Como são as nuvens dos outros planetas do sistema solar?

Nos planetas do Sistema Solar que possuem atmosfera encontramos nuvens semelhantes às da Terra, e não só constituídas por água, mas por muitos outros compostos.

Nuvens de Júpiter
Imagem processada das nuvens de Júpiter, obtida pela sonda espacial Juno em 16 de dezembro de 2017. Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Gerald Eichtädt/Seán Doran.

Se existem nuvens em outros planetas que não a Terra? A resposta é sim. São bem conhecidas as belas imagens das diferentes atmosferas planetárias que as sondas espaciais nos fornecem há tempos. A dúvida surge, porém, ao consultar a definição de nuvem.

A Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) – autoridade máxima no assunto – em seu Atlas Internacional de Nuvens define 'nuvem' como “um hidrometeoro constituído por minúsculas partículas de água líquida ou gelo, ou ambos, suspensas na atmosfera e, portanto, geralmente não toca no chão. Elas também podem conter partículas maiores de água líquida ou gelo, bem como partículas líquidas não aquosas ou partículas sólidas de, por exemplo, gases industriais, fumaça ou poeira”.

Esta é uma definição aplicável apenas às nuvens que se formam na atmosfera terrestre. Portanto, para se referir àquelas que se formam em outros corpos celestes (planetas, satélites), ou até mesmo na Terra mas sob certas condições, as partículas que as formam não são necessariamente feitas de líquido ou água sólida, mas podem ter origem na condensação de outros gases que não o vapor d'água.

As nuvens dos gigantes gasosos

Os planetas chamados “gigantes gasosos” são Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, e devem seu nome tanto ao seu grande tamanho – comparado ao da Terra – quanto ao fato de serem compostos quase inteiramente por gases; então podemos afirmar que em cada um deles forma-se uma atmosfera gigantesca. Nessas atmosferas dominam gases como o hidrogênio e o hélio, muito mais leves que o nitrogênio e o oxigênio que constituem quase toda a atmosfera da Terra.

Nuvens de Saturno
Imagem das formas sinuosas das nuvens de Saturno, tirada pela sonda espacial Cassini a 1,2 milhão de quilômetros do planeta em 18 de maio de 2017. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

O gigantesco oceano de hidrogênio e hélio de Júpiter é completado com pequenas quantidades de compostos de fósforo e enxofre, além de metano, amônia, vapor d'água, monóxido de carbono e cianeto de hidrogênio, entre outros. As nuvens resultantes da condensação de todos esses gases apresentam tonalidades diferentes.

A rápida rotação de Júpiter faz com que os gases se distribuam latitudinalmente, formando faixas paralelas ao equador, alternando faixas esbranquiçadas com tons marrons. Intercaladas entre elas estão uma série de ovais, que são grandes sistemas de tempestades, destacando-se a Grande Mancha Vermelha.

A atmosfera de Saturno é semelhante à de Júpiter, embora a proporção de hélio (o segundo gás mais abundante depois do hidrogênio) seja menor. Também encontramos vestígios de metano, vapor d'água, amônia, propano e fosfinas, entre outros compostos gasosos. Dependendo do nível de pressão, encontramos nuvens de amônia, água e outras composições, que juntas adquirem tons amarelados.

A observação da sua velocidade de deslocamento permitiu deduzir uma das singularidades do planeta anelado: intensidades dos ventos predominantes de até 1.800 km/h, ligeiramente inferiores aos detectados na alta atmosfera de Netuno.

Uma das luas de Saturno é Titã e tem uma atmosfera densa. Na sua superfície existe um oceano de metano líquido e desenvolvem-se nuvens de grande desenvolvimento vertical, deixando para trás fortes chuvas de metano. Também se formam nuvens altas feitas de cristais de hidrocarbonetos.

Em Netuno encontramos altas nuvens de hidrogênio, hélio e metano, além de sistemas de tempestades de longa duração (formados por nuvens convectivas), semelhantes aos de Júpiter.

Para completar este rápido passeio pelas nuvens dos gigantes gasosos, ficamos com aquelas que se formam em Urano e Netuno. Em Urano, a relação hidrogênio/hélio é de 83/15, à qual devemos adicionar 2% de metano e gases traço. É a atmosfera mais fria do Sistema Solar e dependendo da altitude encontramos nuvens de metano ou cristais de gelo.

A densa cobertura de nuvens de Vênus

A superfície de Vênus permanece oculta da observação de satélites e telescópios devido à densa atmosfera que envolve o planeta. Consistindo principalmente de dióxido de carbono (CO2), encontramos espessas nuvens de ácido sulfúrico e enxofre. A pressão atmosférica na superfície é cerca de 90 vezes maior que a da Terra. A cobertura total e permanente destas espessas nuvens resulta em um poderoso efeito estufa, com temperaturas próximas de 500ºC na superfície.

Vênus
Imagem de Vênus coberto de nuvens, obtida pela sonda espacial japonesa Akatsuki em 30 de março de 2018. Crédito: JAXA.

As nuvens estão distribuídas em diversas camadas, apresentando natureza e características diferentes dependendo do nível atmosférico. A cerca de 50 km de altitude existe uma atmosfera com cerca de 5 km de espessura, formada por cristais de compostos de enxofre, cloro e ácido sulfúrico. Acima disso, e até uma altitude de cerca de 80 km, existe outro par de camadas bem definidas. Na mais baixa dessas duas misturam-se água e vários compostos ácidos muito corrosivos, como o ácido clorídrico, enquanto na parte superior delas encontramos uma névoa de dióxido de enxofre.

Nuvens marcianas análogas às da Terra

Marte é conhecido como 'Planeta Vermelho' por causa dos ferro silicatos que cobrem sua superfície empoeirada. As partículas de óxido de ferro, de cor avermelhada intensa, são arrastadas e levantadas por gigantescas tempestades de poeira que espalham esses aerossóis ferrosos por grande parte da atmosfera, turvando-a. O resultado é um céu semelhante ao que a neblina nos proporciona na Terra, principalmente quando é intensa e reduz bastante a visibilidade.

Embora falemos frequentemente de nuvens de poeira, referindo-nos tanto às do nosso planeta como às de Marte, a natureza destas nuvens (constituídas por litometeoros) é diferente daquela das nuvens que falamos neste artigo. Vistas do solo, apresentam uma cor salmão, semelhante à do crepúsculo terrestre.

A atmosfera de Marte é muito mais fina que a nossa, e a pressão na sua superfície é até 100 vezes menor. Tal como acontece com Vênus, a sua atmosfera é composta maioritariamente (95,3%) por CO2, embora o efeito estufa no planeta seja mínimo.

Nuvens de gelo em Marte
Mosaico de 3 imagens tiradas em 17 de maio de 2019 pelo rover Curiosity da NASA em Marte, nas quais nuvens filamentosas feitas de gelo (semelhantes às nuvens cirrus na Terra) são observadas a cerca de 30 quilômetros de altitude. Crédito: NASA/JPL-Caltech

Na atmosfera marciana, o vapor d'água é um gás traço minoritário, apesar do qual as condições prevalecentes favorecem a sua condensação e sublimação inversa, formando com relativa frequência nuvens com aparência e composição semelhantes às da Terra.

Temos tanto nuvens altas formadas a partir de cristais de gelo (equivalentes às nuvens cirros que se formam na Terra), quanto nuvens convectivas (nuvens cúmulos), que normalmente não atingem grandes altitudes, mas cuja formação é em grande parte ditada pela insolação. Nevoeiros e faixas de nuvens associadas às ondas gravitacionais também fazem parte do padrão de nuvens de Marte.