Conservação de araras-azuis: projeto em Goiás registra sucesso no aumento da população da espécie

Ninhos artificiais são construídos com materiais recicláveis e oferecem abrigo para araras-azuis no Cerrado.

Casal de araras-azuis registradas em projeto de conservação
Espécie vulnerável, a arara-azul é um símbolo da fauna brasileira. Crédito: Divulgação/Instituto Arara Azul

Símbolo da fauna nacional, a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é um dos animais mais afetados pelo avanço do desmatamento e de queimadas em biomas como o Pantanal e a Amazônia. A espécie é categorizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como vulnerável à extinção, porém esforços de conservação têm combatido essa realidade e aumentado a população de araras-azuis no interior de Goiás.

A partir de ninhos artificiais, construídos com materiais reciclados, as aves ganharam espaços seguros para o cuidado e desenvolvimento de filhotes, que agora repovoam essa porção do Cerrado brasileiro. Entre os municípios de Firminópolis e Aurilândia (GO), a iniciativa ambiental é conduzida pelo conservacionista e fotógrafo Nunes D´Acosta. Com ajuda de outros voluntários do projeto, ele já montou e instalou dezenas de ninhos em árvores e em outras áreas elevadas na região.

Os ninhos artificiais são confeccionados com peças e insumos encontrados nos lixões e ruas das cidades. “Casca de arroz misturado com cimento, arames velhos de cerca que não se usam mais, carcaça de tanquinho abandonada, tudo isso nós usamos”, contou Nunes D´Acosta em entrevista ao Jornal Nacional.

Ninhos artificiais substituem árvores destruídas pelas queimadas

No Cerrado e no Pantanal, as araras-azuis escolhem árvores de tronco grosso e interior macio para escavar e fazer seus ninhos naturais. Espécies vegetais nativas como o manduvi (Sterculia apetala) estão entre os abrigos preferidos dessas aves.

Instalação de ninhos artificiais
Nunes D´Acosta (à esquerda) instala ninhos artificiais para araras-azuis na natureza. Crédito: Divulgação/Nunes D´Acosta

Nas últimas décadas, contudo, as opções de árvores no ambiente ficaram mais escassas com a perda das florestas, que deram lugar aos campos de agropecuária, e o aumento de queimadas durante a estação seca. De acordo com levantamento do MapBiomas, um total de 26 milhões de hectares do Cerrado é ocupado pela agricultura, dos quais 75% são destinados ao cultivo de soja.

Após um período de adaptação, os ninhos artificiais tornam-se “lares” para a população de araras-azuis, que voltou a crescer na região em que o projeto atua. Em 20 anos da iniciativa, Nunes calcula que o número de aves da espécie tenha passado de cerca de 10 para 80 casais.

Educação ambiental é aliada na conservação das araras-azuis

Além da construção dos ninhos, o projeto de conservação de araras-azuis trabalha junto a escolas do município de Firminópolis. Entre as atividades, oficinas de educação ambiental e passeios de campo envolvem crianças e adolescentes na conscientização sobre a importância de proteger a espécie e seus respectivos habitats.

Em parceria com fazendas da região, mudas de manduvi e outras árvores estão sendo plantadas para futuramente oferecer moradias naturais às araras-azuis de Goiás.

O biólogo e especialista em aves, Tiago Guimarães Junqueira, considera que projetos como esse “vão permitir que a espécie continue a prosperar. Ele está na essência do processo, porque ele está agindo na base. Ele está agindo com reprodução e agindo na base, conscientizando as próximas mentalidades que virão”.

Saiba mais sobre as araras-azuis

As araras-azuis são aves que vivem em grupos, formando pares, famílias ou bandos. Animais muito inteligentes, destacam-se na natureza pela plumagem de cor azul-cobalto, o “anel” (perioftálmico) de amarelo intenso ao redor dos olhos, e o porte imponente. Do bico à cauda, podem medir até 1 metro e pesar até 1,3kg em idade adulta.

Arara-azul em vida livre
Araras-azuis destacam-se na natureza pela cor da plumagem e porte imponente. Crédito: Instituto Arara-Azul

Em vida livre, são encontradas no Norte e Centro-Oeste do Brasil e em países vizinhos, como Bolívia e Paraguai. A alimentação das araras é constituída em grande parte por sementes de palmeiras como o acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata), árvores pantaneiras.

O comércio ilegal de animais, a perda de habitat por queimadas, desmatamento e degradação florestal e a caça e coleta de penas para artesanato estão entre as principais ameaças às araras-azuis.

Referência da notícia:

Jornal Nacional. Projeto ajuda a aumentar a população de araras-azuis em Goiás. 2024

Jornal Opção. Conheça Nunes D’ Acosta, conservacionista goiano que faz ninho para proteção de arara-azul. 2024

Instituto Arara Azul. Arara-azul. 2024