Como as cidades vulneráveis estão se adaptando ao aumento das inundações?

Desde cidades flutuantes até parques alagáveis: várias regiões vulneráveis estão procurando formas de se adaptar ao aumento de inundações e enchentes, uma consequência clara das mudanças climáticas.

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Inundações serão cada vez mais frequentes e severas, se as emissões de gases poluentes não diminuírem desde já.

As mudanças climáticas e seus impactos ao redor do planeta já é um assunto bem conhecido e difundido na mídia. No entanto, é importante destacarmos um ponto crucial divulgado no último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC): um aumento de 1,5°C na temperatura média global levará a inundações mais severas e frequentes até 2100 em várias regiões, incluindo cidades costeiras, e a parcela da população mundial exposta a estes eventos subirá para 24%.

Se ações não forem tomadas agora, é muito provável que as emissões globais de gases de efeito estufa em 2030 causem um aquecimento acima de 1,5ºC durante o século 21, e seria muito difícil limitar este aquecimento abaixo de 2ºC.

Contudo, temos visto que a população global já vem enfrentando fenômenos significativos como esses, e a situação pode piorar. Então, várias cidades estão buscando um caminho diferente: se adaptar a isso desenvolvendo projetos para incorporar o excesso de água em suas paisagens. É projetar cidades para trabalhar com a natureza em vez de contra ela. Veja abaixo alguns exemplos:

Bangkok, Tailândia: Parques “Monkey Cheeks”:

Monkey Cheeks”, ou "bochechas de macaco”, é uma abordagem metafórica, que indica quando se tem áreas onde a água é armazenada da mesma forma que os macacos armazenam comida dentro de suas bochechas.

Centennial Park da Universidade Chulalongkorn, no centro de Bangkok
Centennial Park da Universidade Chulalongkorn, no centro de Bangkok, como uma infraestrutura verde que armazena a água da chuva. Fonte: IDEAS.TED.COM

Bangkok foi construída nas planícies aluviais do rio Chao Phraya. Uma solução para a cidade foi a trazida pela arquiteta tailandesa Kotchakorn Voraakhom. Trata-se da construção do Centennial Park, um espaço verde bem no centro da cidade, conceito que surgiu dessa ideia de “bochechas de macaco”. O parque é um oásis verdejante, localizado dentro do campus da Universidade Chulalongkorn, que conta com um amplo espaço para reuniões ao ar livre, um anfiteatro, um enorme gramado para recreação, playgrounds e até um pequeno museu.

Concluído em 2017, com cerca de 45.000 m², ele foi projetado para captar água. Construído em uma encosta, ele canaliza a água através de seus jardins e pântanos artificiais e depois para um lago de retenção. Debaixo dele, existem tanques subterrâneos capazes de armazenar até um milhão de galões de água.

China: 'cidades esponja':

Basicamente, a ideia aqui é absorver a água da chuva e retardar o escoamento pela superfície, usando processos naturais para resolver os problemas da cidade. Ela foi desenvolvida por Yu Kongjian, urbanista e professor da Universidade de Pequim. "Todas as cidades estão tentando resistir à água como um inimigo [...]. O objetivo das cidades esponja é dar mais espaço à água", disse ele à CNN.

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O ‘Qunli stormwater park’ na cidade de Harbin, norte da China, é um exemplo de uma 'cidade-esponja' bem-sucedida. Fonte: Kongjian Yu, Turenscape


O processo ocorre em três partes: primeiramente, a fonte, que assim como uma esponja com vários orifícios, tenta conter a água com vários lagos. Logo após, o longo fluxo canaliza essa água por meio de rios sinuosos com vegetação, que reduzem a velocidade da água. Por fim, um sifão, de onde a água é esvaziada para um rio, lago ou mar. O projeto conta ainda com parques infantis e campos desportivos, além de criar áreas verdes e habitats para diversos animais.

Amsterdã, Holanda: casas flutuantes

Cerca de um terço da Holanda fica abaixo do nível do mar, onde a ideia de se construir casas flutuantes vem tomando forma. Um exemplo é Schoonschip, um bairro inovador no norte de Amsterdã, construído sobre as águas e que abriga mais de 100 moradores e foi concluído em 2021.

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'Schoonschip', o bairro flutuante, sustentável e autossuficiente em Amsterdã. Fonte: Holland Circular Hotspot

As casas foram projetadas com material de baixo impacto, e com consumo ecológico de energia. Construídas com estruturas de madeira, elas são equipadas com bombas sustentáveis que armazenam calor e com painéis solares.

Além disso, os telhados são cobertos de jardins, que ajudam a resfriar o interior das casas durante o verão e a absorver a água da chuva. Um cais flexível conecta as casas entre si, bem como ao terreno. Ele é projetado para subir e descer com o fluxo da água. Além de uma forma de se adaptar às mudanças climáticas, este projeto também tem uma visão de sustentabilidade, já que reutiliza sua própria água e energia verde.

Copenhague, Dinamarca: 'parque climático' gigante

Enghaveparken, no distrito de Vesterbro, em Copenhague, é um oásis verde de mais de 90 anos, que passou por reformulações, e hoje é um dos maiores projetos de adaptação às mudanças climáticas da cidade.

Parque Enghaveparken, em Copenhague
Enghaveparken, o parque “climático” em Copenhague. É o maior projeto climático da capital dinamarquesa. Fonte: State of Green

O parque tem capacidade de reter 22.600 metros cúbicos de água, e a chuva é canalizada para o seu interior, podendo ser reutilizada. Além disso, possui instalações aprimoradas para jogos, recreação e experiências na natureza, ao ar livre.

Uma quadra de hóquei de concreto dentro do parque foi rebaixada 3 metros para conter as águas da enchente. Depois que a quadra fica cheia, a água pode fluir para um jardim de rosas submerso e, finalmente, para um lago. O parque também possui bacias subterrâneas, que captam a água da chuva. Este é mais um projeto de adaptação ao clima futuro que visa a sustentabilidade.

Independente do tipo de projeto realizado para a adaptação face às mudanças climáticas, é fato que isso se faz cada vez mais importante e necessário, já que as consequências de um mundo aquecido já estão sendo notadas em vários lugares do planeta e podem aumentar com o passar dos anos.