Como as cidades vulneráveis estão se adaptando ao aumento das inundações?
Desde cidades flutuantes até parques alagáveis: várias regiões vulneráveis estão procurando formas de se adaptar ao aumento de inundações e enchentes, uma consequência clara das mudanças climáticas.
As mudanças climáticas e seus impactos ao redor do planeta já é um assunto bem conhecido e difundido na mídia. No entanto, é importante destacarmos um ponto crucial divulgado no último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC): um aumento de 1,5°C na temperatura média global levará a inundações mais severas e frequentes até 2100 em várias regiões, incluindo cidades costeiras, e a parcela da população mundial exposta a estes eventos subirá para 24%.
Contudo, temos visto que a população global já vem enfrentando fenômenos significativos como esses, e a situação pode piorar. Então, várias cidades estão buscando um caminho diferente: se adaptar a isso desenvolvendo projetos para incorporar o excesso de água em suas paisagens. É projetar cidades para trabalhar com a natureza em vez de contra ela. Veja abaixo alguns exemplos:
Bangkok, Tailândia: Parques “Monkey Cheeks”:
“Monkey Cheeks”, ou "bochechas de macaco”, é uma abordagem metafórica, que indica quando se tem áreas onde a água é armazenada da mesma forma que os macacos armazenam comida dentro de suas bochechas.
Bangkok foi construída nas planícies aluviais do rio Chao Phraya. Uma solução para a cidade foi a trazida pela arquiteta tailandesa Kotchakorn Voraakhom. Trata-se da construção do Centennial Park, um espaço verde bem no centro da cidade, conceito que surgiu dessa ideia de “bochechas de macaco”. O parque é um oásis verdejante, localizado dentro do campus da Universidade Chulalongkorn, que conta com um amplo espaço para reuniões ao ar livre, um anfiteatro, um enorme gramado para recreação, playgrounds e até um pequeno museu.
Concluído em 2017, com cerca de 45.000 m², ele foi projetado para captar água. Construído em uma encosta, ele canaliza a água através de seus jardins e pântanos artificiais e depois para um lago de retenção. Debaixo dele, existem tanques subterrâneos capazes de armazenar até um milhão de galões de água.
China: 'cidades esponja':
Basicamente, a ideia aqui é absorver a água da chuva e retardar o escoamento pela superfície, usando processos naturais para resolver os problemas da cidade. Ela foi desenvolvida por Yu Kongjian, urbanista e professor da Universidade de Pequim. "Todas as cidades estão tentando resistir à água como um inimigo [...]. O objetivo das cidades esponja é dar mais espaço à água", disse ele à CNN.
O processo ocorre em três partes: primeiramente, a fonte, que assim como uma esponja com vários orifícios, tenta conter a água com vários lagos. Logo após, o longo fluxo canaliza essa água por meio de rios sinuosos com vegetação, que reduzem a velocidade da água. Por fim, um sifão, de onde a água é esvaziada para um rio, lago ou mar. O projeto conta ainda com parques infantis e campos desportivos, além de criar áreas verdes e habitats para diversos animais.
Amsterdã, Holanda: casas flutuantes
Cerca de um terço da Holanda fica abaixo do nível do mar, onde a ideia de se construir casas flutuantes vem tomando forma. Um exemplo é Schoonschip, um bairro inovador no norte de Amsterdã, construído sobre as águas e que abriga mais de 100 moradores e foi concluído em 2021.
As casas foram projetadas com material de baixo impacto, e com consumo ecológico de energia. Construídas com estruturas de madeira, elas são equipadas com bombas sustentáveis que armazenam calor e com painéis solares.
Além disso, os telhados são cobertos de jardins, que ajudam a resfriar o interior das casas durante o verão e a absorver a água da chuva. Um cais flexível conecta as casas entre si, bem como ao terreno. Ele é projetado para subir e descer com o fluxo da água. Além de uma forma de se adaptar às mudanças climáticas, este projeto também tem uma visão de sustentabilidade, já que reutiliza sua própria água e energia verde.
Copenhague, Dinamarca: 'parque climático' gigante
Enghaveparken, no distrito de Vesterbro, em Copenhague, é um oásis verde de mais de 90 anos, que passou por reformulações, e hoje é um dos maiores projetos de adaptação às mudanças climáticas da cidade.
O parque tem capacidade de reter 22.600 metros cúbicos de água, e a chuva é canalizada para o seu interior, podendo ser reutilizada. Além disso, possui instalações aprimoradas para jogos, recreação e experiências na natureza, ao ar livre.
Uma quadra de hóquei de concreto dentro do parque foi rebaixada 3 metros para conter as águas da enchente. Depois que a quadra fica cheia, a água pode fluir para um jardim de rosas submerso e, finalmente, para um lago. O parque também possui bacias subterrâneas, que captam a água da chuva. Este é mais um projeto de adaptação ao clima futuro que visa a sustentabilidade.
Independente do tipo de projeto realizado para a adaptação face às mudanças climáticas, é fato que isso se faz cada vez mais importante e necessário, já que as consequências de um mundo aquecido já estão sendo notadas em vários lugares do planeta e podem aumentar com o passar dos anos.