Começa época de alertas para queimadas no Brasil
Tempo seco característico do outono gera preocupação com o número de queimadas. Com redução significativa das chuvas, número de focos de incêndio dispara. Mato Grosso já lidera o ranking de queimadas do ano.
O outono de 2021 começou no dia 20 de março. A estação é caracterizada pela redução brusca das chuvas pelo país, que gera diversas consequências como ar seco, diminuição da água disponível no solo, aumento da poluição e o aumento no número de focos de incêndio.
As queimadas podem acontecer o ano todo, e no Brasil os números são elevados mesmo fora do outono. Em comparação, o território brasileiro já ocupa o terceiro lugar no número de focos de incêndios registrados desde o início do ano até o momento, ficando atrás apenas de países como Venezuela e Colômbia. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já são quase 6 mil queimadas registradas no Brasil e a tendência é que esse número aumente de forma exponencial com a chegada da estação mais seca do ano.
O Brasil é conhecido por sua enorme extensão, em que muitas vezes, uma região apresenta um cenário complemente distinto de outras localidades. Dentre os estados brasileiros, o “campeão” com mais de 1200 focos de incêndio desde o início do ano até agora é o estado de Mato Grosso. Aliás, dificilmente um estado deve ultrapassá-lo no ranking com base nos anos anteriores.
Em 2020, de janeiro a março, foram mais de 2500 queimadas no estado mato-grossense, e neste ano, para o mesmo período, houve redução de 48% do número de focos segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Por outro lado, o estado da Bahia que vem em segundo lugar atrás de Mato Grosso, apresentou um aumento com relação ao mesmo período do ano passado em 71%. Em 2020, entre janeiro e março, foram registrados 382 focos de incêndio, e para este ano 654.
Outono já começa com tempo seco
A estação mais seca do ano mal começou e o volume de chuvas já diminuiu consideravelmente em boa parte do país. Com a atuação de um bloqueio atmosférico que inibe o avanço de frentes frias até o Brasil Central e um Vórtice Ciclônico em Altos Níveis (VCAN) localizado no Nordeste, o sol é que tem brilhado forte em boa parte do país. Com a falta de chuva, os índices de água no solo diminuem cada vez mais, e esta combinação entre tempo seco e quente é combustível perfeito para um foco de incêndio.
O mapa acima mostra chuva abaixo da média climatológica em boa parte do país. No Norte e no Nordeste a chuva diminui devido ao afastamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), faixa de nuvens mais carregadas que espalham chuva em áreas mais ao norte do país. As Ondas de Leste que normalmente provocam chuva no leste nordestino nesta época do ano, também não estarão tão presentes em abril. Por fim, a permanência do VCAN ajuda a manter o tempo seco no sertão e agreste.
O mesmo VCAN deve atuar e inibir a formação de instabilidades sobre o Brasil Central como por exemplo a Alta da Bolívia que fica mais afastada e não consegue provocar chuva no Centro-Oeste. Ainda sobre o Centro-Sul, é importante ressaltar a instalação de bloqueios atmosféricos que inibem o avanço de novas frentes frias. Durante esta época do ano, a corrente de jato fica concentrada entre Argentina e Uruguai, o que deve influenciar diretamente o tempo seco no Rio Grande do Sul.
Com La Niña, frio chegou mais cedo
O último relatório oficial da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) manteve o La Niña, mas o padrão começa a mudar. O Pacífico Central (Niño 3.4) permanece frio (-0.3°C), mas o Pacífico Leste (1+2) já começou a esquentar (0.9°C).
Apesar das pequenas alterações no oceano e da tendência de mudança para uma fase neutra, a atmosfera demora mais para responder a uma alteração de padrão, ou seja, nos próximos meses, características de um La Niña ainda podem ser percebidas. Uma delas é a temperatura, o frio chegou mais cedo e pode demorar mais a ir embora.
Ondas de frio podem atingir o centro-sul do Brasil já no final do mês de abril, o que pode acarretar em preocupações no agronegócio, uma vez que as baixas temperaturas e o tempo seco podem provocar geadas no milho segunda safra que foi plantado mais tardiamente entre Rio Grande do Sul, Paraná e sul de Mato Grosso do Sul.