Como evitar enchentes no Brasil? Especialista propõe a criação das "cidades-esponja" ao invés de barragens
Arquiteto chinês defende a implementação de "cidades-esponja" para conter as enchentes, como as que atingiram o Rio Grande do Sul. Entenda como funciona este sistema!
A maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul completa um mês nesta quarta-feira (29). Menos de 24 horas após as fortes chuvas do dia 29 de abril, a Defesa Civil gaúcha já notificava sobre os primeiros mortos e desaparecidos registrados por conta das fortes chuvas.
Confira os números atualizados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (29):
- 471 municípios afetados;
- 2.234.630 pessoas afetadas;
- 169 mortes;
- 53 desaparecidos;
- 47.651 pessoas em abrigos;
- 581.638 desalojados;
- 806 feridos;
- 77.729 pessoas resgatadas.
Segundo a atualização desta última terça-feira (28), o nível do Guaíba está com 3,68 metros, se mantendo abaixo dos 4 metros. A principal preocupação agora é como as cidades podem se preparar para evitar ou mitigar este tipo de tragédia que ocorreu no Rio Grande do Sul.
As barragens não são capazes de suportar os eventos extremos de precipitação
De acordo com o arquiteto chinês Kongjian YU, ao invés de “lutar contra a água” é necessário investir em soluções duradouras e baseadas na natureza. Atualmente, o sistema de contenção de águas é realizado através de barragens e diques, que estão destinados a fracassar diante destas tragédias.
Tais estruturas são utilizadas para armazenar água para o abastecimento, irrigação ou geração de energia elétrica, porém, diante dos últimos acontecimentos no Rio Grande do Sul, as barragens entraram em níveis de emergência no início deste mês. No dia 2 de maio, a barragem 14 de julho rompeu parcialmente e moradores de regiões próximas ao Rio Taquari tiveram que sair das suas casas.
A barragem 14 de Julho fica localizada na Serra Gaúcha. À margem direita, ficam os municípios de Cotiporã e Veranópolis. Na margem esquerda está a cidade de Bento Gonçalves. E este caso exemplifica que as barragens não são capazes de suportar eventos extremos de chuvas, como ocorrido no Rio Grande do Sul.
"Cidades-esponja" são a solução, afirma especialista
Uma alternativa sugerida pelo arquiteto é a implementação de uma infraestrutura verde, com o intuito de realizar o balanço hídrico, mesmo que artificialmente, o mais parecido com o natural.
Nada mais que criar espaços capazes de absorver, reter e liberar a água da chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural sem causar estragos. A ideia é denominada de cidades esponjas.
Outro benefício, além de impedir inundações, é o de ser útil em períodos de seca, pois a água armazenada pode ser usada para irrigação e para manter as árvores da cidade em boas condições. Mas para que o conceito das cidades-esponja funcione corretamente, é importante levar em consideração três aspectos:
Contenção de água:
A água tem que ser retida assim que ela toca o solo, por meio de áreas permeáveis e porosas, o contrário do que é encontrado nos grandes centros urbanos, que são ruas pavimentadas. E para contenção, a cidade deve possuir lagos artificiais que ajudem o armazenamento da água, bem como telhados verdes que também podem ser usados para esse propósito.
Redução da velocidade de escoamento:
Uma das grandes dificuldades em casos de eventos extremos de precipitação é o controle do fluxo de água, ao invés de tentar canalizar a água rapidamente para longe é importante reduzir a velocidade da água a partir da criação de áreas verdes e habitats para animais. Além disso, a água escoada na superfície verde remove as toxinas poluentes, proporcionando uma espécie de filtro para o fluxo pluvial.
Absorção da água:
E a última estratégia é adaptar as cidades para que elas possuam áreas alagáveis. É isso mesmo, lugares próprios para a água escoar sem causar destruição. E estes lugares devem ser o mais natural possível e deve-se evitar a construção de residências nesta região.
Para o funcionamento pleno deste sistema é super importante expandir por várias regiões, justamente para criar uma espécie de “planeta-esponja”.