos foram vários episódios extremos climáticos com relação às chuvas e também temperaturas. A estiagem severa no Rio Grande do Sul provocou um cenário desolador na produção agrícola, foram três safras de verão com impactos negativos do La Niña, isso porque o padrão comum do fenômeno é justamente provocar uma redução significativa das chuvas no Sul do Brasil, o que comprometeu as safras de grãos.
Outro ponto muito negativo desses três anos de La Niña foi com relação à temperatura nas estações do outono e inverno, que geraram ondas de frio intensas, duradouras e abrangentes no centro-sul do Brasil. Foram diversas geadas que atingiram áreas produtoras não só no Sul, mas também no Sudeste e no Centro-Oeste.
Lavouras de milho, cana-de-açúcar e de café foram atingidas, e o impacto negativo na produtividade foi imenso, até mesmo em áreas que não passavam por isso por mais de duas décadas, que foi o caso das lavouras cafeeiras na Alta Mogiana, Triângulo Mineiro, Sul de Minas. A área queimada por geadas foi enorme e deixou os produtores apreensivos a cada queda de temperatura que acontecia.
Neutralidade climática
Após esses três anos, a Administração Oceânica e Atmoférica Nacional (NOAA) divulgou oficialmente o término do fenômeno La Niña na quinta-feira, 09 de março. Agora entramos em uma neutralidade climática, o que não quer dizer que tudo volte ao normal e que a virada de chave já volte a beneficiar quem foi prejudicado nos últimos anos.
Inclusive, mesmo em neutralidade no Pacífico, anomalias de temperaturas estão chamando a atenção, isso por conta da mudança de temperaturas frias para temperaturas quentes, e não é um quente normal, um aquecimento anômalo das temperaturas do Pacífico Leste ganharam destaque e um novo fenômeno foi instalado: o El Niño Costeiro.
Sim, ainda não há instalação do El Niño padrão, o de escala global que mudaria muita coisa na distribuição das chuvas e comportamento das temperaturas. Porém, com o El Niño Costeiro já instalado, isso seria um indício forte que o El Niño vem por aí?
Segundo as últimas projeções feitas em conjunto pela NOAA e pelo Columbia Climate School Internacional Research Institute for Climate and Society (IRI), a neutralidade climática vai persistir durante o outono de 2023, tendo início no dia 20 de março e término em 21 de junho e o principal impacto disso seria a diminuição do risco da chegada de um frio precoce, ou seja, deve retardar a chegada das primeiras ondas de frio nesse ano. Além disso, deve reduzir também a chance de um frio extremo e risco para geadas fortes e abrangentes nas lavouras. Ao que tudo indica, teremos um outono mais quente comparado aos últimos três anos.
El Niño estará de volta esse ano
Após o período de neutralidade do Oceano Pacífico, as chances do retorno de um El Niño durante o segundo semestre desse ano aumentam, principalmente com o El Niño Costeiro já instalado. As temperaturas elevadas de forma anômala no ENSO 1+2 (Pacífico Leste) podem ser um indicativo de que o El Niño está cada vez mais próximo de se instalar, o que deve provocar impactos significativos na primavera e verão desde ano.
Ainda que durante a neutralidade, mas já com o Pacífico aquecido, a distribuição de chuva sobre as áreas produtoras do Brasil deve mudar nos próximos meses. A principal característica para a primavera é que a chuva não deve atrasar, o período úmido deve começar sem grandes modificações.
Seguindo os padrões de El Niño, são esperados os seguintes cenários:
- A chuva não vai atrasar e as temperaturas seguirão elevadas no Brasil Central, considerando áreas produtoras em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais;
- Um clima mais úmido deve se instalar na região Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul que só assim terá uma reversão por completo em seu déficit hídrico provocado pela La Niña, sendo favorável para sua próxima safra verão 2023/24;
- E por fim, com o El Niño instalado durante o segundo semestre deste ano, a próxima safra de verão no MATOPIBA corre grandes riscos de passar por uma estiagem.